Gomide diz que doações da JBS para sua campanha estão no TSE: “não foi caixa 2”
MARCOS VIEIRA
O vereador Antônio Gomide (PT) negou na tribuna da Câmara Municipal de Anápolis, nesta segunda-feira (22.mai.17), que sua campanha a governador de Goiás em 2014 tenha recebido dinheiro de propina da JBS, como disse um executivo da empresa em delação premiada ao Ministério Público Federal (MPF).
Gomide apresentou documento – e distribuiu cópias aos colegas e à imprensa – mostrando prestação de contas feita pela sua campanha ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que informa duas doações da JBS ao PT de Goiás, via diretório nacional do partido, no valor de R$ 950 mil cada.
“Portanto, não foi caixa 2 e muito menos para o Gomide [a doação]”, explicou o vereador. Ele frisou que a entrada dos recursos foi feita de forma legal, por transferência bancária eletrônica e com recibo eleitoral, nos dias 5 de setembro e 3 de outubro de 2014. A JBS doou ao diretório nacional petista, que por sua vez repassou os recursos à campanha goiana.
Na semana passada, veio à tona a delação do diretor de Relações Institucionais e Governo na holding J&S, empresa que controla a JBS, Ricardo Saud, afirmando que Gomide recebeu R$ 2 milhões em propina na sua campanha de governador em 2014.
Segundo o Gomide, a campanha do PT goiano naquele ano teve despesa de R$ 4,5 milhões, incluindo as candidaturas a governador, senador, deputados federais e estaduais.
Apoios
Um dos principais opositores de Gomide na atual legislatura, o vereador Mauro Severiano (PSDB), saiu em defesa do petista. O tucano subiu à tribuna para dizer que as delações premiadas estão “incentivando bandidos” no Brasil. Mauro falou que possui divergências com o colega, mas não é possível aceitar que a Justiça acredite em um diretor de um grupo que “mamou” nas tetas do governo e cometeu diversos atos ilícitos.
O vereador Jean Carlos (PTB) ressaltou que o instituto da delação premiada está “totalmente desvirtuado”. Ele comentou o fato de que os donos da JBS ganharam bilhões de reais de dinheiro do povo, fizeram um acordo e foram para os Estados Unidos, sem nenhuma punição. “Não tenho ligação política com o vereador Gomide, mas um homem demora a vida inteira construindo sua trajetória, mas aí vem a mídia e dá publicidade a um fato que o destrói em um minuto”, afirmou Jean.
Afastamento
Já o vereador Domingos Paula (PV) disse que acreditava na inocência de Antônio Gomide, porque convive com ele há vários anos, mas entendia que ele deveria pedir o afastamento da Câmara Municipal para se defender e mostrar à sociedade anapolina que não cometeu qualquer ato ilícito. “Nas ruas as pessoas têm dito que ele [Gomide] deveria se afastar”, reforçou Domingos.
Em resposta ao colega, Gomide disse que “quem não deve não teme”. “Não temos dificuldade dentro do regimento da Câmara, se for apresentada denúncia com prova, de fazer a defesa. E o presidente tem a prerrogativa de tomar essa decisão. Eu ando nessa cidade com a cabeça erguida, não tenho medo do debate e tenho documentos que mostram que essa ação é para me incriminar. Agora quem tem prova [acusando], que mostre”, frisou o vereador do PT.
O vereador Luiz Lacerda (PT) também rebateu Domingos, de forma mais incisiva. Disse que quando Domingos foi cassado, na fase de investigação e processo na Justiça, ele não optou pelo afastamento do cargo de vereador. Lacerda comentou que o colega do PV agia com oportunismo ao propor uma licença para Gomide, sendo que ele nem é investigado ou processado.
Domingos foi cassado em 2012, por abuso de poder econômico. Ele foi acusado de ter se beneficiado eleitoralmente de uma festa ocorrida no Feirão do Bairro de Lourdes. De acordo com a denúncia, Domingos teria distribuído presentes para as crianças do bairro e aproveitado para entregar também os seus panfletos políticos.