Anápolis reúne características fortes para influenciar eleição
Município de Anápolis concentra atualmente personagens políticos e características que lhe garantem um peso no pleito de 2018 bem além dos seus 260 mil eleitores
MARCOS VIEIRA
O peso de Anápolis no processo eleitoral de 2018 vai muito além dos 260.002 eleitores aptos a votar. Os atores políticos que vivem na cidade, a influência que ela exerce na região, entidades fortes, líderes religiosos atuantes e produção econômica pujante são alguns fatores que reforçam esse protagonismo nas campanhas.
Anápolis também tem significado eleitoral importante devido ao valor dado a ela pelo governador Marconi Perillo (PSDB), líder maior de um grupo de partidos que está no poder há 20 anos. Se o tucano é o nome a ser desconstruído pela oposição para que ela tenha chance de sair vitoriosa nas urnas, é preciso atacá-lo onde ele nasceu politicamente. Foi em Anápolis que o Tempo Novo surgiu, liderado pelo ex-governador Henrique Santillo. E também foi na cidade que a unidade partidária que derrotou Iris Rezende (PMDB) foi construída, através do ex-deputado federal Fernando Cunha Júnior.
A seguir, alguns fatores que dão peso a Anápolis no processo eleitoral e os eventuais rumos que cada um pode tomar na campanha deste ano.
ROBERTO NAVES
Naturalmente o prefeito é o principal líder político da cidade. Cabe a ele, por exemplo, ouvir os membros da sua base interessados em disputar eleição para deputado e, caso necessário, intervir quando achar que o ímpeto de alguns pode ferir sentimentos e atrapalhar de alguma forma a unidade que lhe ajuda na governabilidade. Por outro lado, o prefeito também pode abrir mão de participar desse debate melindroso e avisar aos líderes de partido que apoiará aqueles que forem escolhidos por cada um. Roberto Naves já disse que concorda em batalhar para que Anápolis tenha mais representantes na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal. Isso é um indicativo de que ele poderá estar presente na definição das candidaturas, defendendo aquelas com maior viabilidade nas urnas, lógico.
Mas não é apenas isso. Roberto Naves é o principal prefeito do PTB goiano, partido liderado pelo deputado federal Jovair Arantes e que tem uma grande importância na base do governador Marconi Perillo. No grande encontro do partido realizado na cidade no ano passado, ficou acertado que a composição da chapa majoritária passaria por Anápolis. Espera-se, portanto, que Roberto esteja sentado na mesa que definirá os nomes que vão para campanha com José Eliton, o candidato a governador de Marconi. Além disso, aguarda-se um ano de conclusão das obras estaduais e um plano de governo dos tucanos que considere o tamanho da importância de Anápolis.
ALEXANDRE BALDY
O ministro das Cidades tem domicílio eleitoral em Anápolis, suas empresas estão no Daia e se ele resolver pedir votos – tanto para a reeleição de deputado federal ou para outro cargo – começará por aqui. Embora siga ligado ao governador Marconi Perillo, Baldy tem construído sua carreira política de forma independente. Exemplo disso é que eleito pelo PSDB, ele decidiu se filiar ao PTN, com planos de ser um dos protagonistas na refundação do partido, hoje denominado Podemos, e com isso ter influência nos rumos da sigla no Brasil. Divergências com a presidente Renata Abreu adiaram esses planos, mas Baldy mantém sua força dentro da agremiação e ampliou seu espaço com a indicação para o Ministério das Cidades, uma articulação direta com o presidente Michel Temer e, principalmente, com o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia.
Baldy pode ser candidato a governador? Alguns defendem que sim, embora o ministro nunca decida nada da sua carreira política com tanta antecedência. Ele seria alternativa, caso José Eliton não decole nas pesquisas, ou em voo solo, seria um nome de centro para contrapor a esperada polarização PSDB-PMDB em Goiás.
RONALDO CAIADO
Embora não more em Anápolis, o senador nasceu aqui, portanto usará esse fato na hora de pedir os votos da população local. Isso coloca o diretório anapolino do Democratas em evidência no cenário estadual, pois a candidatura a governador de Caiado tem peso atualmente no jogo político, sobretudo porque o tradicional político liderou pesquisas de intenção de votos realizadas no final do ano passado. Ronaldo Caiado tem fieis aliados em Anápolis que vão ocupar espaços importantes na campanha e em um eventual governador do DEM. A candidatura do senador já mexe com o diretório local: a principal liderança na cidade, o diretor-geral da CMTT, Carlos César Toledo, disse nesta semana à Rádio Manchester que o partido pode lançar até dois candidatos a deputado estadual por Anápolis devido ao surgimento de bons nomes entre seus quadros. A estratégia evita rachas, o que seria prejudicial para os planos de Ronaldo Caiado.
ANTÔNIO GOMIDE E RUBENS OTONI
Qualquer decisão do PT em Goiás sairá de Anápolis. O deputado federal Rubens Otoni é quem cuida de colocar em prática as decisões da cúpula nacional em solo goiano. Prova disso é que a articulação de defesa do ex-presidente Lula começou pela cidade, com a inauguração promovida por Otoni de um comitê que defende o direito do petista em ser candidato a presidente da República. Também é de Anápolis o principal nome do PT caso o partido decida lançar candidato a governador: o vereador Antônio Gomide, testado nas urnas em 2014 e que alcançou 319 mil votos, pode voltar a encabeçar uma chapa majoritária ou, talvez, compor outro cargo da chapa majoritária (vice ou senador). Gomide também seria alternativa petista para tonificar a chapa de candidatos a deputado estadual. Rubens Otoni segue como o principal nome para federal.
ENTIDADES CLASSISTAS
A sociedade anapolina é composta por entidades classistas que procuram exercer certo protagonismo na vida pública. A mais emblemática delas é a Associação Comercial e Industrial de Anápolis (Acia), a mais antiga em atividade em Goiás no segmento. Os empresários que compõem a Acia costumam discutir abertamente os problemas da sociedade, fazendo cobranças diretas aos governantes. Em eleições estaduais, todos os candidatos a governador são sabatinados pela Acia – o evento acaba sendo importante devido ao grande poder de mobilização da entidade junto à mídia.
LÍDERES RELIGIOSOS
O bispo da Diocese de Anápolis, dom João Wilk, lidera os católicos em 19 cidades e embora não participe diretamente da eleição, tem poder de orientar fieis em relação às práticas políticas condenáveis para a igreja. As lideranças franciscanas também são fortes em Anápolis. Há também pastores evangélicos que lideram denominações com milhares de seguidores, com ramificações em outros municípios. Em muitas igrejas evangélicas, há a escolha da direção por uma candidatura, inclusive abrindo espaço para a apresentação de propostas durante o culto. O direito de subir no púlpito e ser ouvido por centenas de pessoas e ainda por cima avalizado pelo líder religioso é desejo de todos os candidatos.
EMPRESARIADO
Grandes nomes do PIB goiano estão em Anápolis. Embora a forma de arrecadação para as campanhas tenha mudado, ainda é importante para os candidatos terem um bom trânsito com empresas que possam abrir suas portas para a campanha, pois dentro delas há centenas de funcionários-eleitores. Em um momento que a população está rechaçando os políticos, colar a imagem a empresários bem sucedidos, gerados de emprego e renda, faz bem ao candidato.