Redes sociais: nas eleições, use com moderação

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FLÁVIO MOBAROLI

A importância das redes sociais no processo eleitoral desse ano é inquestionável. Os espaços foram invadidos e são utilizados à exaustão por candidatos e seus apoiadores, num derrame de informações, críticas e agressões que certamente contribuíram para as escolhas feitas no primeiro turno e voltarão a influenciar o eleitor até o momento do voto, no dia 26 de outubro.
E não é difícil entender o impacto que elas provocam. No Facebook, principalmente, são permitidas postagens de toda sorte, de modo que os mais desavisados acabam tomando assento em certas barcas condenadas ao naufrágio. Nas redes sociais, mentir é permitido. Mais que isso: é a ferramenta que pode fazer a diferença entre um ou outro candidato. A questão deixa de ser a tapeação física forjada nos photoshops da vida e passa a representar um problema ético e moral com influência direta na vida de milhões de brasileiros.
Na verdade, [quase] nada do que se faz nesse universo virtual significa novidade. As mentiras, as promessas descompromissadas e as ofensas são as mesmas que nos acostumamos a ouvir nos antigos comícios, nas reuniões, nos debates, e no horário eleitoral gratuito em rádio e TV. Entretanto, com a falta de regulação, de uma legislação que coíba os abusos, engana-se outrem publicamente e pouco pode ser feito. Exceto em casos isolados e/ou de grande repercussão, como manifestações de racismo, por exemplo, a conta sai de graça para a ‘malandragem’.
Lamentável que seja assim, já que o espaço tem alcance fantástico, e ainda em expansão, o que permitiria levar ideias e projetos ao conhecimento do eleitor. Mas imagino que as mentes brilhantes por trás das candidaturas se preocupem pouco com isso, ou ainda, na mesma medida que se preocupam com a população. E, dessa forma, perpetua-se a máxima de que destruir é mais fácil que construir, e consequentemente, que não basta ter êxito, é preciso saborear o fracasso do outro.
Não bastassem as agressões praticadas entre grupos adversários, a intolerância e a cegueira são outros produtos de oferta para lá de farta. Se o candidato X representa um segmento do qual você não faz parte ou com o qual você não se alinha, e se ele ou os seus seguidores manifestam aquela posição que você contesta: bummm! É o pano de fundo para discussões que de importantes e necessárias, passam a idiotas, dada à falta de civilidade para se conviver com as diferenças.
Na terça-feira (14/10), vi uma imagem de Aécio Neves – captada durante debate de TV – com um lenço no nariz, acompanhada do pobre e óbvio comentário: ‘esse menino, sempre gripado’. A triste associação feita entre o candidato tucano e as drogas deveria implicar em processo contra o autor e alguma sanção àqueles que compartilharam e curtiram a postagem. Afinal, no país mais chato do mundo com essa história do politicamente correto, fazer graça com um tema tão sério, tão devastador e próximo de todos nós, deveria ser crime.
O mesmo, ressalte-se, se aplicaria às brincadeiras de mau gosto sobre orientação sexual e assuntos como feminismo e legalização da maconha, que estão entre os mais polêmicos e recorrentes nas redes sociais e tanto bullying provocam. A opinião é pessoal e deveria ser entendida e respeitada dessa forma. Discussões são salutares, imposições, não.
Mas, como disse no início do texto, não se pode negar a importância e a crescente influência das redes sociais na formação de opinião e, no caso em questão, no auxílio à escolha dos nossos representantes. Alguns detalhes podem ajudar numa tomada de decisão mais equilibrada por parte do eleitor em geral, esse que não tem vínculo com siglas e pretende acertar nos nomes. Um deles é justamente observar quem nos fala e de que forma isso é feito. Militante é quase como um torcedor de time de futebol: apaixonado e, portanto, pouco racional e suspeito. Claro que ele tem o direito de expressar sua opinião, mas quem está do outro lado tem o dever de olhar com atenção. O tom raivoso das postagens também é sintomático. Nesse pessoal costuma ser perigoso votar.
Outro aspecto relevante é reconhecer aqueles que se consideram, ou têm certeza, de que são os donos da verdade. Desconfie de qualquer radicalismo e fuja de discussões com os xiitas da esquerda e da direita. Não é conveniente separar as coisas colocando de um lado o bem e de outro o mal. Ninguém representa exclusivamente um ou outro.
Com esses e outros pequenos cuidados, as redes sociais implicam em espaços incríveis para a projeção e discussão de ideias.
Quanta gente – antes do Twitter, do Facebook, não tinham vontade ou condição de expressar seus pensamentos? Portanto, essa mesa de boteco online é capaz de estimular as pessoas, e cabe a elas o papel da reflexão. De não se deixar levar pelo barulho que se faz ou por opiniões de terceiros só porque foram bem ‘curtidas’.
Especula-se, e essa é a tendência natural, que para os próximos pleitos redes sociais serão ainda mais decisivas. O importante é, como em todos os setores da vida, saber usá-la com moderação, entende-la com parcimônia.

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