Vazamentos consomem 40% da água produzida na cidade

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Apesar de índice parecer alto, melhora foi grande nos últimos anos: em 2009 as perdas eram de 50,94% do total; meta da Saneago é chegar a 35%

LUIZ EDUARDO ROSA

A tubulação antiga de Anápolis ainda gera grandes prejuízos para o saneamento básico. A perda de água potável chega a 40% do que é produzido, segundo a gerente do distrito da Saneago na cidade, Tânia Valeriano. Há um trabalho constante para tentar mudar essa situação. Além das obras de substituição de manilhas antigas, que inclui outros melhoramentos na rede, a empresa chega a conter 50 vazamentos diariamente, em situações comunicadas por clientes.

Além desses vazamentos visíveis, que são os casos que a água aflora no asfalto ou na calçada, há os invisíveis, geralmente fissuras em tubos enterrados no chão, em locais que dificilmente são notados por usuários. Como o abastecimento não é interrompido, pois há somente a perda de vazão, o desperdício pode perdurar por anos a fio.

Em conversa por telefone com a reportagem na última quinta-f 4000 eira (23), Tânia Valeriano contou que nos últimos seis meses foram eliminados 534 vazamentos ocultos em Anápolis. Uma equipe que faz esse tipo de trabalho conseguiu inspecionar nesse período 80 mil ligações. A proporção é de um vazamento a cada 146 ligações vistoriadas.

A localização de um vazamento geralmente é feita por um aparelho chamado geofone. Normalmente o instrumento é utilizado de madrugada, quando há menos 4000 barulhos ambientais e uma pressão hidráulica maior devido ao consumo menor de água. Pelo fone de ouvido um operador de geofone experiente consegue encontrar um de vazamento, inclusive identificado o local em que ele ocorre.

Melhora
A situação de Anápolis tem melhorado a cada ano. De acordo com estudo do instituto Trata Brasil, que reúne dados do Ministério das Cidades, especificamente do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), em 2009 o desperdício de água na cidade chegava a 50,56% daquilo que era produzido. Em 2012 esse índice já era de 44,92%. No último ano levantado, 2013, a perda chegava a 42,7%. Agora, Tânia Valeriano confirma a redução para 40%.

“Os principais fatores elencados para o agravamento deste desperdício é devido à antiguidade de parte da rede de tubulações e pelo relevo de bairros da cidade que estão diretamente ligados à pressão da água e dessa forma também causam as fissuras”, explicou a gerente da Saneago. A cidade tem canos que transportam água potável datados da década de 1940. O desgaste e rachaduras são inevitáveis com o tempo.

A questão do relevo é considerável. Há bairros que o desnível chega a 40 metros – exemplos são o Bom Sucesso e o Frei Eustáquio. A pressão gera problemas na tubulação. A meta em Anápolis é pelo menos igualar a média nacional de perda de água, de 35%. Em Goiás esse índice é de 28,8%.

Ainda segundo dados reunidos pelo Trata Brasil na pesquisa “Perdas de Água: Desafios ao Avanço do Saneamento Básico e à Escassez Hídrica”, em 2013 a perda de água em Anápolis gerava prejuízo de 43,22% no faturamento total da Saneago. O estudo é feito em cima de um abastecimento praticamente universalizado: 98,25% das residências da cidade contam com água tratada.

Nacional
O Instituto Trata Brasil aponta que as perdas sempre foram um dos pontos frágeis dos sistemas de saneamento e das empresas que operam esses serviços, independentemente de serem públicas ou privadas. Os dados de perdas no País mostram a fragilidade da gestão de grande parte do setor, ao mesmo tempo em que traz desafios às três esferas governamentais.

Os índices nacionais mostram que as perdas financeiras totais chegam a 39%, o que significa redução de dinheiro para ampliação do próprio sistema. A água não faturada pelas empresas em 2013 foi de 6,53 bilhões de metros cúbicos, perfazendo perda financeira de R$ 8,015 bilhões ao ano. Tais perdas equivalem a cerca de 80% dos investimentos em água e esgoto realizados naquele ano.

Na projeção do estudo, se em cinco anos houvesse uma queda de 15% nas perdas no Brasil, ou seja, de 39% para 33%, os ganhos totais acumulados em relação ao ano inicial seriam da ordem de R$ 3,85 bilhões. A título ilustrativo, o volume total da água não faturada é equivalente a 6,5 vezes a capacidade do Sistema Cantareira, de 1 bilhão de metros cúbicos, sem as duas reservas técnicas. Esse volume também representa 7.154 piscinas olímpicas perdidas ao dia.

Piancó
A perda da água tratada em Anápolis é uma preocupação que caminha paralela à conservação dos mananciais hídricos da região. O Ministério Público deu início no dia 7 de abril a um trabalho de conservação do Ribeirão Piancó, principal fonte de abastecimento da cidade. Estudo realizado em dezembro de 2014 constatou degradação das nascentes, desmatamento, má conservação do solo e uso irregular de captação de água para irrigação, o que pode comprometer o manancial para as gerações futuras.

Para a gerente da Saneago Tânia Valeriano, a preservação do manancial deveria ser feita em quatro etapas: cercamento de nascentes, replantio, ordenação do uso da água, com a participação de órgãos fiscalizadores e conservação do solo.
Novo encontro para tratar do assunto acontece dia 5 de maio, quando a Emater fará apresentação do projeto que já possui para as intervenções ambientais na área da Bacia do Ribeirão Piancó, a partir do qual serão delineadas as próximas ações.

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