Um dia após o outro…

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IRON JUNQUEIRA

Sair, um dia, pelo campo, numa trilha de chão batido, estreito e vermelho…
Olhando as borboletas roçando as asas amarelas, roxas, azuis acariciando flores e folhas, deve nos trazer um conforto intimo especial, pois, de tão graciosas, nos deleitam a alma…

Depois estender os olhos para o imenso escampado verde, seco, amarelo, de morros, descidas, contornos, trilhas sinuosas…
A gente para diante de um riacho a marulhar como se as águas cantassem o poema da calma e da tranquilidade…
Mas a quantidade dos passarinhos com seus trinares diferentes e gorjeios delicados também expressam tal musicalidade que nos encanta e inebria…

A brisa que vem dos montes distantes parece sussurrar carinhos aos anseios de nossa alma…
Não gosto da carícia do sol que, se nervoso, nos morde a pele e nos inquieta diante do espetáculo de luz, que se belo pela claridade que esparge, nos aborrece pelo calor com que nos beija…

E a figura distante, minúscula, do viajor solitário sobre o cavalo nos passa à mente a respeito do que estaria pensando. Nem sabe que está no cenário mais grato e lindo e calmo que há entre os homens…

Animais silvestres, pequenos e médios, passam correndo por nós, como se nos temessem… Eu não gosto dessa atitude… podiam se aproximar de nós ou nos permitir que nos achegássemos a eles. São tão engraçadinhos, com suas caras ternas, movimentos espertos, são donos de feições infantis, quando nos olham, com suas carinhas inocentes.
… E isto é quando há quarenta anos fui a um lugar assim, e onde escutei o poema do silêncio…

É o discurso profundo que se escuta no universo do silêncio e da calmaria, e a gente descobre que por trás de toda aquela quietude para lá da cortina invisível da natureza, a vida continua esfuziante e intensa, bela e cheia de mistérios…

Vidas se desenrolando de lições e aprendizados, mundos justapostos a outros e seres atravessando-se reciprocamente entre os não afins e existências fluídicas vivendo o seu desenrolar com intensidade e entendimentos ou entreveros, entre os que se acham na mesma faixa astral, tentando reconciliações e planejando labores em benefícios dos discordantes e dos que se acham desafetos…

Tudo acontece. Até crianças brincando entre si nos intervalos de suas aulas de ante preparo a que se dedicam para um dia retornarem aos cenários dos homens, onde terão que resolver todas as suas pendências…
De repente você depara com movimentos e agitações de guerra, como se fossem cenas mudas de cinema, assusta porque se decepciona pensando que a guerra prossegue tão material do outro lado.

Mas alguém se aproxima e lhe diz que não se inquiete. As cenas de guerra são formadas pelos pensamentos dos homens. Alguns recordando os tempestivos momentos em que viveram no plano físico, quando estiveram num corpo daquele… Outras imagens diferentes e estranhas são os clichês do pensamento humano que é vida, quando criados pelo pensar do poeta, do inventor, do filósofo, do homem comum. A vida prossegue mesmo quando nisto não se crê… é contínua e não nos cabe ficar limitando a grandeza da criação no resumo da nossa pequenez. Se os homens não tivessem inventado as religiões, talvez entendêssemos mais de vida e morte, porque nem uma é e nem a outra também é como se propala.

No entanto, ficamos a inventar crenças para efeito de nossos interesses e anseios de orgulho e vaidades…

Não percebem que tudo o que dizemos ser sagrado aqui é quimera, interesse e ilusão? …

Eles amansam sua fala para perecerem bons e honestos e mentem… Chegam a dizer que Jesus Cristo também precisa receber o 13º salário, como se a nossa vil moeda tivesse importância no plano celestial, e os simples acatem à solicitação dos religiosos e lhes mandem o valor pedido, por cartão de crédito nos bancos, por remessas pessoais, enquanto o mundo espiritual nem liga para tais ingenuidades…

Estão os seres que nos esperam do outro lado preocupados em nos esclarecer enquanto é agora, porque, um dia, tudo se esclarecerá, a cada qual por sua vez, mas sem a luz da verdade, ninguém tateará na escuridão.

Fecho a cortina do meu quarto, de onde eu mirava as cores da natureza e ouvia os gorjeios dos passarinhos…
O quarto se escurece e me ponho a refletir até que minha mente adormece. De manhã desperto com outras avezinhas trinando nas madeiras do telhado e oro querendo força para suportar mais um dia na vasta experiência do suceder de um dia após o outro…

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