Rachas com motos potentes somam 12 mortes na região
Grupos preferem trecho entre Brasília, Anápolis e Goiânia para fazer disputas em motos que chegam a atingir 300 km/h; em qualquer acidentes, piloto acaba se “desintegrando”
LUIZ EDUARDO ROSA
É cada vez mais comum no trecho de Anápolis da BR-060 a presença nos finais de semana de grupos de motociclistas com máquinas potentes, usadas para disputas que quase sempre ultrapassam os 180 km/h. O risco de acidente, lógico, aumenta, o que obriga a Polícia Rodoviária Federal (PRF) a realizar ações especiais de fiscalização com certa frequência.
A chamada Operação Jaspion já teve várias edições nos últimos anos. A PRF revela que o perfil do participante desses grupos é de profissionais liberais com alto poder aquisitivo, em busca de experiências de alta adrenalina.
A última Operação Jaspion da PRF aconteceu no dia 23 de maio, quando foram fiscalizadas 1018 pessoas em veículos e a partir do radar móvel, multados 2275 veículos, alguns chegando à velocidade de 206 km/h. Na ocasião foram mobilizados quatro radares móveis e 52 policiais, com apoio da Polícia Civil para casos que necessitaram da prisão do infrator.
“Estas operações devem ser bem trabalhadas previamente, pois há dificuldade com o formato da traseira das motocicletas, que deixam as placas com visibilidade precária”, aponta o inspetor chefe do Núcleo de Comunicação Social da PRF, Newton Moraes.
No balanço de todas as operações já realizadas, foram efetuadas 30 prisões, mais de 100 motos do tipo esportivas, com alto valor, apreendidas e cerca de 500 multas aplicadas por diversas irregularidades. A primeira Operação Jaspion foi realizada em 2010.
Com mais de 1000 cilindradas, essas motos atingem até 300 km/h. Nos últimos cinco anos, morreram 12 pessoas a bordo de uma máquina desse padrão, apontam registros da Operação Jaspion. “Os acidentes são fatais, em alta velocidade não há como escapar. O corpo do motociclista simplesmente se desintegra”, explica Newton Moraes. Geralmente morrem homens entre 30 e 40 anos de idade, com alto nível sócio-econômico, pois uma moto chega a custar R$ 80 mil.
A prática segue um ritual já monitorado pela PRF: os ‘jaspeiros’ se reúnem em lanchonetes na BR-060 e de lá partem para os rachas na rodovia. Geralmente o ápice da disputa é entre o trecho da rodovia entre Anápolis e Goiânia, ou com mais frequência entre Anápolis e Brasília. As redes sociais gerenciadas pelos grupos apresentam vídeos dos rachas, que acontecem geralmente nas manhãs de domingo.
O inspetor Newton Moraes alerta para que se diferenciem os ‘jaspeiros’ dos ‘estradeiros’. “Os estradeiros são grupos de motociclistas cujo maior prazer é aproveitar o percurso e fazer isso com muita cautela, com motos caras, porém em velocidade moderada”, explica Newton. Para ele, os ‘estradeiros’ se diferenciam pela idade – são mais velhos – e por levar membros da família nas viagens. Já os ‘jaspeiros’ com alusão à série televisiva japonesa da década de 1990, com o herói Jaspion, utilizam motos com características esportivas e vestidos de macacão e capacetes especiais.
Acidente
O caso mais recente de acidente envolvendo motociclista na região ocorreu no dia 31 de maio e ganhou repercussão porque foi filmado por um dos colegas da vítima, que seguia no grupo com uma câmera no capacete.
Um motociclista ficou ferido após bater na traseira de um carro na BR-060, em Alexânia. O vídeo mostra o momento em que o piloto e a moto são lançados para o ar após a colisão.
De acordo com a PRF, o motociclista, que não foi identificado, foi resgatado e levado para um hospital em Taguatinga, no DF. A corporação informou que ele sofreu somente uma fratura no braço, mas não corre risco de morte.
A colisão foi tão violenta que a motocicleta se partiu ao meio. Algumas peças se soltaram e atingiram outro piloto que trafegava pelo local. Ele teve apenas ferimentos leves. As imagens mostram ainda que o motociclista que estava registrando a viagem chega a atingir 209 km/h.