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Editorial

Só depois de um acidente automobilístico no dia 31 de maio, com vítima fatal, que algumas autoridades se atentaram que Anápolis também se transformou em destino para centenas de haitianos, assim como acontece em outras grandes cidades brasileiras.

Em reportagem publicada na edição 496, datada de 30 de abril de 2014, o Jornal Estado de Goiás já mostrava que os haitianos estavam chegando a Anápolis e aqui conseguindo trabalho. Não se tratava já naquele momento de uma novidade: esse movimento migratório teve início logo após o terremoto que devastou o país da América Central em 2010.

É preciso que os políticos locais saibam tratar o tema com a responsabilidade de alguém escolhido pelo voto popular para representar a população. Dizer simplesmente que um haitiano não deveria estar em solo brasileiro porque toma o emprego de um brasileiro é se aproximar de maneira perigosa de um discurso xenófobo e, portanto, condenável.

É óbvio que a situação fica mais delicada diante de uma crise econômica que atinge a todos, mas defender reservas de mercado em um país formado desde sua origem por estrangeiros talvez seja um caminho simplista demais. Anápolis surgiu a partir do trabalho de gente que veio de fora e ajudou a construir uma das melhores cidades da região central do Brasil.

Os haitianos buscam a sobrevivência e não devemos culpá-los por isso. Quem está em Anápolis trabalhando tem familiares vivendo em um país onde são feitas bolachas de areia porque não se tem nada para comer. Ficamos indignados quando um dos nossos sofre algum tipo de discriminação nos Estados Unidos ou na Europa. Não podemos imitar esse tratamento mesquinho e desumano.

É válida a preocupação em saber se haitianos ou qualquer outro imigrante estão com a documentação regulamentada. É necessário que estrangeiros obedeçam nossas leis, que eles respeitem nossa cultura. E que trabalhem quando demonstrarem capacidade técnica para ocupar uma função. Há outro lado nessa história: é preciso que as autoridades se atentem em relação à forma que os empregadores brasileiros estão tratamento essa nova mão de obra. Que o combate à discriminação seja o balizador desse debate que envolve, em primeiro lugar, seres humanos.

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