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MARCOS VIEIRA

Essa gente que para em fila dupla, que não respeita faixa de pedestre e que ocupa vaga de deficiente, mas que buzina e xinga se o motorista da frente fizer a mesma coisa. Essa gente que joga papel na rua, mas paga caro para que o filho tenha aula de educação ambiental na escola. Essa gente que sabe rezar só para pedir, que considera a sua religião a única e que vai à igreja para “fazer uma social”.

Essa gente que baixa o nível e mete o pau em quem tem opinião contrária no Facebook; que encaminha notícia falsa no Whatsapp e para se isentar escreve “só repassando” e que usa o Instagram de cinco em cinco minutos, até para fotografar comida. Essa gente que faz selfie, tuita e abusa de hashtag para não escrever mais do que dois parágrafos, que acredita piamente que as redes sociais são o único futuro da comunicação mundial.

Essa gente que “odeia política”, que vota de qualquer jeito, mas depois fica reclamando dos governantes. Essa gente que defende a volta da Ditadura Militar, mas que desconhece a história do Brasil de 64 a 85; que aposta no quanto-pior-melhor só para ver se quem ele apoia consegue chegar ao poder; que xinga nordestino de despreparado por preferir o PT, que chama paulista de burguês por votar no PSDB, mas que se esquece que todo mundo é brasileiro e, portanto, está numa pior.

Essa gente que ainda acha que greve de trabalhador é vagabundagem, que professor não merece um salário melhor, que nunca defende funcionário público, mesmo sabendo que a maioria é honesta e vive exatamente do que ganha. Essa gente que endeusa juiz, idolatra promotor e chama político de majestade, mas que não diz nem bom dia para o porteiro do prédio.

Essa gente que fuma maconha e que adora DVD pirata, mas depois reclama que bandido está cheio de dinheiro para comprar arma e sair por aí, barbarizando as pessoas. Essa gente que só fala mal da polícia, que arrota aos quatro ventos que não gosta da PM, mas é só ouvir um barulhinho na rua de casa e já liga 190.

Essa gente que acha que é só reduzir a maioridade penal que tudo está resolvido; que apoia a pena de morte em um País com um sistema cheio de falhas; que olha atravessado quando vê um preto, mas diz na mesa do pub que não tem preconceito. Essa gente que adora ridicularizar minorias, mas posa de moderninha e mente aberta na lojinha de cerveja importada.

Essa gente que não leu os clássicos, nem para o vestibular, porque tinha os resumos na internet, mas que cita trechos inteiros de Augusto Cury, Gabriel Chalita e baseia a carreira profissional nos ensinamento de “O Monge e o Executivo”.

Essa gente que nunca vai ler esse texto, porque ele tem 496 palavras, mas que caso chegue até aqui, para rebater, no máximo, vai clicar no emotion com cara de bravo do celular.

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