Ferrovia de festim
Editorial
Desde sua concepção, em 1987, até hoje, a Ferrovia Norte-Sul tem sido generosa com os governantes brasileiros. Poço sem fundo de recursos públicos, a via que começa em Açailândia, no Maranhão, e que um dia chegará ao litoral paulista, serve para injetar ânimo e gerar notícias ao presidente da vez.
Coube a José Sarney propor o projeto e a Fernando Henrique Cardoso dar um pequeno passo com a conclusão do trecho entre Açailândia e Porto Franco, também no Maranhão – ao todo 215 quilômetros de trilhos. Para isso foram nove anos: de 1987 a 1996. Só os EUA possuem 226 mil quilômetros de ferrovia.
Luiz Inácio Lula da Silva se dedicou ao projeto e fez mais do que os seus antecessores, mas também soube divulgar o feito. A Ferrovia Norte-Sul figurou por diversas vezes em seus programas eleitorais e em discursos de exaltação do governo.
A Norte-Sul foi o principal motivo para visitas presidenciais que em outras oportunidades nunca teriam ocorrido. A linha férrea que tem seu marco zero em Goiás no território anapolino também cobriu de esperança a economia local e foi alvo de inaugurações seguidas.
Depois de explorar tão bem a imagem de um país ‘ferroviário’, gravando um vídeo em Anápolis, na campanha passada, Dilma Rousseff decidiu conceder a Norte-Sul à exploração da iniciativa privada. Goiás pode ser contemplado com R$ 30,4 bilhões em investimentos de um total de R$ 86,4 bilhões para o País.
Em meio a uma crise econômica que o impede de investir, o governo federal resolveu criar o Programa de Investimento em Logística. O nome pomposo nada mais é do que a privatização de rodovias e ferrovias com a cláusula obrigatória do ‘novo dono’ em fazer investimentos, desobrigando o combalido cofre público que muito recebe, mas pouco quer gastar com a população.
Ao anunciar esse novo projeto, o governo federal citou a Ferrovia Norte-Sul como importante para movimentar setores expressivos da economia, embora todos saibam que sem a ligação de Goiás com São Paulo, a via perde o sentido inicial de integração nacional. O Programa de Investimento em Logística sai realmente de papel. Talvez não. Mas ao menos por ora gerou sua cota de propaganda.