Atrito com a cúpula estadual faz José de Lima sair do PDT  

Ex-deputado diz que espera se filiar em um novo partido que pode ser criado antes de 2 de outubro, não perdendo assim a primeira suplência garantida na eleição do ano passado

MARCOS VIEIRA

Depois de quase 30 anos, José de Lima está de saída do PDT. A decisão de fazer dobradinha com o deputado federal Alexandre Baldy (PSDB) na eleição do ano passado, ao invés do caminho natural de apoiar a reeleição de Flávia Morais, isolou o político de Anápolis dentro do partido que ele ajudou a fundar em Goiás.

“Não há mágoa. A gente luta a vida toda e sair é ruim”, disse José de Lima à reportagem, na quinta-feira (25), em entrevista por telefone. A decisão de mudar de sigla ficou mais evidente depois da confirmação de um novo mandato de George Morais na presidência do PDT de Goiás. O ex-prefeito de Trindade é marido da deputada que se tornou desafeta.

José de Lima quer disputar mandato de prefeito em 2016. O cargo é almejado por ele desde que entrou na vida política. Mas o quase ex-pedetista não quer perder o direito à primeira suplência conquistada em 2014, quando teve 19.516 votos na chapa formada pelo seu partido e o PMN, que elegeu Dr. Antônio (PDT) e Eliane Pinheiro (PMN).

José de Lima aguarda então a criação de um novo partido. Isso lhe possibilitaria a mudança sem perder o direito à suplência. Outra hipótese, mas remota, é o Congresso Nacional votar uma janela para que os políticos possam trocar de agremiação sem por em risco seus mandatos. O prazo legal para uma nova filiação daquele que disputará cargo eletivo no ano que vem é 2 de outubro.

E se nada disso der certo? José de Lima revelou que vai para um partido já constituído, “um partido velho”, e “larga a suplência”. Trata-se de sobrevivência política e a tentativa de disputar uma nova eleição para prefeito. “Sempre participo [da eleição municipal]. Financeiramente sou fraco, mas minha campanha é na sola do sapato. Quem sabe dá certo”, comentou o suplente de deputado.

José de Lima é irmão do presidente do PDT de Anápolis, vereador Paulo de Lima. Ele afirmou que sua saída do partido não muda em nada o relacionamento familiar. “É meu irmão, meu companheiro, mas ele tem o segmento dele, a carreira política. Não posso estragar isso”.

Mágoa

Em entrevista ao Canal Anápolis (Canal 5 da Net) na segunda-feira (22), Paulo de Lima comentou a situação do irmão dentro do PDT. Para ele, a deputada federal não teria necessidade de guardar mágoa de José de Lima, já que foi reeleita com 159 mil votos. “Político tem que aprender a não guardar mágoa. E a nossa deputada Flávia Morais está guardando uma mágoa muito grande do José de Lima. A gente fica até sentido com isso. Não tem mais necessidade, ela ganhou a eleição”, opinou o vereador.

Paulo disse que ajudou Flávia Morais em Anápolis, pedindo voto e colocando seus aliados para trabalhar pela reeleição da deputada, “sem dinheiro”, apenas cumprindo uma determinação partidária. “Eu fiquei do lado dela. Deus é testemunha”. O vereador afirmou que Flávia não esteve em Anápolis na época da eleição para pedir apoio dos filiados.

A situação de José de Lima acaba atingindo todo o diretório e o presidente municipal. A deputada federal Flávia Morais tem falado em reforçar o PDT para a disputa de vereador no ano que vem, mas sem falar diretamente com Paulo de Lima, mas sim com filiados na cidade. “Ela deveria falar comigo, que sou o presidente”, frisou Paulo de Lima.

O vereador evidenciou que o problema é com a deputada e não com o presidente regional George Morais. “Todas as vezes que os filiados [de Anápolis] conversam com ela, ela toca no assunto do José de Lima”. E segundo Paulo de Lima, o clima fica ruim principalmente porque os pedetistas anapolinos gostam do seu irmão.

Esse atrito pós-eleitoral tem feito o casal que comanda o PDT privilegiar o vereador Gleimo Martins (PTN) em Anápolis, que já trouxe para a cidade o programa de cunho assistencialista Saúde em Movimento, um ônibus que oferece exames gratuitos à população carente, inclusive com consultas feitas pelo próprio George Morais, que é médico. Filiados do PDT rechaçam uma ida de Gleimo para a sigla, embora o vereador nunca tenha cogitado essa hipótese publicamente.

Paulo de Lima revelou que sua vontade para 2016 é apoiar a reeleição de João Gomes (PDT). Atualmente o vereador é líder do prefeito na Câmara Municipal. “Essa é uma vontade minha, mas quem decide são nossos filiados”. Paulo também disse que caso a situação com José de Lima fosse resolvida, e o suplente de deputado disputasse a eleição para prefeito pelo PDT, ele teria seu apoio, de forma natural.

Por enquanto, o presidente municipal do PDT se equilibra entre uma deputada federal magoada com um dos principais nomes do partido na cidade, que por sua vez é seu irmão. O desgaste exige paciência e jogo de cintura, características de Paulo de Lima, um político que tem se mostrado aberto ao diálogo e menos passional. Por fim, há a necessidade de formação de uma chapa forte para o Legislativo.

RELEMBRE

BRIGA COM OUTRO CASAL EM 2008

Não é a primeira vez que José de Lima tem atrito com o comando do PDT. Em 2008, ele foi rifado da disputa pela Prefeitura de Anápolis por outro casal que comandava o partido em Goiás, a deputada estadual Isaura Lemos e o ex-vereador Euler Ivo – hoje ambos estão no PCdoB.

O comando estadual decidiu que o PDT apoiaria o candidato a prefeito Frei Valdair (PTB). Para isso, foi preciso que Isaura e Euler dissolvessem a comissão provisória que existia em Anápolis, anulando indicativo de candidatura própria com José de Lima. Assumiu o comando municipal naquele momento o jornalista Helvécio Cardoso, que veio de Goiânia para a intervenção.

Então a nova comissão votou entre a aliança com o PTB ou a candidatura de José de Lima, que contou apenas com o seu voto. “Eu já sabia dessa trama”, disse Lima ao usar os 10 minutos que tinha direito em uma tentativa, já infrutífera desde o início, de defender sua candidatura.

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