Os que se acovardam!

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IRON JUNQUEIRA

Ernesto, não tolerava a vida em família. Considerava a esposa nervosa e faladeira. Os filhos bulhentos e a vida doméstica cheia de problemas. Pretendeu descansar-se da mulher e filhos menores. Então, abandonou-os, indo para cidades estranhas.

Andou mundo, fugindo às responsabilidades de um chefe de família. Dentre as muitas cidades que conheceu, resolveu instalar-se numa, onde montou uma boate.

Movimentava o seu estabelecimento durante toda a noite. Durante o dia, fechava-o e não queria ser molestado por ninguém. Queria dormir e descansar das extravagâncias noturnas.

Várias mulheres agiam sob o seu comando, mas não podiam incomodá-lo durante o dia, porque estava a dormir.

Longos anos se passaram. O seu estabelecimento prosperara de maneira satisfatória. Era um mercado de perfumes e prazeres, de luxúria e concupiscência. Atravessava sua vida na fragrância dos amores perdidos. Envelhecia, amando e comandando mulheres no seu ambiente noturno, onde o vinho, o jogo e a essência dos amores rescendiam.

Apesar de estar vivendo sempre a seu gosto, Ernesto nunca encontrava a paz e a felicidade que buscava desde quando, há muitos anos atrás, abandonara esposa e filhos, no seu intento de ser feliz.

Certa vez, abria ele as portas de sua casa noturna, para iniciar o seu mercado de prazeres, quando uma mulher muito jovem, de beleza esplendorosa, penetra o recinto. Ao vê-la, Ernesto sentiu maravilhosas sensações. Seu coração pulsou apaixonado. Vibraram-se-lhe as energias. Tremeu-se-lhe o corpo.

Minutos depois, a formosa mulher compartilhava-lhe o leito acetinado, numa alcova luxuosa e reluzente…

Intrigado por que razão jovem tão bela e cheia de predicados entregara-se a semelhante condição de vida, explicou-lhe a linda mulher, respondendo-lhe às indagações:

— “Eu vivia com minha mãe e minha irmã menor. Minha infeliz genitora, muito pobre e doente, fechou os olhos para o mundo e deixou-me só, com minha irmãzinha. Esta, todavia, alguns meses depois, morrera afogada, quando brincava num rio, perto de casa.

Com apenas 15 anos, eu estava só no mundo. Ingênua, inexperiente, desprotegida, fui procurada por crápulas que abusaram da minha inocência. E quando um dia, despertei-me para a realidade, embora fosse uma menina, já não tinha a pureza do lírio…

— Você… Não tinha pai?

— Sim. Talvez até o tenha ainda hoje. Mas era um irresponsável. Acovardou-se ante os imperativos do dever perante a família e abandonou o lar, deixando-nos pequeninas e abandonadas, aos cuidados de minha mãe, pobre e enferma…

Ernesto apavorou-se! Seu corpo gelara e sua razão fugira. Compreendera a extensão de seu mal, ao ouvir aquela jovem…

…QUE ERA SUA FILHA!

*        *         *

A narração, verídica em todos os seus lances, é um dos milhares de dramas que se desenrolam no palco da vida, nascidos da imprudência e da maldade humana.

Ao mesmo tempo, é uma mensagem de alerta aos pais imprevidentes que fogem de sua responsabilidade perante o lar, em busca de supostas felicidades que julgam existir além do santuário doméstico.

O ninho familiar é reduto bendito onde as provações devem ser superadas com a perseverança no Bem, e nunca com a deserção ao dever.

O ninho familiar é reduto bendito, onde as provações devem ser superadas com a perseverança no Bem, e nunca com a deserção ao dever.

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