Pagando a conta
MARCOS VIEIRA
Chegaremos ao final do ano. Óbvio. É uma questão de tempo: 173 dias para ser exato. Ou 4.152 horas. A dúvida é como venceremos esse período. E como não moramos no sertão nordestino – onde há lugares que não chove há anos – posso assegurar que as intempéries da natureza não serão empecilhos para que completemos 2015. No máximo, por alguns dias, teremos que usar um agasalho quando esfriar e ligar o umidificador quando o ar ficar seco igual ao do deserto.
O que me preocupa é como estaremos até lá. Há uma crise econômica que fez tudo ficar mais caro. Itens essenciais como gasolina e energia elétrica estão corroendo o salário. A presidente editou medida provisória que autoriza reduzir salário. É uma alternativa contra o desemprego, mas a pior possível em um cenário de alta de preços. Tudo tem subido e aí surge uma autorização do governo para que haja corte no salário. As empresas em hipótese alguma aceitam reduzir o lucro.
Aí surge essa semana a notícia de que a China pode estar em crise. Esse é um problema nosso. Vendemos muita coisa para os chineses. Fora outras relações comerciais muito mais complexas, mas que uma vez rompidas teriam um resultado fácil de ser percebido: recessão para o Brasil.
O que incomoda é não saber se o que o governo tem feito é o correto. Porque há muito tempo a gente já sabe que aquilo dito pela cúpula em Brasília não corresponde com a realidade. Passamos 2014 ouvindo que estávamos seguros, que não haveria crise. Entramos janeiro de 2015 cientes de que teríamos muito sangue, suor e lágrimas. Alguém com credibilidade deveria vir a público dizer que o sacrifício nos salvará. Não é preciso dar certeza, já que o pessoal da economia trabalha mais com previsões, mas ao menos indicar uma luz no final do túnel.
Não resta dúvida que 2015 ficará para a história como o ano em que pagamos a conta. Alta, pesada, cheia de números incompreensíveis e desperdícios: trata-se de uma fatura que nos tem sido empurrada por decisões equivocadas de quem continua vivendo na mesma mordomia que o cargo lhe confere, sem qualquer tipo de restrição, mesmo que seja o mínimo, como por exemplo, reduzir uma xícara de café por dia ou deixar de utilizar a quantidade de água dos tempos da bonança.
A Operação Lava Jato indica que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa recebeu em propinas US$ 20 milhões de dólares. Parte da crise vem dessas cifras? Porque esse dinheiro saiu dos impostos pagos pelos brasileiros. Muita coisa só será dita ao final desse processo todo. O certo é que o ex-diretor lucrou com o esquema. Menos ou mais não faz diferença. A prisão é uma condição nefasta para qualquer ser humano, mas o certo é que a família de Costa não precisa se preocupar com crise financeira nesse 2015 do aperto de cinto.