Goianas vão representar o Brasil no jogos do Parapan-Americanos
Adria Jesus da Silva, de 32 anos, Jani Freitas Batista, de 28 anos, e Nurya de Almeida Silva, de 24 anos. O que elas têm em comum? O trio goiano vai representar o Brasil na modalidade vôlei sentado nos Jogos Parapan-Americanos que serão realizados de 7 a 15 de agosto em Toronto, no Canadá. Depois de participarem de uma rotina intensa de treinos em São Paulo, elas embarcaram neste domingo, dia 2, para o país da América do Norte.
De acordo com o técnico da seleção brasileira, José Agtônio Guedes, a expectativa é chegar à final contra os Estados Unidos, atualmente em segundo lugar no ranking mundial, atrás apenas da China. No dia 9 será a estreia contra Cuba, um clássico internacional do voleibol. Guedes foi o grande incentivador para que Adria e Jani conhecessem o esporte adaptado. A primeira sofreu um acidente de moto aos 16 anos que levou à amputação da perna esquerda. Ela estava na garupa e foi colhida por uma caminhonete. Jani também teve que amputar a perna após ser atropelada por uma carreta no acostamento de uma rodovia estadual a caminho de Posse de Goiás em 2006, quando tinha 20 anos. Ela pilotava uma motocicleta.
Adria é atualmente atendente no Detran e conheceu o esporte adaptado por acaso. “Foi mais uma coincidência. Eu era prestadora de serviço da Saneago e trabalhava pela (Associação dos Deficientes Físicos do Estado de Goiás) Adfego e um dia, por coincidência, o treinador me viu e convidou para fazer uma experiência e comecei. Eu não sabia nada. Foi uma adaptação, senti muitas dificuldades para aprender a jogar vôlei. Hoje eu me sinto uma vitoriosa pelo desenvolvimento”, orgulha-se. Ela integra a seleção há 9 anos.
“Um ano depois do acidente, vim morar em Goiânia e conheci o vôlei na Adfego e depois que conheci o Guedes ele me incentivou a apostar no vôlei em 2008″, diz Jani. Em 2009, ela foi convocada para a seleção. As duas são titulares. Em quadra, são seis em cada time. A rede é mais baixa, tem 1,05 m (enquanto a convencional é de 2,24 m) e a quadra é menor, mas as regras são praticamente as mesmas. A exceção é que não pode levantar o bumbum do chão em contato com a bola e o saque pode ser bloqueado.
“No vôlei sentado faltam atletas então, quando aparece uma que gosta de fazer esporte e tenha o domínio do toque e manchete já tem o perfil pra ir pra seleção brasileira”, explica Jani, abusando da modéstia. Ela treina três horas e meia por dia durante a semana, menos nas quartas-feiras. No currículo da dupla já tem várias competições e torneios, mas essa será a primeira vez que a categoria feminina compete no Parapan.
Nurya, agente administrativo na Saneago, se acidentou em 2012 no dia da formatura em Educação Física. O veículo em que ela estava saiu da pista na rodovia e ela fraturou a coluna. Ao comprar a órtese em uma loja ortopédica de Goiânia para auxiliar na locomoção, Nurya foi estimulada por um vendedor a conhecer o universo do modalidade paradesportiva.
“Eu acho que o esporte é tudo. É a saída para a maioria dos males tanto da mente quanto do corpo. Com o esporte você consegue superar deficiências e medos. Sempre tive o sonho de vestir a camisa do Brasil e ouvir o hino nacional. Vai ser um momento inesquecível pra mim, especialmente por que estou começando agora. Comecei no final de 2013, agora que estou mais firme um pouco. Da equipe de Goiás sou a mais nova”, conta. Atuando na posição de defesa, ela fica na reserva aguardando a oportunidade. Ela já participou de dois campeonatos brasileiros em 2013 e 2014.
Incentivo Pró-Esporte
As três atletas foram contempladas com a Bolsa Pró-Esporte do governo estadual, concedida por meio da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Seduce). Para Adria, a ajuda de custo é fundamental. “Essa bolsa é de R$750. Ajuda a manter a academia e a suplementação alimentar, por exemplo. Fiquei três anos sem trabalhar, mas neste ano pesou um pouquinho e eu tive que voltar ao mercado de trabalho. Foi até uma surpresa porque participamos de uma reunião com representantes do governo que disseram que atletas de alto rendimento que estiverem treinando para as Olimpíadas e Paralimpíadas do Rio 2016 vão ter maior incentivo. Eu tenho que dividir o meu tempo entre academia, trabalho e treino porque ainda não dá para me dedicar exclusivamente ao esporte. Infelizmente, hoje o futebol é o mais valorizado e o esporte paralímpico ainda é pouco visado e a gente fica muito feliz de saber que haverá maior incentivo até porque tudo é muito caro”, avalia.
Exemplos de superação
“Todos os dias elas nos dão uma lição de vida. Primeiramente porque passaram por uma situação em que adquiriram a deficiência. Então, é natural que elas passem por esse momento de negação principalmente quando a perda de um membro para a prática de atividade física é bastante agressiva, tanto do ponto de vista motor quanto psicológico. Essa condição da deficiência física elas já superaram e o desafio colocado em um esporte de alto rendimento e se dedicar a ele é muito grande. Isso nos motiva cada vez mais. Todas as vezes que chego para os treinos e as encontro, apesar das dificuldades da locomoção com o transporte público e também porque as próteses as machucam, elas não se abatem pela condição física que têm. Pelo contrário. Querem demonstrar na quadra que conseguem realizar muito mais tarefas do que a maioria da população brasileira que não pratica atividade física e não cuida da saúde”.
As palavras são do técnico da seleção brasileira feminina de vôlei sentado, José Agtônio Guedes. Ele começou a treinar as meninas na Adfego e hoje os treinos são realizados na Associação dos Deficientes de Aparecida de Goiânia (Adap). São nove sessões por semana, alternando entre academia e o clube de treinamento – Adap. Professor de Educação Física da rede estadual de ensino há nove anos, Guedes teve o primeiro contato com o esporte para portadores de necessidades especiais (atletismo e natação) em 2001, como estagiário na antiga Agência Goiana de Esporte e Lazer (Agel).
“Em 2003 eu conheci o voleibol sentado quando vi uma competição em São Paulo e em 2004 nós tivemos a primeira equipe de Goiás que eu comecei a treinar. Nós iniciamos o trabalho em 2004 montando as equipes masculina e feminina na Adfego. Em 2005, fui campeão brasileiro na equipe feminina. Já em 2006 aconteceu o Campeonato Mundial na Holanda e cinco atletas da minha equipe foram convocadas pra seleção brasileira”, detalha.
Disputa
Só quatro seleções foram classificadas para o vôlei adaptado feminino nos Jogos Parapan-Americanos: Brasil, Canadá, Cuba e Estados Unidos. No vôlei masculino são seis. “Hoje a nossa seleção é a quarta colocada no ranking internacional. Na América só estamos atrás dos Estados Unidos e precisamos garantir a nossa posição como segunda colocada mas também precisamos fazer bons jogos porque a expectativa é chegar à final com os EUA no dia 14 de agosto. Não sabemos o que vai acontecer, mas não seria nenhuma surpresa a vitória”. afirma.
Se depender de Adria, o time volta com a medalha de ouro pra casa. “Já participei de três mundiais, das Paralimpíadas de Londres e agora é a primeira vez no Parapan. Vamos lutar pela medalha de ouro e se chegarmos à final será com os Estados Unidos, que são a segunda melhor equipe do mundo e só perde pra China. Estamos com toda garra, vontade e ‘sangue nos olhos’”, brinca.
(Com Goiás Agora)