Mercadão: reforma e resgate

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ORISVALDO PIRES

Nem acredito que vou iniciar este artigo com este dito popular e clichê para tratar do imbróglio sobre as reformas do Mercado Municipal ‘Carlos de Pina’: ‘é impossível fazer uma omelete sem quebrar alguns ovos’. É impressionante como esta regra é válida, em todas as circunstâncias da vida, inclusive para analisar o que acontece face o desejo dos permissionários do mercado pelas obras no local, sem no entanto ter que deixar suas bancas para que as reformas ocorram. E ainda atentar para a realidade que o prédio não pode ser descaracterizado, já que foi tombado como Patrimônio Histórico.

Lembro-me bem que, em 2014, visitei o local para produzir um material jornalístico, ao lado do vereador Eli Rosa, que naquela oportunidade tentava intermediar as conversações entre os comerciantes e a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. Logo na entrada do mercado havia um bueiro de onde era exalado mal cheiro insuportável. Nem imagino como os comerciantes próximos conviviam com aquela situação.

Os sanitários também careciam de intervenção urgente. É inadmissível que um local público, de grande fluxo de pessoas, com movimentação intensa em todos os momentos do dia, mantenha banheiros naquela situação. Era constrangedor até. Sem contar que a entrada para estas instalações ficam bem próximas a boxes onde funcionam açougues. Certamente o mau cheiro exalado espantava clientes mais exigentes.

Mas, naquela oportunidade, como agora, os permissionários não admitem ter que deixar seus boxes por algum período, para possibilitar uma reforma mais profunda. Temem a perda de receita. Compreensível. Outros acreditam que uma revitalização que modernize o mercado o descaracterizaria, o local perderia seu charme. Embora do outro lado o Município entenda que se faz necessária a troca do piso, o equilíbrio maior de espaço das bancas para cada permissionário, e a organização dos boxes por produto comercializado.

Sem o consenso por parte dos comerciantes, a Prefeitura recuou em relação ao projeto inicial de reforma mais ampla, pelo visto entendendo que sua intenção em readequar o mercado teria encontrado resistência em excesso. No entanto, os permissionários insistem na cobrança por reformas, que devem ocorrer de forma pontual, longe do desejo inicial de aprofundar as obras de reestruturação do local. Mas, como trocar o piso do marcado, sem que algumas bancas tenham que se revezar na suspensão temporária das atividades? As obras no local não provocariam um certo risco a boxistas e visitantes?

Em alguma gaveta está guardada a ideia de criar opções comerciais, artísticas e culturais, para tornar o Mercado Municipal mais atrativo. Trazer de volta o público potencial que poderia frequentar este espaço para suas compras, mas que ao longo dos tempos se rendeu a outros centros comerciais mais competitivos. Esta ideia consta de apresentações de dança e música, sarais, exposições de arte, estímulo para visitas de estudantes de forma sistemática ao mercado, campanhas de divulgação, entre outros.

Seria um sonho. Mercado Municipal cheio, sempre movimentado, aumento da comercialização de produtos. Um resgate histórico, que exige equilíbrio, disposição, serenidade e desprendimento das partes envolvidas neste processo. Mas para que isso ocorra é preciso ousar, deixar para trás algum sentimento de conservadorismo. Entender que evoluir no tempo não significa perder laços históricos ou a tradição cultural. É preciso quebrar alguns ovos.

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