Ação de criminosos inexperientes aumenta as agressões em assaltos

Prática criminosa exerce pressão sobre os ‘novatos’, que muitas vezes de descontrolam e não se limitam ao roubo

LUIZ EDUARDO ROSA

‘Apenas’ assaltar já não basta. Mesmo no controle da situação e já com a posse do bem, as agressões são cada vez mais recorrentes. Embora o número de ocorrências de roubos à pessoa tenha aumentado pouco no primeiro semestre deste ano, em comparação com o ano passado, os casos de ataques e lesões aparecem com mais frequência nos relatos dos crimes. Inexiste, entretanto, um banco de dados da Polícia Civil com estatísticas atualizadas e mais detalhes para além da tipificação do crime. Essa melhoria é uma das expectativas para a segurança pública na cidade.

A tensão no momento do assalto não se limita à vítima. O criminoso também a sente. “O bandido com pouca experiência no mundo do crime fica mais nervoso e tem mais propensão a agredir a vítima ou até executá-la”, afirma o titular do 1º Distrito Policial (DP), Daniel Nunes. Por outro lado, conforme o delegado, aqueles mais experientes controlam melhor a situação e, caso a vítima não reaja ou esboce reação, costumam não agredir, tendo em vista os agravantes que a agressão ou a execução podem trazer se ele futuramente for preso e investigado.

A política atual dos bandidos é sempre buscar melhores condições e oportunidades para executar o roubo e obter um custo benefício melhor. Assim, eles buscam assaltos relacionados a bens cada vez mais caros. Esse comportamento é percebido tanto pela Polícia Civil quanto pela Polícia Militar na cidade. Em maio deste ano, o JE entrevistou o subcomandante do 3° Comando Regional da Polícia Militar, tenente-coronel Paulo Inácio, que apontou a diminuição dos crimes de furto (contra o patrimônio) e o aumento dos roubos em várias categorias.

Paulo Inácio, na ocasião, apontou a característica dos ladrões em buscar a subtração de bens mais caros, observando os riscos e a oportunidade de conseguir mais dinheiro com o patrimônio subtraído. Esse perfil também foi constatado pelo delegado Daniel Nunes. “No nosso cotidiano nos deparamos com bandidos que foram autuados e que voltam a cometer os mesmos delitos, subindo um degrau a mais nos crimes mais violentos e vantajosos”, expõe. Com os bandidos mais experimentados se dedicando a roubos mais volumosos – de carros, residências, comércio -, resta àqueles inexperientes os assaltos às pessoas.

O 1º DP responde por Vila Góis, Jardim Gonçalves, Jamil Miguel, Residencial Copacabana, Vivian Parque, Paraíso, a parte sul do Centro e o trecho à direita da Avenida Brasil. Nesta área, foram registrados no primeiro semestre deste ano 150 roubos à pessoa, 11 a mais do que no mesmo período do ano passado. Janeiro de 2015 lidera o ranking, com 35 roubos. Já de fevereiro a julho, a média oscilou entre 15 e 25 ocorrências.

Exemplo

Uma pessoa de 20 anos, que pediu para não ser identificada, moradora do setor Jardim Progresso, região norte da cidade, foi surpreendida, junto com um amigo, por quatro pessoas na noite do último sábado (8). Os bandidos roubaram os celulares das vítimas e uma delas foi agredida mesmo entregando sem resistência o aparelho aos criminosos.

“Apesar da pouca memória, devido à tensão no momento do assalto, percebi que os rapazes aparentavam ser bem jovens. Eles exigiram que entregássemos os celulares e sequer pediram outros bens, como a minha carteira”, afirma a vítima, reforçando que não houve seque esboço de reação e mesmo assim os bandidos escolheram agredi-la.

Situações

A reincidência no crime é outro fator que colabora com a violência, segundo a percepção dos casos investigados pelo delegado Daniel Nunes. “As situações criminal e penal no Brasil estão de tal forma, que após o criminoso ser autuado e preso pela primeira vez ele dificilmente deixará de cometer novos crimes”, analisa. Outro fator presentes no cotidiano do distrito é o uso de entorpecentes para realizar os crimes, de forma a controlar o estresse provocado pelo nervosismo no bandido. “Porém o que é utilizado para dar coragem pode chegar a fazer perder o controle e acabar o criminoso sendo ainda mais violento com as vítimas”, explica Daniel.

O delegado também destaca a presença de adolescentes de 15 a 17 anos nos roubos à pessoa na área do 1º DP. Ele citou como exemplo três garotas dessa faixa etária que foram apreendidas mais de 10 vezes. “Os roubos por adolescentes são cada vez mais bem organizados, já não são formas simples de proceder, até pela questão da reincidência desses jovens”, afirma Daniel.

Subnotificação

Uma das dificuldades enfrentadas pela polícia em seu trabalho é a subnotificação, ou seja, as vítimas não registrarem ocorrência. Seja pelo descrédito da ação de aprisionamento dos bandidos, ou de reaver o bem, as vítimas entendem que apesar do trauma, podem relevar a perda material. É o caso da vítima de roubo e agressão citada no texto. “No meu caso, não houve o roubo da carteira e dessa forma dos documentos também, então preferi não registrar”, explica.

O delegado Daniel Nunes destaca a importância de a vítima registrar a ocorrência, mesmo com eventual descrédito quanto a reaver o bem, por se tratar de uma fonte importante de dados. “Com as ocorrências registradas conseguimos, na prisão de um criminoso, buscar outras ações cometidas por ele, traçando uma dinâmica melhor do meliante para embasar a ação policial”, explica Daniel. Registro de câmeras e outras provas também auxiliam nas investigações de um crime em que geralmente as vítimas se encontram em grande vulnerabilidade.

 

 

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