Janela para troca partidária agita bastidores da Câmara Municipal

Partidos se preparam para disputar eleição proporcional, sempre altamente concorrida em Anápolis. No pleito de 2012, por exemplo, foram 508 candidatos a vereador

MARCOS VIEIRA

Durante a realização das sessões da Câmara Municipal, a sala usada para reuniões das comissões permanentes, em alguns momentos, fica bem mais agitada que o plenário. Na última quinta-feira (3), as conversas foram mais frequentes e ao pé do ouvido, devido ao agito criado a partir da aprovação pelo Senado, na noite anterior, de uma janela que permite aos políticos mudar de partido, sem punição, 13 meses antes do período eleitoral.

Ainda é cedo para confirmar se a medida valerá ainda esse ano. A matéria – juntamente com outras referentes à minirreforma eleitoral – retorna à Câmara dos Deputados para nova votação. Mas a primeira aprovação da janela serviu para aflorar o desejo de alguns vereadores de mudar de partido. Logo, evidencia a preocupação de alguns detentores de mandato em achar uma sigla mais confortável para a busca da reeleição, em 2016.

Não será, mais uma vez, uma disputa fácil. Entre os 23 vereadores, ao menos 20 devem buscar a reeleição – Fernando Cunha (PSDB), Eli Rosa (PMDB) e Frei Valdair de Jesus (PTB) aparecem hoje como pré-candidatos a prefeito. Trata-se de uma eleição altamente concorrida. No pleito de 2012, por exemplo, foram 508 nomes fazendo campanha em Anápolis.

Os que buscam a reeleição não são mais novidades para o eleitor, e precisam retornar aos lugares onde pediram votos com uma lista de promessas cumpridas. Se por uma lado estar exercendo um cargo confere mais visibilidade ao político, por outro o transforma facilmente em alvo daqueles que estão fora do poder, apenas criticando uma categoria que é mal vista pelo cidadão comum.

Bancada
O PT tem um desafio enorme, de ampliar uma bancada de seis vereadores. O suplente Alfredo Landim, que assumiu o cargo no lugar de Luiz Lacerda, alçado pelo prefeito João Gomes para a Secretaria de Assuntos Parlamentares, seria o sétimo nome com potencial de votos na chapa petista. A presidente municipal do partido, vereadora Geli Sanches, acredita que haverá avanços na quantidade de eleitos. “Temos muito que mostrar. O partido tem feito a diferença na nossa cidade. Temos uma Anápolis antes e depois do PT. Contra fatos não há argumentos”, comenta.

Geli acredita que se a janela for aprovada no Congresso Nacional, o PT tem mais chance de agregar nomes do que de sofrer perdas. “É uma bancada coesa, forte, por isso acredito que possamos ganhar novos valores”, comenta a vereadora e dirigente partidária.

O PT teria chamado o vereador Pedro Mariano (PP) para se filiar ao partido. Esse não seria o único convite de outras legendas feito ao pepista, que teve 3.316 votos na eleição passada, batendo um recorde histórico. Confirmada a janela, é quase certo que Pedro mudará de sigla, pois a saída do vice-governador José Eliton do PP (ele vai para o PSDB), agendada para acontecer nesse mês de setembro, gera preocupação entre os filiados. O que se fala é em perda de força e nem mesmo a chegada do senador Wilder Morais – que sairá do DEM – tem animado aqueles que vão disputar a eleição.

O histórico de votos de Pedro Mariano acaba fechando as portas em alguns partidos. Alguns não querem colocar na chapa alguém que provavelmente encabeçará a lista, ficando com talvez a única vaga conquistada pelo grupo todo. Esse é o caso do PSL, que segundo o vereador Sargento Pereira Júnior fará aliança com o PV em 2016. Ele explica que há algumas regras para entrar no partido visando a disputa eleitoral.

Critérios
Segundo Pereira, o PSL só tem três nomes que já alcançaram mais de mil votos. Figuras que já disputaram mandato só são aceitas caso tenham tido entre 300 e mil votos em outras campanhas. “Esse é o teto”, afirma o vereador. Aqueles que nunca disputaram nada, mas querem fazer parte da chapa, precisam fazer uma reunião com a direção do partido levando ao menos 100 apoiadores.

O vereador Sargento Pereira conta que esse método acabou surtindo efeito: “Nossa chapa falta apenas uns quatro para ficar completa”. Outro ‘incentivo’ dado pelo PSL para filiações é o compromisso assumido por todos de uma vez eleito, ajudar os suplentes. Segundo Pereira, o abrigo é dado através da contratação do companheiro não eleito para trabalhar no gabinete.

Para o vereador Sargento Alberto (PTN), é necessário que o partido ou coligação tenha puxadores de votos, sob pena de não conquistar nenhuma vaga. Ele lembra que já houve casos de chapas montadas com candidatos nivelados, que acabaram sem eleger ninguém. Além dele, o PTN também tem Gleimo Martins como candidato à reeleição.

Alberto conta que seu partido fez reunião essa semana, “bastante produtiva”. Segundo ele, a presidente nacional do PTN, deputada federal Renata Abreu, já determinou a reformulação do diretório goiano, já que o presidente, ex-deputado Francisco Gedda, passou longo período afastado depois de um traumatismo craniano sofrido em um acidente doméstico, no final do ano passado.

Balcão
A possibilidade de abertura da janela para troca-troca partidário não agrada alguns presidentes de partido. É o caso do vereador Paulo de Lima, que comanda o PDT na cidade. Segundo ele, a possibilidade da definição em Brasília paralisa a formação da chapa para 2016. Ele comenta ainda que se a mudança for permitida, haverá um grande balcão de negócios. Isso é tudo que a reforma política estava tentando barrar no processo eleitoral brasileiro.

Paulo de Lima lembra que o PDT elegeu dois vereadores em 2012, portanto tem obrigação de manter essa meta para o próximo ano. Logo no início do mandato, Mauro Severiano deixou o partido e se filiou ao então recém-criado Solidariedade (SD), comandado na cidade pelo deputado estadual Carlos Antonio.

O SD terá a missão de ampliar a bancada formada a partir de eleitos que vieram de outras siglas. Além de Mauro Severiano (1.589 votos em 2012), tem também Amilton Filho (2.965 votos) e Vespa (1.717 votos) – os dois últimos foram eleitos na disputa passada pelo PSC.

Inclusive, o PSC saiu da campanha de 2012 com a segunda maior bancada da Câmara Municipal. Permaneceram no partido os vereadores Jerry Cabeleireiro – que assumiu o diretório municipal – e Wederson Lopes. Jerry diz que tem trabalhado para estruturar o partido, mas que também analisará, caso a janela para trocas seja confirmada, o que é melhor para seu mandato.

Retomadas
Cuidar da própria carreira política e do partido ao mesmo tempo é uma tarefa assumida por vereadores que comandam suas legendas. É o caso, por exemplo, de Fernando Cunha (PSDB) e Eli Rosa (PMDB). Ambos podem não ser candidatos a reeleição porque estariam na disputa da chapa majoritária, mas mesmo assim carregam a missão de fazer com que dois partidos de grande porte retomem a força na Câmara Municipal.

O PSDB elegeu Fernando e Mirian Garcia em 2012, graças aos votos de candidatos do DEM, colega de chapa dos tucanos. Essa aliança possivelmente não se repetirá em 2016, portanto é preciso trazer nomes com força para ampliar a bancada de vereadores.

O PMDB teve história semelhante. A aliança com o PP que garantiu a vaga para Eli Rosa – bem votado (2.745 votos), o peemedebista corria o risco de ficar sem vaga se seu partido tivesse caminhado sozinho. Entre os 16 candidatos do PMDB, só Achiles Mendes conseguiu número de votos considerável (1.750). O terceiro da lista não rompeu a casa dos 312 votos.

A abertura da janela pode sinalizar mudanças no PTB, embora Frei Valdair tenha descartado qualquer desfiliação à reportagem na quinta-feira (3). O vereador Pedrinho Porto Rico, eleito pelo PTB e filiado ao PROS no início do mandato, também poderia estar procurando outra agremiação. É lógico que ninguém deles, como os demais colegas, confirmam a vontade de trocar de partido, embora ela seja estudada nos bastidores. O mistério faz parte do jogo político nessa fase pré-eleitoral.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *