A visão de uma pioneiro
Moradora lembra que após o fechamento da última grande fábrica têxtil, a Vila Jaiara só foi reerguida graças à força dos operários desempregados, que permaneceram no local
LUIZ EDUARDO ROSA
A Vila Jaiara foi formada essencialmente por operários da grande indústria têxtil que se instalou no local ainda na década de 1940. Filhos desses pioneiros tomaram o mesmo rumo de seus pais – enquanto a fábrica existiu – e, posteriormente, passaram para outros ramos da economia.
A comerciante Leilamar Ribeiro foi testemunha de uma Jaiara que cresceu a partir da sua vocação inicial e que se expandiu como região de influência para outros 22 bairros. Ela é enfática ao apontar como após o fechamento da última grande fábrica, e da crise financeira gerada com o desemprego, o setor foi reerguido pelos próprios ex-operários, mantendo a região economicamente ativa.
Comerciante, Leilamar, de 49 anos de idade, vivenciou ao longo de praticamente toda sua vida o crescimento da Jaiara morando e trabalhando na vila. Os avós de Leilamar chegaram em 1964 para trabalhar na Anatex, a fábrica dos empresários chineses. Leilamar chegou a trabalhar na empresa que precedeu a Anatex, a Vicunha, última grande empresa que foi o eixo econômico do bairro, com encerramento de suas atividades em 1999. “Com a queda da Vicunha, os próprios operários começaram a abrir seus negócios no ramo têxtil aqui no bairro, mantendo a vocação na região”, afirma Leilamar.
A memória de Leilamar e de outros moradores centram em torno das três indústrias têxteis que se precederam uma após outra. O aspecto operário é latente devido à força que o local de trabalho exerceu na sociabilidade e na identidade dos moradores do setor. O local da fábrica Vicunha situada a certa altura da Avenida Fernando Costa continua no linguajar popular dos moradores da Jaiara e dos anapolinos como a “região da Vicunha”.
“A Vicunha deixou um legado muito grande para o nosso setor, sua saída exerceu um impacto muito grande na cidade, pois em determinados momentos a empresa chegou a ter 5 mil funcionários diretos”, argumenta Leilamar. A Vicunha encerrou suas atividades devido a oportunidade de isenções fiscais no Estado do Ceará e falta de uma contraproposta em Goiás mais atrativa para a permanência na Jaiara.
Em 2000, Leilamar iniciou a sua própria empresa, atuando na área de sacaria (panos de prato e chão) voltado para supermercados em Anápolis e em municípios do interior goiano. Mesmo com o novo ramo de atuação, clientes anapolinos e de outras cidades procuravam na loja de Leilamar produtos do ramo de aviamentos e armarinho, o que fez ela agregar também esta vertente em sua empresa.
“Devido à vocação vinda do ramo têxtil, o comércio local vende artigos que não são encontrados nos bairros centrais anapolinos”, destaca Leilamar. Uma herança da antiga Vicunha é a qualificação profissional. O Sesi, que está localizada praticamente na entrada do setor, desempenhou este papel na formação técnica.
Crescimento
O aumento de empreendimentos imobiliários na região norte de Anápolis e o crescimento de novos bairros acabou por agregar à Jaiara instituições e serviços que cada vez mais, aos olhos de Leilamar, o tornam auto-suficiente, praticamente uma “cidade em si”. São agências bancárias, escolas, postos, faculdade, locais de lazer, supermercados, shopping e outros serviços. O crescimento populacional da região norte tornou a Jaiara um centro regional, fazendo como eixo a própria Avenida Fernando Costa. O impacto deste crescimento trouxe as melhorias, porém deflagraram duas situações que para Leilamar preocupam os moradores.
Uma deles é o trânsito, que em alguns pontos, se tornou caótico. O aumento da frota de veículos aumentou também os problemas com congestionamentos. Segundo estudos do historiador anapolino Daniel Alves, em seu artigo “Vila Jaiara: primícias da indústria têxtil em Anápolis”, a saída e entrada do bairro são centralizadas na Avenida Fernando Costa, pois desde a fundação do setor na década de 1940 foi colocado um posto fiscal. Este posto fiscal controlava a entrada e saída de produtos, conferindo se as cargas tinham devidamente pago os impostos. As ruas que adentram o bairro foram originalmente projetadas de largura estreita para facilitar o controle fiscal.
Outra questão importante para o futuro da Jaiara, como para os bairros ancorados por ela, é a autonomia política. “Infelizmente não há uma representação forte e constante dos moradores do setor, o que temos são diversos políticos que só aparecem em momento de campanha eleitoral”, explica Leilamar. O que visualiza Leilamar como futuro do setor é o estabelecimento de uma subprefeitura para que haja uma autonomia similar aos distritos de Anápolis. Mesmo com os serviços públicos contínuos atendendo a Jaiara, quando aparecem os problemas emergenciais há uma dificuldade e demora no atendimento por parte do serviço público.