Ele criou o Recanto do Sol

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“Era muito difícil de se vender um lote naquela época e quando vendia, boa parte das pessoas tinha dificuldade em quitar todas as prestações”, afirma João, que fez algumas doações

 LUIZ EDUARDO ROSA

Os proprietários de terras na faixa nordeste da cidade não imaginavam que aquela área se destinaria a uma região com grande densidade populacional. Os loteamentos na região para fins residenciais tiveram início na década de 1980, com um mercado imobiliário estacionado e que ao passar das décadas foi aquecendo. A área de 20 alqueires que hoje é o Recanto do Sol era uma fazenda de João Florentino, que após realizar a venda do terreno, também passou a empreender no ramo imobiliário. João recebeu a reportagem nesta última semana e contou em que circunstâncias a região de chácaras e fazendas foi se convertendo no atual bairro, que é referência para os setores vizinhos.

Na década de 1950, João Florentino comprou 20 alqueires de terra para criar um rebanho bovino de 200 animais. A região se situava onde ainda na época era tido como uma zona rural, devido à distância do Centro e os bairros residenciais. “Nesta região só tinha ervas assa-peixe e pés de guariroba, um cerradão que ninguém dava valor”, afirma João. Na época ele atendia a antiga estrada de ferro, era proprietário de 10 carroças que faziam o transporte de cereais e materiais da Estação Ferroviária José Fernandes Valente aos armazéns e estabelecimentos comerciais no perímetro urbano da cidade. João Florentino desempenhou a atividade durante 29 de seus 89 anos de idade.

Ao chegar o final da década de 1970, João vendeu os mesmos alqueires que destinou à sua fazenda para uma imobiliária. Com a outra parte de alqueires que ainda era de sua propriedade, ele abriu uma imobiliária, a JS Empreendimentos, comercializando a porção de 1,5 mil lotes e 25 áreas para chácaras, onde hoje se tornou o Parque Residencial das Flores, vizinho ao Recanto do Sol. Naquele período já havia alguns critérios exigidos pela prefeitura para regularização de residenciais, que eram a abertura de ruas em cascalho, implantação de meio-fio e também a venda ao Município de lotes no valor de 5% do custo comercial, a fim de construir equipamentos públicos. O Município estabeleceu como critério para regularização do Residencial das Flores a quantidade de 40 lotes, correspondendo a uma área de dois alqueires.

A compra de lotes e as ofertas, em diferentes faixas de valores, existentes no atual mercado imobiliário anapolino é muito mais aquecido do que no período em que os loteamentos do Recanto do Sol e Residencial das Flores começaram a ser vendidos, na década de 1980. “Era muito difícil se vender um lote naquela época e quando vendia, boa parte dos compradores tinha dificuldade em quitar todas as prestações”, relembra João.

Para se ter ideia, o lote no Residencial das Flores custava 299 mil cruzeiros, dividido em 40 prestações de 10 mil cruzeiros. Segundo informações de João Florentino, o valor total do lote seria algo nos dias atuais como R$ 1 mil. Um dos episódios recordados por João é o de quando uma família com pai, mãe e quatro filhos comprou um dos lotes. Passados seis meses, o pai faleceu e a mãe preferiu entregar o terreno por não conseguir pagar por estar desempregada. João ao perceber que a família praticamente ficaria na rua, por não haver grande oferta de casas na época, preferiu doar o terreno.

João Florentino se diz assustado com a valorização dos preços dos lotes nas proximidades do Recanto do Sol, em que constatou a partir de uma compra recente em que ofereceu R$ 10 mil para ser pago no prazo de 10 dias em dois alqueires no ano 2000. Por razões de dar a vez na compra a um conhecido que também era da região, o mesmo acabou por perder o prazo e também o valor estabelecido. Ao buscarem informações para fazer outra proposta para a compra do terreno, constaram que os dois alqueires foram vendidos no valor de R$ 2 milhões a uma imobiliária em Anápolis.

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