Zika vírus coloca sob alerta a rede de saúde de Anápolis

Marcelo Daher 07,11,14 (18)

Enquanto nas crianças o Zika vírus provoca a microcefalia, pelo menos essa é a suspeita, nos adultos pode se instalar a síndrome de Guillain-Barré, uma doença que é auto-imune

LUIZ EDUARDO ROSA

Em um ano com mais de 10 mil notificações de casos de dengue em Anápolis, a notícia de que o Aedes aegypti também transmite o Zika, e que o vírus estaria ligado a centenas de casos de microcefalia no nordeste brasileiro, embora Goiás tenha três ocorrências sob investigação, tem servido para assustar ainda mais a população. Para a rede municipal de saúde, apesar de a doença aparecer com mais frequência em bebês de outros estados, a situação já é de alerta, principalmente pelo fato de ainda não haver forma de tratamento certificada.

Os quadros considerados alarmantes tanto pela Organização Mundial de Saúde (OMS), quanto no Brasil, pelo Ministério da Saúde, apresentam um crescimento vertiginoso dos casos de ataque do Zika vírus. Dentro de uma semana os casos confirmados no País saltaram de 240 para mais de 900 casos, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) acerca do contexto nacional. “Nós não sabemos ao certo a dimensão do problema e nem sequer quando conseguiremos controlar a doença”, afirma o assessor técnico da Semusa, o médico infectologista Marcelo Daher.

Em Goiás até o momento, são sete casos em investigação de contágio de Zika vírus e três casos de bebê com microcefalia em Rio Verde, Goiás e Pirenópolis, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Em uma coletiva de imprensa concedida na última sexta-feira de novembro (27) pelo titular da SES, Leonardo Vilela, ele colocou que na literatura médica não há uma correlação direta do Zika vírus com a microcefalia, porém a partir dos casos crescentes percebe-se que em grande parte a mãe na gestação não apresenta sintoma algum, natureza muito próxima da forma como se manifesta o vírus nas vítimas.

Enquanto nas crianças o Zika vírus tem provocado microcefalia, pelo menos essa é a suspeita, nos adultos pode se instalar a síndrome de Guillain-Barré, doença que ataca a o sistema nervoso provocando dores em várias partes do corpo e que leva à fraqueza muscular. A síndrome atua de forma auto-imune, ou seja, os anticorpos da pessoa atacam o próprio sistema nervoso por engano. Uma das características que dificulta o diagnóstico da doença é que 80% das pessoas que contraem o vírus não manifestam nenhum sintoma, entre estas as mães gestantes. Nos outros 20% em que se manifestam os sintomas, eles aparecem após aproximadamente dez dias. “É complexo porque não há um exame sorológico fácil e acessível; e só é feito depois de cinco dias da doença”, explica Marcelo Daher.

As primeiras manifestações do Zika vírus se deram no continente africano e em países asiáticos. Marcelo Daher levanta um dado presente em portais especializados na área de saúde, de que a maior tese é que o vírus se disseminou na época da Copa do Mundo de 2014, na qual turistas destas áreas continentais possam ter disposto o vírus para o mosquito transmissor da dengue, que a partir daí passou a proliferar o contágio.

Cuidados

Os sintomas que o Zika vírus apresenta são febre, dor nas articulações e músculos, além de conjuntivite (olhos avermelhados) e manchas vermelhas na pele. Apesar de não haver uma circulação do vírus em Goiás como está ocorrendo nos Estados da região nordeste, as redes estadual e municipal de saúde aumentaram os procedimentos de atenção aos casos com suspeita de ação do vírus. A SES instituiu através de portaria tornando obrigatória a notificação de casos suspeitos. “Não há outro caminho senão os entes federativos tomarem medidas severas no combate do mosquito transmissor Aedes aegypti”, aponta Marcelo.

Em Anápolis, são cerca de 5 mil casos de dengue e 10,4 mil notificações somente neste ano. Já em relação ao Zika vírus, foi constatado caso de uma família que passou as férias no Rio Grande do Norte e que percebeu os sintomas em junho de 2014. “Como estamos perdendo de goleada para o mosquito vetor devido à falta de cuidados nas residências com os criadouros, nas férias um dos maiores destinos são as praias nordestinas, com isso se pode esperar que as pessoas tenham o contágio do Zika vírus e ao regressarem desencadeiem um quadro de epidemia em Goiás”, alerta Marcelo Daher.

Um quadro de impotência perante a situação por parte do poder público paira sobre a questão das gestações e os riscos de mais casos de microcefalia. “Não podemos simplesmente pedir às mulheres que elas não engravidem por enquanto”, afirma Marcelo. Para as mulheres grávidas, o Ministério da Saúde recomenda que se faça o uso de repelentes adequados e sem exagero, utilizar ao máximo blusas com mangas longas e colocar o quadro de vacinas necessárias em dia. No caso da microcefalia, as crianças nascem com o cérebro menor, retardando o desenvolvimento e outras funções locomotoras. (Com reportagem de Fernanda Morais)

 

 

 

 

 

 

 

 

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