Punição dura para quem não acaba com foco do mosquito
O que o poder público alega em todo o Brasil é que sem o empenho da sociedade, qualquer iniciativa para tentar acabar com o mosquito é impossível de alcançar o mínimo de sucesso
LUIZ EDUARDO ROSA
Em um cenário nacional alarmante em relação à escalada dos casos de dengue, zica e chikungunya, a Prefeitura de Anápolis tem apontando que é preciso que exista a colaboração da população para conter a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor das três doenças.
O que o poder público alega em todo o País é que sem o empenho da sociedade, qualquer iniciativa é impossível de ter sucesso. Hoje o mais comum é observar o inverso: ao invés de eliminar criadouros, grande parte da população insiste em jogar lixo nas ruas e na própria casa, criando mais possibilidades de proliferação do mosquito.
Um grupo intersetorial composto por órgãos públicos e por entidades de classe vai propor e executar ações mais intensas no combate ao Aedes aegypti. Em reunião na sexta-feira (11), uma das ações primordiais que foram propostas é a alteração da lei de combate ao mosquito, efetivando ao agente de endemia o poder de lavrar multas e, inclusive, aumentando o valor delas.
Participaram do encontro no Cais Mulher, no Maracanã, as secretarias municipais de Meio Ambiente, de Saúde, a Procuradoria-Geral do Município e a Câmara Municipal. Também estiveram presentes entidades de classe como a Associação Comercial e Industrial de Anápolis (Acia) e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Também esteve presente a Base Aérea de Anápolis. O grupo foi criado a partir de um decreto municipal para que as ações sejam cada vez mais intensas no combate à dengue.
“Os mutirões realizados pela equipe de endemias acabam cada vez mais surtindo um efeito contrário na população, no sentido de relegar o papel de combate ao mosquito apenas ao poder público”, explica gerente de Controle de Doenças Transmitidas por Vetores, Érica Reis. Ela explica que o comportamento de grande parte dos moradores está tão despreocupada, que caso o setor receba periodicamente os mutirões, ao invés de se conscientizarem, estão deixando que o manejo dos locais de criatório do mosquito seja feito somente pela prefeitura. Baseado na experiência dos últimos anos pelos agentes de endemias, Érica aponta que 80% dos moradores visitados pelos profissionais não apresentam nenhuma ação de manejo dentro de suas residências.
O costume de grande parte dos moradores é depositar entulhos ou lixo em grande volume em um terreno baldio ou em áreas abertas, na porta de vizinhos, situação detectada pelos agentes de endemias. “O raio garantido de ação do mosquito vetor é de três quilômetros, então esse descarte irregular não afasta o problema”, explica Érica. Os principais criatórios do mosquito encontrados na cidade pelos agentes são pneus, caixas d’água e entulho.
Multa
Uma das ações centrais articuladas no grupo é a operacionalização das multas já propostas por leis municipais. Apesar de haver ajustes finais no sentido de qual órgão ou agente aplicará a penalidade, há algumas sugestões levantadas no grupo intersetorial no sentido de aumentar o valor e também de que a infração deve estar ligada ao CPF da pessoa.
As multas atuais, segundo a quantidade de criatórios flagrados, vão de R$ 180 a R$ 720. O valor máximo leva em conta a existência de sete criatórios do mosquito Aedes aegypti na mesma residência. “O pior de tudo é que novamente entendemos que a parte mais sensível da população é o bolso, mesmo em situações tão graves como essa”, explica o secretário municipal de Saúde, Luiz Carlos Teixeira.
Para o grupo, alguns trabalhos já realizados pela Secretaria Municipal de Saúde devem se tornar obrigatórios. Um deles é o recolhimento de pneus em borracharias. O grupo intersetorial quer articular com o Legislativo propostas de leis que torne obrigatório o descarte de pneus em pontos estipulados pelo Município.
Casos
Em um ano com mais de 10 mil notificações de casos de dengue em Anápolis, a notícia de que o Aedes aegypti também transmite o zika, e que o vírus estaria ligado a centenas de casos de microcefalia no nordeste brasileiro, tem servido para assustar ainda mais a população. Para a rede municipal de saúde, apesar de a doença aparecer com mais frequência em bebês de outros estados, a situação já é de alerta, principalmente pelo fato de ainda não haver forma de tratamento certificada.
“Nós não sabemos ao certo a dimensão do problema e nem sequer quando conseguiremos controlar a doença”, afirmou ao JE na edição passada o assessor técnico da Semusa, o médico infectologista Marcelo Daher.
Enquanto nas crianças o Zika vírus tem provocado microcefalia, pelo menos essa é a suspeita, nos adultos pode se instalar a síndrome de Guillain-Barré, doença que ataca a o sistema nervoso provocando dores em várias partes do corpo e que leva à fraqueza muscular.