Força-tarefa contra dengue foca bairros mais afetados

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Arco Verde (2)

Estado com maior número de casos de dengue no Brasil em 2015, Goiás atravessa um período classificado como emergência em saúde pública; são 180 dias de ação intensa

 MARCOS VIEIRA

Estado com maior número de casos de dengue no Brasil em 2015, Goiás atravessa um período classificado como emergência em saúde pública. De acordo com a coordenadora do Centro de Controle de Doenças Transmitidas por Vetores da Prefeitura de Anápolis, Érica Reis, são 180 dias de intensificação dos trabalhos de combate ao mosquito Aedes aegypti, que também transmite a chikungunya e o zica vírus.

Em entrevista ao Canal Anápolis (Canal 5 da Net) nesta última semana, Érica Reis explicou que esse trabalho mais intenso de tentativa de reduzir os focos do Aedes aegypti está acontecendo desde o ano passado na cidade, mas algumas medidas mais severas serão tomadas neste início de ano, quando a chuva fica mais constante e acaba facilitando a proliferação do mosquito. Apesar dos esforços do poder público, a profissional é bem clara: “Sem a população o nosso trabalho não é efetivo”.

A coordenadora anuncia que no dia 20 de janeiro, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Polícia Militar, Vigilância Sanitária e Departamento de Posturas vão trabalhar juntos com o Centro de Controle de Doenças Transmitidas por Vetores em bairros onde há maior incidência da doença.  “Que o morador abra a porta, deixe a saúde entrar no seu domicílio e retire a moradia do mosquito”, comenta.

Érica Reis explica que são quatro ciclos, com quatro bairros escolhidos para atuação da força-tarefa até junho. “Mas isso são eventos isolados, já que nossas visitas de rotina estão sendo feitas diariamente”. Nessa última semana a ação ocorreu no Arco Verde e São João. No primeiro setor, um ferro velho tinha dezenas de focos do mosquito Aedes aegypti. Tanto o Centro de Controle de Vetores quanto o Departamento de Posturas deu prazo até dia 20 para que o dono elimine todos os criadouros. “E o monitoramento tem sido diário”, diz a profissional. Caso a situação não se resolva, o dono do imóvel será multado, como ocorreu no São João, onde um estabelecimento foi alvo de mais de 20 denúncias, as pessoas próximas todas tiveram dengue, ele até recebia as autoridades com muita educação, mas nunca se prontificou a acabar com a água parada.

Função

Segundo Érica Reis, muito morador de Anápolis ainda não entendeu que o papel de eliminar o foco do mosquito dentro da sua casa é dele, e não do poder público. A coordenadora percorre a cidade ao lado dos agentes de endemia e explica que tem visto muito ferro-velho sem qualquer cuidado, empresa de reciclagem com vários focos, calhas de residências com problema, caixa d’água destampada, muito entulho. “Temos ainda casas abandonadas que não conseguimos localizar o proprietário, além de lotes com bastante entulho”.

A coordenadora faz a pergunta e ela mesma responde: “Quem tira o lixo? É quem joga. Não é a prefeitura, não é a Secretaria de Saúde”. Érica lembra que a função do agente de endemias é dar orientações. E ele passa em cada casa a cada dois meses.   “Queremos acreditar que uma vez na semana o morador fará inspeção no seu próprio imóvel, já que tudo que ele produz, ele é responsável”, frisa.

A administração municipal abriu concurso para contratação de novos agentes da dengue, mas por maior que seja a quantidade de profissionais, sem a ajuda do cidadão é impossível barrar a dengue. O raciocínio é simples: o mosquito precisa de 10 dias para começar a picar; se o agente existisse para limpar a casa da pessoa, o que é um absurdo, ele teria que passar no local a cada sete dias.

Érica Reis fala também que a limpeza dos lotes é de responsabilidade do dono, e não da prefeitura. Esse é outro equívoco: a prefeitura não tem obrigação de fazer esse tipo de serviço. Questionada se as pessoas desconhecem o poder de ação do mosquito, a coordenadora informa que comprovadamente o Aedes aegypti tem um raio de ação de três quilômetros. “Porém ele é leve e o vento o leva para qualquer local. Ele sobrevive até 42 dias, isso é uma média. O ovo sobrevive 465 dias no seco esperando água parada. Entrou em contato com a água, em 8 minutos tem a lombriguinha, que é o estágio 1 da larva”. Ou seja, a resistência e a rapidez de proliferação são surpreendentes.

 

Multa por foco do mosquito já vale

Um projeto de lei do prefeito João Gomes (PT) pretendia aumentar as taxas para proprietários que não cuidam dos seus lotes. A medida visava, principalmente, ajudar no combate ao mosquito Aedes aegypti. Os vereadores acabaram entendendo o contrário.

A ideia era subir os custos públicos de roçagem de lotes. Na proposta original o custo subiria de R$ 0,76 por metro quadrado para R$ 5. Tentou-se um valor de R$ 2, mas a mudança nem chegou ao plenário – foi barrada nas comissões.

“A nossa proposta era fazer com que o proprietário tivesse cuidado com o seu lote e não para que a prefeitura simplesmente arrecadasse mais”, explicou no início da semana, em entrevista ao Canal Anápolis (Canal 5 da Net), o secretário municipal de Meio Ambiente, Ceser Donisete.

A limpeza de lotes com manutenção negligenciada pelos donos é realizada pela Diretoria Municipal de Limpeza Urbana e o custo é cobrado junto com o IPTU, baseado na metragem do terreno. A aplicabilidade da cobrança ainda não é regular devido à dificuldade de serem localizados donos de terrenos, através da atualização dos registros fundiários junto à Secretaria Municipal da Fazenda.

Os vereadores acabaram aprovando a multa para proprietários cujos imóveis tenham focos do mosquito Aedes aegypti. Após uma notificação, é dado prazo de cinco dias para que o dono acabe com o problema. Caso isso não ocorra, o auto de infração é lavrado.

Roçagem

Para além dos problemas relacionados aos focos do mosquito da dengue, a roçagem de lotes vem gerando alta demanda do serviço de limpeza urbana. Segundo a Diretoria Municipal de Limpeza Urbana, são pelo menos seis mil lotes em Anápolis com roçagem negligenciada pelos proprietários. As quatro equipes do órgão conseguem em sua capacidade máxima realizar a limpeza de 2,3 mil lotes por mês – é preciso considerar a retirada do material e envio ao aterro sanitário, que demanda tempo e custa caro. O transporte de cada caminhão gera gasto de R$ 15,60. A disposição no aterro fica em R$ 32.

Anualmente, a roçagem de lotes baldios geram um quantitativo de 230 a 350 toneladas de detritos. “Pela dificuldade de tornar eficaz a cobrança e pelo baixo custo da limpeza do lote particular imputada ao dono, acaba se tornando uma situação cômoda aos proprietários negligentes”, já afirmava o diretor de Limpeza Urbana, Neivaldo Souza Dias, em entrevista ao JE no ano passado. (LUIZ EDUARDO ROSA)

 

 

 

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