Um ano após morte do filho, mãe ainda aguarda a Justiça
“Eu vi tudo. Por isso que para mim é mais difícil. Eu vi o carro matando meu filho”, diz a dona de casa Naurinda Tavares, que há um ano teve a rotina da vida toda afetada pela tragédia
MARCOS AURÉLIO SILVA
Impunidade. Esse é o sentimento que a dona de casa Naurinda Rodrigues Tavares é obrigada a conviver há um ano. Após perder um filho de apenas 10 anos de idade, em um acidente provocado por uma motorista embriagado, ela já se diz prestes a perder a esperança na Justiça. Gustavo Rodrigues e outras quatro pessoas foram vítimas de atropelamento no dia 1º de janeiro de 2015, em uma avenida do Bairro Polocentro. Ele não resistiu e morreu no local, entrando para a alta e alarmante estatística de acidentes fatais em Anápolis.
“No primeiro dia de 2015 ele saiu para comprar pipoca. Foi a um mercado próximo a nossa casa. Eu saí até o portão para ver se ele já estava voltando e foi quando vi o carro virando desgovernado, atropelando meu filho. Eu vi tudo. Por isso que para mim é mais difícil. Eu vi o carro matando meu filho”. Esse é o relato de uma lembrança que Naurinda Rodrigues tenta, mas não consegue esquecer.
A mãe do Gustavo acredita que apenas uma coisa pode amenizar sua dor: a justiça. “Eu peço justiça, para que o culpado pague. Eu quero que esse homem não faça mais ninguém chorar, como ele me faz”, cobra Naurinda Rodrigues. Ela relata que no dia do acidente, o motorista que causou o atropelamento estava visivelmente embriagado e também havia latas de bebidas dentro do carro. O homem chegou a ser preso em flagrante pela Polícia Militar, mas acabou sendo liberado depois.
A dona de casa relata que nunca havia ocorrido um acidente na rua em que mora e que, portanto, o único culpado seria o condutor embriagado. Apesar disso, ele não prestou nenhum tipo de assistência à família de Gustavo, e nem as outras pessoas que foram atropeladas, mas sobreviveram. “Nada foi feito. Até hoje não tive resposta nenhuma. Tem um ano que aconteceu e não tivemos uma notícia do caso. Fizemos manifestação, mas não adiantou. Não temos resposta”, expõe Naurinda Rodrigues.
Segundo os dados de atendimento do Samu, em 2015 foram 422 ocorrências com óbitos. Desse total 60% (253) foram causados por acidente de trânsito. “A estatística de acidente de trânsito tem aumentado bastante em nossa cidade. Pela nossa experiência, sabemos que estes acidentes podem levar a graves lesões, sequelas permanentes e a morte”, avalia a coordenadora operacional do Samu, Eliane Moreira.
Por estar diariamente envolvida com os atendimentos do Samu, Eliane aponta que a imprudência é quase sempre o motivo para os acidentes mais graves. “Maior causa de morte entre jovens é o acidente de trânsito. Não basta informação por meio de campanhas, porque também diz respeito a conscientização individual no trânsito”, acredita.
Prejuízos
Para além das 8.227 vidas que foram ceifadas, os 169.163 acidentes de trânsito ocorridos em 2014, somente nas estradas federais, provocaram um impacto financeiro de R$ 12,3 bilhões, de acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O levantamento leva em conta os gastos referentes à perda de produção (43% do total) – número que inclui tanto gastos previdenciários quanto a estimativa do que o acidentado deixa de produzir se morre ou se afasta do trabalho -, os gastos com veículos ou cargas afetados (34,7%), além do montante gasto com custos hospitalares (20%).
Pelo menos 100 mil pessoas se feriram nos acidentes registrados – 26 mil delas gravemente. Em média, cada acidente representou um custo de R$ 72.705,31 à sociedade brasileira. Já os custos com os que envolveram mortes chegaram a R$ 646.762,94. Os dados do ano de 2015 ainda estão sendo levantados. (Com reportagem de Luana Cavalcante)
BOX:
NÚMEROS ALARMANTES
[DADOS NACIONAIS]
– A cada 22 minutos morre uma pessoa em acidente de trânsito;
– A cada 7 minutos uma pessoa é atropelada;
– A cada 57 segundos acontecem um acidente de trânsito;
– 41% dos mortos em vítimas de acidente estão na faixa etária de 15 a 34 anos;
– 60% dos feridos em acidentes ficam com sequelas permanentes;
– 70% dos acidentes com mortes, o fator álcool esteve presente, mesmo sem configurar embriagues;
– Trânsito é a terceira causa de mortes no Brasil.