Ano começa quente e registra nove mortes violentas em apenas 12 dias

Marisleide Santos 04,03,15 (4)

Casos de homicídio, em comparação com o mesmo período de 2015, sofreu aumento superior a 100%; Envolvimento com drogas segue como principal combustível para violência

FLÁVIO MOBAROLI

Janeiro de 2016. Dia 12. Ano passado, aproximadamente na mesma data, a reportagem do JE apurava as mortes violentas ocorridas em Anápolis. O Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) registrava quatro, número que já chamava a atenção das autoridades e da população. Passado um ano, em igual período, elas somam nove, confirmando que, mais do que um chavão, a violência segue uma escalada que parece não ter volta. Ou fim.

Mas, além da frieza das estatísticas, que indicam crescimento de 125% nessa modalidade de crime na comparação entre os primeiros 12 dias de 2015 e deste ano, os sete homicídios – sendo um enquadrado como feminicídio – e o latrocínio (roubo seguido de morte), corroboram com a tese da titular do GIH, delegada Marisleide Santos: “o que se observa hoje é a banalização da vida humana, seu valor é cada vez menor”, diz.

Não bastasse o aumento das ocorrências, a crueldade dos crimes também aponta para um quadro cada vez mais delicado na segurança pública. O tráfico e o uso de drogas seguem como os principais agentes no fomento à violência, já que sustentam e fazem gerar a engrenagem. “A droga incita a violência. No começo são os pequenos furtos, depois a receptação,o porte de arma, os roubos e os latrocínios, tudo para sustentar o vícios”, explica Marisleide Santos, lembrando que na outra ponta está o crime de vingança, normalmente associado à disputa pelas chamadas bocas de fumo.

A delegada reforça que os antecedentes das vítimas, a vida ligada ao crime, são propulsores das mortes que vêm acontecendo na cidade, mas que o problema não para por aí. Segundo Marisleide Santos, está mais que evidente o processo de banalização da vida. “Dois dos homicídios registrados aconteceram a partir de pequenas brigas, uma entre vizinhos e outra em uma festa, onde, por impulso, houve as mortes”, explica.

A banalização à qual se refere a delegada – ou a escalada da violência, como definem alguns – pode ser atestada em 2016 com base nas próprias estatísticas do GIH. Se por um lado as drogas estão na base da pirâmide, por outro os recentes homicídios mostram que esse protagonismo perdeu um pouco de sua força. Das nove mortes violentas catalogadas, quatro envolviam vítimas sem passagens pela polícia e ocorreram a partir de meros desentendimentos.Em outro caso, o mortoapresentava ficha criminal, mas pela prática de crime não relacionado às drogas.

Até 2015, de acordo com repetidas declarações públicas de representantes das polícias Militar e Civil, pelo menos 80% das pessoas assassinadas tinham ligação com o universo dos entorpecentes e eram mortas na disputa pelo comando do tráfico ou por serem usuárias devedoras. Esse ano, ao menos nos primeiros 12 dias, apenas 50% dos crimes têm esse perfil.

“Infelizmente a violência vem aumentando sistematicamente e essa é a tendência. Em 2013 e 2014 a média foi de 11 mortes violentas por mês. Este ano tivemos nove em apenas 12 dias. Precisamos de políticas públicas e de leis que assegurem penas proporcionais à gravidade dos crimes que são cometidos”, desabafa a delegada Marisleide Santos, se referindo ao prende e solta, que segundo ela é a forma encontrada para se abrir vagas no sistema prisional.

Investigações

Ainda que a situação inspire cuidados e acenda o sinal de alerta, a titular do Grupo de Investigação de Homicídios diz que o trabalho da Polícia Civil não para e que dos nove inquéritos instaurados este ano, quatro já têm as autorias praticamente definidas e os demais se encontram em bom ritmo de andamento. “Cumprimos o nosso papel de investigar, identificar e realizar os procedimentos para encaminhar os inquéritos ao Judiciário. Se essas pessoas forem retiradas do convívio social por meio de prisões, é certo que conseguimos reduzir o impacto da violência. Mas, infelizmente, elas nem sempre permanecem detidas”, lamenta a titular do GIH.

Mortes violentas (de 1º a 12 de janeiro)

2016 – 9

2015 – 4

2014 – 4

2013 – 2

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