Rotina de medo e violência já marca começo de 2016
Delegado nega que perfil das vítimas esteja mudando, apesar de dois latrocínios registrados. As drogas ainda são principais motivadoras para as mortes violentas em Anápolis
MARCOS AURÉLIO SILVA
A violência passou a ser definitivamente rotina na vida do anapolino em 2016. A média deste início de ano é um assassinato a cada dois dias na cidade. Já são 22 homicídios – alguns, pela brutalidade ou perfil das vítimas servem para aumentar ainda mais a sensação de insegurança que acompanha a população local há um bom tempo.
Logo na madrugada do dia 1º de janeiro, a aposentada Maria Pedro da Silva, de 83 anos, foi assassinada dentro de casa, no Conjunto Filostro Machado, logo depois de ter chegado de um culto religioso. A brutalidade do crime choca até hoje a população, pois a idosa teria sido vítima de estupro antes de morrer, possivelmente, por asfixia. A investigação da polícia aponta para latrocínio, que é o roubo seguido de morte.
Outro latrocínio também causou comoção por envolver um agente da segurança pública. O subtenente da Polícia Militar Sérgio Rodrigues Souza Vaz foi morto no dia 31 de janeiro, ao reagir a um assalto à pamonharia que estava com a namorada na Vila Santa Maria de Nazareth. Na ação, o policial conseguiu balear dois criminosos, João Paulo de Jesus Ferreira e Gabriel dos Santos Oliveira, que também acabaram morrendo. O terceiro envolvido no crime, Jarbas Augusto Bezerra Dias, foi preso três dias depois.
A mesma violência que faz como vítima uma senhora com mais de 80 anos de vida e um policial treinado, com duas décadas de serviços prestados à PM goiana, também chama a atenção para execuções que não escolhem nem hora e local para acontecerem. Na sexta-feira (12), antes do meio-dia, Leopoldo Velasco foi assassinado com três tiros à queima roupa na serralheria que trabalhava com o irmão, na esquina da Avenida Goiás com a Rua Benjamin Constant, no centro de Anápolis. Um irmão da vítima também tinha sido morto no ano passado.
Perfil
Os assassinatos registrados em Anápolis nos últimos anos, em sua maioria, têm estreita ligação com o mundo das drogas. As autoridades policiais sempre apresentam dados que reafirmam que em mais de 80% dos crimes contra a vida, a vítima era usuária de entorpecente ou atuava no tráfico. Mas agora, esse perfil parece que começa a mudar.
A morte do jovem Lucas Marques, de 17 anos, também foge completamente ao perfil costumeiramente investigado pela Polícia Civil anapolina. O homicídio aconteceu durante um almoço de confraternização em uma igreja. Depois que a vítima e o sogro tiveram uma discussão, o autor voltou com uma faca e cometeu o crime. Narciso Pereira, de 42 anos, matou o namorado da filha por não aceitar o relacionamento.
Somente no mês de janeiro deste ano foram registrados 12 homicídios, mesmo número de 2015. Na análise do delegado Vander Coelho, que responde interinamente pelo Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), não há uma mudança no perfil dos crimes contra a vida registrados em Anápolis. Para ele, o que ocorreu no início deste ano foram casos pontuais e que num diagnóstico mais amplo não causará grande alteração em relação ao percentual dos crimes relacionados com o mundo das drogas.
“O que podemos observar é um incremento nos casos de latrocínios. Isso é preocupante, já que é um crime que inicialmente é planejado contra o patrimônio, mas que acaba resultando em assassinatos”, aponta Vander Coelho. Ele ainda alerta que em anos anteriores foram poucos casos de latrocínio, e este ano já há dois em investigação.
Para o delegado do GIH, o latrocínio é mais difícil de investigar porque não há um vínculo inicial entre autor e vítima. “No caso do crime contra o patrimônio é uma pessoa que vai ali para roubar. Se não consegue a informação necessária, como a identificação e localização do que foi roubado fica mais difícil de chegar ao autor”, avalia. “Já nos outros homicídios percebemos que normalmente a vítima é pessoa que tem ficha extensa na polícia e tem pré-disposição ao mundo do crime, ou seja, são potenciais vítimas e já se relacionam com criminosos”, complementa.
Vander Coelho é incisivo quando afirma que a presença das drogas nos crimes de homicídios continua. “Avaliamos muito essa estatística e temos essa confirmação. Esse é um perfil que não se altera facilmente”, diz. Segundo ele, as estatísticas também indicam que há um alto nível de reincidência de autores em crimes contra a vida. “Quando conseguimos fazer uma prisão, embora o criminoso não fique preso por muito tempo, notamos que nesse período que ele está fora de circulação ele deixa de matar. Alguns se fossem mantidos soltos, continuariam a cometer assassinatos”, relata.
MANIFESTAÇÃO PROGRAMADA
Uma página no Facebook, intitulada Fãs CPE Anápolis, em referência à Companhia de Policiamento Especializado, da Polícia Militar, anunciou a realização de uma carreata no domingo (14), com o objetivo de repudiar a morte de policiais em Goiás. A saída será da Praça Dom Emanuel, às 14h, com destino ao 4º BPM, passando pela Avenida Brasil.
Nas últimas semanas, membros da PM e da Polícia Civil foram assassinados em confronto com bandidos ao reagir a assaltos quando estavam em seu horário de folga. Em Anápolis, subtenente da Polícia Militar Sérgio Rodrigues Souza Vaz foi morto no dia 31 de janeiro. Em Goiânia, o agente da PC Oscar Charife Abraão Garcia atirou contra um trio que assaltava um pit-dog em bairro nobre da capital. O policial conseguiu atingir um dos bandidos, que acabou morrendo, mas também levou um tiro na cabeça e não resistiu, mesmo tendo sido socorrido.