Não esperemos pelos outros
Iron Junqueira
Todos nós, diante dos problemas sociais e perante os flagelos que imolam os desventurados de toda natureza, sentimos na consciência o chamamento ao dever cristão que nos pede a cada um em particular, fazer da sua parte, para que minorem as provações alheias e sejam suavizadas as dores dos nossos irmãos.
No entanto, pretendendo expulsar de nossa consciência esse chamamento enérgico que nasceu em nós mesmos; querendo fechar a porta do coração, que nos impulsiona, mesmo por tranquilidade de espírito, a socorrer esses infelizes; e para que não nos perturbem o egoísmo, o indiferentismo, o comodismo próprio a tal sofrimento alheio, acostumados a reclamar, agastados e coléricos:
— Por que as autoridades não cuidam desses párias da sorte?
— Por que as entidades filantrópicas não resolvem os problemas da mendicância?
— Por que os políticos não sanam os males sociais?
E frase como estas escapam de nossas bocas sempre que a consciência nos fustiga o egoísmo, o comodismo e o indiferentismo quanto aos menos afortunados do mundo.
Devemos compreender que desde há milênios a terra conta com os governantes, com os políticos, com os filósofos, com os homens públicos, de toda natureza e — no entanto, até hoje,eles não se dispuseram a cuidar dos seus irmãos carecidos de amparo, de escola, de socorro, de remédio, de assistência — e tudo o mais.
Isto porque vivem todos às voltas com os seus problemas, como cada um de nós outros.
Não podemos mais esperar pelos poderosos da terra, e nem pelas suas organizações meramente políticas e superficiais.
Cada um de nós temos que fazer de nossa parte todo o bem possível, colaborando assim com o saneamento dos problemas sociais, flagelos esses que vêm ao encontro de cada um de nós porque são sementes imprestáveis semeadas coletivamente, ou seja, por todos nós, células vivas da humanidade de ontem e de hoje.
Não podemos procurar evasivas quando a consciência começar a nos chamar ao dever de acudir e ajudar no campo da beneficência, do amparo e do socorro aos menos felizes que gemem e sofrem nos cantos da vida.
Não procuremos subterfúgios dizendo que os problemas sociais representam deveres apenas das autoridades, das organizações e de todos os poderosos da terra — nada disso…
…Cabe a nós mesmos cumprir com os nossos deveres, mesmo porque, “se não acontece nada a não ser pela vontade do Pai que está no céu”, a presença de um infeliz diante de nós é um chamamento silencioso de Deus a nos tocar a consciência e o coração para a lembrança do dever que temos a cumprir perante uns aos outros, dever este que corresponde à fraternidade exercida através da beneficência, do amor ao próximo e do trabalho edificante no campo sublime da Caridade.
Se os problemas sociais fossem para ser solucionados apenas pelas autoridades do mundo, não havia Jesus pedido aos homens ricos e pobres, indiscriminadamente: “Fazei o bem sem olhar a quem”…
“Fora da caridade não há salvação”…