Camadas de história surgem com restauro da Estação Ferroviária

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LUIZ EDUARDO ROSA

As obras de restauro da Estação Ferroviária Prefeito José Fernandes Valente, no centro de Anápolis, vem revelando uma parte da história de Anápolis que parecia perdida. O trabalho não representa somente um simples “subir paredes”, mas sim a possibilidade de se fazer um verdadeiro trabalho de arqueologia.

A Estação Ferroviária foi inaugurada em 1935. “O objetivo do restauro é de garantir a integridade estética e física do prédio antigo, dando resistência mecânica e força em seus suportes”, diz a arquiteta especialista em restauro, Milena Migoto.

A obra conta com recursos de R$ 250 mil. Com esse dinheiro, nem tudo poderá ser restaurado como os especialistas esperam, mas há possibilidade de novas verbas no futuro. “Outras partes da Estação receberão o devido tratamento”, explica o fiscal da obra e diretor do Museu Municipal, Tiziano Mamede Chiarotti.
O armazém de cargas da Estação Ferroviária foi completamente restaurado, porém ficarão de fora deste orçamento a partes como esquadrias, forros artísticos, o nivelamento externo e outros itens. “Tendo em vista a necessidade de um orçamento maior, neste fizemos as partes prioritárias”, explica Milena.

Um dos aspectos avaliados na Estação é que o nível do solo subiu durante as décadas, a partir de aterramentos. A partir das pesquisas de arqueologia foi possível descobrir o trilho por onde passavam os trens de passageiros, que atualmente está com seu leito soterrado. Um problema apontado pela empresa no restauro é o fato de que o solo abaixo da Estação vem recebendo esgoto vindo do Terminal Urbano, o que compromete fundamentos e paredes do edifício histórico.

Um dos processos utilizados no local foi a “estratigrafia pictórica”, que é uma técnica para analisar camada por camada de cobertura de tinta que a parede levou desde sua edificação inicial. O objetivo da técnica é descobrir traços de ornamentação das paredes, para saber como teria sido pintada no passado. “Descobrimos elementos decorativos nas paredes para além da própria cor da tinta utilizada na primeira pintura realizada”, explica Milena. Um dos destaques foi o tratamento para evidenciar o padrão de piso utilizado e algumas peças de chão estilizadas, como o símbolo da Estrada de Ferro Goiás (EFG).

Estilo
“A Estação contou com o investimento de empresários daquela década de 1930, para que ligasse a cidade aos grandes centros urbanos brasileiros, diminuindo o isolamento de Anápolis em relação ao País”, contextualiza Tiziano Mamede. Em uma avaliação inicial de Milena e os profissionais envolvidos na restauração da Estação, os materiais ornamentais e estruturantes apontam um investimento de grande peso na construção da Estação que se tornou a ponta de linha da EFG. “Os requintes de ornamentos em pintura, metais e madeiramento demonstram um alto investimento, não encontrei materiais com esse padrão em outras estações goianas em que estive trabalhando”, atesta Milena.

Em diferentes décadas de funcionamento, a Estação sofreu diferentes mudanças tapando vãos, encobrindo detalhes com pinturas e outras mudanças. As mudanças estruturais visavam atender as funcionalidades do prédio, como uma das principais que foi o fim do transporte de passageiros nos anos próximos de sua desativação, nas décadas de 1960 e 70. Com esses fatores, o edifício reúne uma multiplicidade de tempos através de suas camadas de pinturas das paredes, de buracos e vãos fechados, diferentes tipos de batentes de portas, diferentes tipos de esquadrias das janelas e outros elementos distintos em seus estilos, que foram sendo implantados através das décadas.

Apesar dessa multiplicidade de tempos através das diferenças destes elementos de mesma função, os estilos arquitetônicos reinantes foram dois, segundo avaliação de Milena e Tiziano. Possivelmente sendo uma transição entre o Eclético, entre meados do século XIX ao início do XX, e a Art Déco, a partir da década de 1920. “A partir da constatação destes estilos, ao reformar o edifício cuidaremos de cada parte os traços mais conservados, formando unidades padronizadas”, explica Milena. Alguns elementos serão guardados para próximas etapas de restauração.

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