Hospital de Urgências enfrenta luta para aumentar doações de órgãos
LUIZ EDUARDO ROSA
Uma série de circunstâncias de cunho cultural e religioso vem dificultando a ampliação de doação de órgãos em Anápolis, como também em Goiás. A Comissão Intra-Hospitalar de Transplante de Órgãos do Hospital de Urgências de Anápolis Dr. Henrique Santillo (Huana) iniciou seus trabalhos em janeiro deste ano e aponta como os familiares de doadores vêm lidando com a possibilidade da doação. Por não ser um ato compulsório para o doador ou de aceitação automática dos familiares de doadores declarados, se apresenta um desafio cada vez mais delicado para que se difunda a prática no município.
A Comissão Intra-Hospitalar apontou o número de captação de quatro órgãos e uma de córnea em Anápolis, desde janeiro de 2016. Ao convencer a família da autorização, a Comissão notifica a Central e Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos de Goiás (CNCDO-GO) em Goiânia, que faz a coleta do órgão e já tem estabelecida a fila de receptores para realizar o transplante. “Ainda há muita falta de informação e a continuidade de uma resistência cultural em relação à doação de órgãos”, explica a coordenadora da Comissão do Huana, Vanessa Lobo.
A falta de informação acaba por manter determinados preconceitos nos quais os familiares imaginam que o órgão possa ser vendido e outros argumentos dessa natureza. “Temos que além de dar as informações corretas, lidar com certos argumentos frutos da falta de dados corretos de como é realizada a doação e o destino”, explica Vanessa. Ela atenta que o contexto de perda de um ente querido, deixa a família em estado psicológico vulnerável, o que acaba tornando ainda mais delicado o momento de convencimento para a doação.
Segundo as diretrizes nacionais na área da saúde, os hospitais com mais de 80 leitos devem ter uma Comissão de Doação de Órgãos formado pelos profissionais da instituição, regidos inclusive por portaria interna. A equipe é formada por uma equipe com quatro profissionais sendo médico, enfermeiro, psicólogo e assistente social. Ao ter uma autorização da família a Comissão no Huana contacta a Central em Goiânia, para que os especialistas venham à cidade para fazer a coleta do órgão.
Comissão
Antes da implantação da Comissão no Huana, as captações eram realizadas pela Central em Goiânia. Segundo Vanessa, a legislação é rigorosa na qual conta com uma lista regionalizada e cumprida sobre o controle da Central Nacional e o Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde. No caso de uma morte encefálica, por exemplo, há um protocolo a seguir, com prazo de 72 horas para a confirmação de estar apto a doar.
Uma blitz educativa foi realizada pela Comissão em parceria com a Companhia Municipal de Trânsito e Transporte (CMTT). A ação aconteceu em março deste ano, com o mote “Doe órgãos, Doe vidas”, na Avenida Brasil, em frente ao Huana. Na quinta e sexta da última semana a equipe realizou uma formação para qualificar a abordagem aos familiares dos doadores. “Em uma situação tão delicada como o convencimento da família após a perda de um ente querido, até a forma como falamos acaba influenciando em não acontecer a doação”, explica Vanessa.