Para que serve o apoio no 2º turno? | por Marcos Vieira
A política é a arte de engolir sapos. E muitos deles têm entrando goela abaixo nas cidades brasileiras com segundo turno – corre-se o risco, inclusive, do animal tão comum por aí entrar em extinção. Em Anápolis não é diferente. Quem foi ofendido no primeiro turno aceita de bom grado o apoio do ofensor e ainda por cima lhe promete um espaço no futuro governo.
É um belo jogo de cena que se repete em qualquer disputa majoritária. Os candidatos trocam farpas durante toda a campanha de primeiro turno. Na segunda etapa da eleição decidem que o melhor é seguirem juntos. E quando alguém pergunta sobre as ofensas da semana passada (proferidas e recebidas), ganha a resposta mais cara de pau do mundo: “são coisas da política”.
Apoio de segundo turno significa a negociação de cargos? Não necessariamente, mas quase sempre o político derrotado pula para o palanque do antigo adversário pensando na própria sobrevivência política – ou ao menos do seu grupo. E político só vive de poder. Logo, alguma coisa ele pediu para posar para as fotos e dizer que agora, agora sim, depois de tudo, ele vota no fulano.
O problema é que alguns pedem ajuda para quitar dívidas da campanha do primeiro turno. Esse deveria ser ignorado por todos os lados, mas alguém já viu político rejeitar apoio? E quando tem grana envolvida, a derrota inevitavelmente é da população, que será representada por gente que antes de saber o que é preciso fazer, pergunta quanto vai ganhar.
Seria bom ver alguma citação ideológica nessa história toda. O apoio vir baseado em alguma bandeira de luta semelhante ou uma proposta para a cidade. Isso é tão difícil de acontecer que soa inocente em um país com 35 partidos políticos. Tem candidato, inclusive eleito, que não sabe nem o que significa a sigla que forma a agremiação no qual faz parte.
Mas, afinal, para que serve apoio de segundo turno? Para fotos e notícias na mídia, o que acaba assustando um pouco a militância adversária. Talvez para irritar o eleitor que acreditou no seu candidato no primeiro turno, em detrimento de todos os outros, e agora vê alianças estranhas acontecendo em nome de algo que ele não sabe.
Basicamente é a busca por um naco de poder. Uma secretaria municipal, o comando de uma autarquia ou da procuradoria-geral do Município. Não deveria ser assim, mas é. É a velha prática política. Sem novidades.