Ocupa/desocupa e a omissão geral | por Marcos Vieira

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A unidade Jundiaí da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Anápolis, foi ocupada por estudantes que protestam contra a PEC 55 (ex-241), que caso aprovada pelo Senado determinará um teto para os gastos públicos federais nos próximos 20 anos, com reajuste anual apenas no patamar da inflação. O ato aqui na cidade segue outras unidades de ensino brasileiras, todas ocupadas: os jovens temem que a educação possa ficar cada vez mais sucateada com um limite de gastos para a área. O mesmo ocorreria com a saúde, infraestrutura, etc.

O campus anapolino do IFG foi ocupado há mais tempo – e parece que por lá existe um consenso, inclusive entre os professores e servidores técnico-administrativos. Na UEG, há um imbróglio entre os estudantes que tomaram conta da unidade, predominantemente do período matutino, e o pessoal que estuda à noite. Esse segundo grupo quer concluir o ano letivo. Alguns estão na fase de entrega do TCC, querem pegar logo o diploma e seguir em busca de um emprego com melhor remuneração.

O embate entre a turma da ocupação e aqueles que querem a desocupação acaba favorecendo o governo. Por enquanto, a discussão passa apenas por isso: a legitimidade em travar uma unidade universitária em nome de uma causa que, para alguns, parece ser irrelevante. Pressupõe-se, lógico, que a maioria que é contra a ocupação não quer saber das consequências da PEC 55 – ou simplesmente a apoiam. Mas tem também a possibilidade desse grupo ser só contra a ocupação especificamente do local onde ele estuda. Talvez até aplaudam o pessoal do Paraná ou as escolas ocupadas em Goiânia. O problema é que mexeram com o cotidiano da turma. Fazer sacrifício pelo coletivo é outra história.

Esse debate que brotou na UEG de que a ocupação precisa ter apoio da ampla maioria dos estudantes talvez não faça sentido. O protesto tem sentido como ato que incomoda a maioria. Não é a toa trata-se de principal ferramenta para grupos minoritários apresentarem seus direitos ao restante da sociedade. Se fosse feita uma votação entre os estudantes para decidir se haveria ou não ocupação, o status quo teria vencido. A maioria rejeitaria fugir da rotina de final de ano de entregar trabalhos, fazer provas e entrar de férias.

O fato que surge a partir desse racha é que há muito tempo os universitários deixaram de amplamente apoiar lutas coletivas. Muitos estão optando por cuidarem individualmente das próprias vidas, independentemente se teremos o dinheiro da educação congelado por 20 anos. Trata-se de uma acomodação perigosa.

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