“O Hip Hop é força dos jovens negros”, ressalta artista anapolina Wine Tibúrcio
Nesta semana que abre com o Dia Nacional da Consciência Negra, neste domingo (20), tem um caráter de resistência ligado ao herói nacional Zumbi dos Palmares (1655-1695). Na atualidade, a cultura que engloba a resistência e também a valorização da identidade, tem seu expoente na cultura Hip Hop. A artista e produtora cultural anapolina, Wine Tibúrcio (foto), de 25 anos, aponta como a cultura Hip Hop promove a luta contra os preconceitos raciais, tanto na valorização da forma de ser, quanto também na denúncia do racismo. Ela aponta a emergência de aproximar cada vez mais as realizações culturais da população que mora nos bairros da periferia.
Os eventos voltados aos elementos da cultura Hip Hop (break dance, rap, graffiti e DJ) tem influenciado os jovens nas formas de viver e de se identificar, vestir, do falar e da corporeidade. Com a gênese em comunidades negras e latinas estadunidense, o Hip Hop tem transferido e se transformado nas diferentes comunidades pelo mundo. Em Goiás e em Anápolis, essa cultura vem se desenvolvendo nas últimas décadas, criando identidade com jovens de diferentes condições financeiras, religiões e gênero. As referências nas letras de rap e outros elementos têm um forte clamor entre jovens da periferia.
“A cultura Hip Hop ajuda na nossa autoestima, ainda mais nós jovens negros, inclusive o movimento negro tem ganhado força através da nossa expressão”, aponta Wine. Nos eventos nos quais há a intervenção de mc’s ou rappers são apresentadas diversas rimas, apontando a realidade vivida e a visão sobre o mundo. Alguns rappers dedicam suas rimas para denunciar o preconceito racial existente no dia a dia, em diferentes espaços que estes jovens vivem, como no trabalho, nos lugares públicos, na família e em outros campos. Wine aponta o dia 20 de novembro, como uma data importante a todos que lutam pelo fim do racismo e opressão à cultura afro-americana. “O Dia da Consciência Negra é um dia para celebra a conquista da luta do povo negro no Brasil”, afirma Wine.
Um dos pontos mais denunciados pelas rimas de maior indignação por rappers está na abordagem policial à juventude da periferia e, principalmente, a negra. “No fim isso torna o nosso cotidiano de jovens negros, ao sermos vistos pelos policiais nas ruas, temos que provar que tudo o que carregamos no corpo é nosso, que foi adquirido pelo nosso esforço”, denuncia Wine, ela cita situações nas quais jovens repetidamente te que provar que a mochila, celular e outros itens são seus. Wine faz menção às declarações do rapper Emicida na qual ele disse; “você sabe que o táxi não pára pra você e a viatura [policial], pára. Esse é o problema urgente do Brasil”.
O espaço da difusão do Hip Hop abriga a todos os jovens, independente de sua cor, gênero e situação financeira, porém esteticamente e no vestuário é possível perceber uma forma particular de se identificarem. “No espaço do Hip Hop podemos ser quem somos, na forma de manter o cabelo, o jeito de vestir e de falar, sem ser repreendido por preconceitos”, explica Wine. Ela percebe que ao levar ações culturais à periferia, os jovens que sofrem por preconceitos no trabalho, na sociedade e na família, acabam se identificando e conhecendo possibilidade de “ser” perante as outras pessoas.
Produção
Nos últimos anos, a cantora e produtora cultural, Wine Tibúrcio, vem atuando na difusão da cultura Hip Hop em Anápolis. O cenário do Hip Hop na cidade, nos últimos 10 anos tem ganhado novos grupos de break dance (dança), artistas de graffiti, rappers (cantores de rap) e DJ’s. Além dos artistas, na institucionalidade conta com ao menos com duas associações e educadores integrados nas pastas municipais de Educação e Cultura. “A compreensão da população sobre o movimento tem evoluído, como também o diálogo com outras expressões artísticas e tribos urbanas”, aponta Wine.
Parte dos projetos são ações dela e outras pelo grupo Marreta Sound System, fundado há três anos na cidade, pelo artista e pesquisador Rodrigo Ribeiro. O Marreta se dedica à difusão da musicalidade reagge e dub, ritmos de origem jamaicana. A ênfase está na dedicação à performance musical a partir do disco vinil e também na fabricação de caixas de reprodução estilizadas, baseados nos modelos jamaicanos. “É importante essa integração da cultura do reagge e do dub com o Hip Hop, faz um resgate do vinil para as novas gerações, em um momento de hegemonia de processos digitais”, enfatiza Wine.
Na integração das realizações da Wine com outros produtores e pelo grupo Marreta Sound System, sugiram nos últimos seis anos edições de diferentes festivais na cidade. O Underground Party, com primeira edição em março deste ano, realizada pela Wine. Cinco edições do Vibe das Ruas, de realização de Wine e Raiane Alves. O evento Hammer Dub, teve sua primeira edição em setembro deste ano e é a realização da equipe Marreta Sound System. “A meta para 2017, é realizar ações cada vez mais na periferia, nos locais centrais a barreira do transporte e do preço das coisas ainda afasta muitos jovens”, projeta Wine.