O caminho certo de Jericó | por Iron Junqueira

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Quando a ignorância atropela uma coletividade, parece que uma negra nuvem a cobre toda, pois sequer sobra um raio de alegria lembrando a possibilidade da esperança.

Assim vi acontecer. Quando era menino, era raro ver criança ou adolescente imitando adultos jovens ou crentes pregando suas pobres interpretações bíblicas pelas raras igrejas em suas cidades. A classe era dominada por padres e freiras católicos que tinham um lastro de cultura católica pragmática; e como eram seminaristas e menos apegados a dogmas e formalismos, a crescente sociedade não era tomada pelo banho do sectarismo religioso; mas, com o rolar do tempo e com o excesso de “catequizadores de índios” e evangelizadores de civilizados, somaram, por demais, as presenças de protestantes que se desmembraram em crentes, evangélicos e, quanto mais ia decaindo esses lotes de religiosos também iam mudando a designação dos religiosos; se a palavra “crente”, já não aprazia os devotos, de “crentes” passaram a se cognominarem “de Jesus”; como ficaram muito afetados, mudaram para pastores, apóstolos, fiéis, simpatizantes, dizimistas e uma variedade, enorme, de denominações desses religiosos.

Em crescente expansão quase igualaram-se, em números e devotos, aos católicos; e passaram a adotar a expressão deles em progressistas e adeptos das seitas da libertação, da prosperidade, amealhando o que podiam dos fiéis, dizimistas; e percebendo que a multidão adotara a riqueza como meio de enriquecimento geral, vendiam pedrinhas britas abençoadas, sangue e suor de Jesus, tudo engarrafado, bonitinho e até sabonetes e perfumes com o cheiro de Jesus; não faltando os minúsculos tijolos tamanho isqueiros, de uma caixa de fósforo; vassouras, panos de prato “ungidos” por Jesus e, assim, com o povo inculto e despreparado; e com os políticos arregimentando gente simples, entram pra junto da galera alienada e foi aumentando a ilusão desse povo injetando, também, seus métodos discretíssimos de politicas e foram fundando igrejas, grupos, facções até adquirirem emissoras de rádios, de televisão, jornais e meios de comunicação os mais variados. Donos de rádios os religiosos alugavam horários em outras emissoras e levantaram o império dos irmãos protestantes de todas as ramificações.

O que sobrou para o verdadeiro cristianismo? A fé de poucos, no entanto, os que pareciam ser os mais atrasados em termos de religiosidade, foram os que das linhas por eles chamadas demoníacas, “coisa do diabo”, quais sejam, as linhas dos caboclos, a Quimbanda, as linhas puramente mediúnicas, as magias negras e brancas, a Umbanda e o Espiritismo, este, recebeu tamanho abandono que não é considerado religião por eles, mas a chamam de ciência, este nome para demonstrar um falso respeito, porque eles não conseguem assimilar as explicações Kardequianas, nem as exotéricas nem as rosacrucianas, etc.

Diante desse avanço de seres sem consistência cerebral — passaram apenas a recolher dízimos, dividendos, casas, residências, 13º salários, carros, móveis — tudo sob o olhar das autoridades que temiam perder o apoio das igrejas e milhares de devotos. Os evangélicos cresceram tanto amealhando milhões pelo mundo inteiro, que coroaram sua glória no Brasil construindo uma célula de entre tantas denominações ramificadas contemplando a maior delas com o nome de Templo de Salomão, a exemplo do primeiro, bíblico, que alguém destruiu.

Com o advento dessa cruzada, o anticristo materialista sugou para suas veias toda sobra em ajudas financeiras com as quais os cristãos mantinham seus hospitais filantrópicos, suas milhares de creches, seus orfanatos, suas instituições destinadas a mães solteiras, a velhos, a doentes mentais, a alcoólatras e a centenas de atendimentos de todo jaez. Era a caridade autêntica em cujas solidificações o anticristo rastelou seus pés transformando tudo em escombros, ficando, nas ruas, os pobres e miseráveis. Sobretudo, os trabalhadores reais da causa do bem que hoje não passam de cidadãos bons que ensinam aos cegos o caminho certo de Jericó. É isto.

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