Hipocrisia pública e cabeças cortadas | por Marcos Vieira

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O governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, disse em entrevista nessa última semana que sua gestão tinha o controle do presídio de Alcaçuz. Piada. Há dois anos que os presos circulam livremente pelos pavilhões naquela penitenciária, porque simplesmente arrebentaram as grades das celas. Não há disciplina em uma cadeia em que os presos circulam a vontade.

Alcaçuz foi construído em um chão arenoso, portanto a coisa mais fácil por lá é cavar um buraco e fugir – muito mais tranquilo que aquelas fugas do desenho do Pica Pau, que até tinha um cavalo do lado de fora esperando o personagem. Na ficção, ao menos, era engraçado.

O Estado brasileiro não consegue manter uma grade de ferro chumbada na parede. Agora, de uma hora para outra, promete medidas para conter o crime organizado dentro dos presídios. Dá para acreditar? Não, mas mesmo assim nos restam poucas alternativas.

Há muito tempo que setores da área da segurança pública em qualquer local do país afirmam que não negociam com líderes de facção. As rebeliões que estão acontecendo dão um indicativo diferente: se o bandido consegue tocar o terror no nível máximo, por que abriria mão disso em outros momentos? A resposta talvez passe pelo fato de que em determinados casos, os pedidos dos chefões acabam sendo atendidos para apaziguar as quadrilhas.

A hipocrisia das autoridades brasileiras é latente, sempre. Ao longo dos últimos dias, relutou-se em entrar nos presídios dominados por facções, utilizando o argumento de que não se queria produzir um “novo Carandiru”. Trata-se do atestado de que a única forma de conter a violência de presos seria matando-os. Isso porque imagina-se um confronto entre tropas bem armadas contra presos, que embora violentos, estariam munidos de facas, paus e pedras.

É de entristecer que não foi possível, mesmo depois de anos e anos, implantar meios que barrem o sinal de celular nas cadeias. Não falo apenas do ponto de vista técnico, mas no aspecto disciplinar mesmo. Grande parte dos diretores de presídios não consegue bancar sozinho uma medida de tal envergadura. Eles precisam do apoio do Estado, já que estão lidando com bandidos que lideram facções com ramificados em todo o mundo. Bater de frente seria mortal.

Até outro dia, o noticiário de início de ano era repleto de cenas de casas desabando em encostas, devido às fortes chuvas do período. 2017 ficará marcado pela barbárie das cabeças cortadas em celas imundas. Regredimos.

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