Ingratidão filial | por Iron Junqueira

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Nada fere mais profundamente aos pais do que a ingratidão do filho que, muitas vezes, se coloca como vítima dos genitores, a fim de se defenderem diante dos outros.

Porque há filhos que, buscando justificar as suas falhas, os seus erros e as suas fraquezas, acrescentam para segundos: “Os meus pais são os culpados. Não souberam me educar”.

Ah! Que crime! Que erro clangoroso! Que espantosa ingratidão a do filho que, não sabendo suportar e nem vencer suas tendências negativas, culpam os próprios pais pelos seus desatinos.

Que infidelidade e desamor as do filho que, não atentando aos conselhos paternos antes, não sabe, depois, sofrer, sozinho, as consequências dos erros que praticara.
O pai tudo faz para que seu filho palmilhe a estrada reta que conduz à vida. Mas, ao cair nas consequências infelizes dos seus desatinos, porquanto não atendera aos corretivos paternais, o filho ingrato passa a condenar os genitores, apontando-os, em público, como irresponsáveis — desumanos!

Bem melhor seria para tal filho, ter ficado órfão, e aprenderia a santificar os desvelos dos pais!

Bem melhor seria nem haver nascido, e não pagaria tão caro, dentro da lei de causa e efeito e do “pagarás ceitíl por ceítil”, por tamanha ingratidão!

O reconhecimento filial é a sublime recompensa que merecem os pais, mesmo os criminosos ou inconsequentes ou irresponsáveis.

E mesmo que os genitores sejam falhos, — porque não se pode exigir perfeição de ninguém num mundo apenas de imperfeitos — cabe ao filho saber perdoá-los, compreendê-los e ser-lhes grato, pois se foi chamado ao “campo de experiência” que acendra e redime, deve ele santificar, com a gratidão, os braços que o acolheram.

Se não estamos autorizados a sermos ingratos e injustos nem com os nossos companheiros de jornada — que nada nos são —, quanto mais com os nossos pais, ou com aqueles que nos querem bem?

Se não estamos autorizados a condenar ou a acusar o criminoso mais execrável, nem mesmo por pensamento, poderemos, então, fazê-lo com os nossos pais?

Ah! Que ingratidão! Que sombras assustadoras não nos entenebrecem a alma!

Urge façamos luz nas sombras que em nós há, não “fazendo aos outros, o que não desejaríamos nos fizessem eles”.

Gratidão não se deve ter apenas aos pais ou aos que nos são bons e nos são caros, mas também a todos os que nos cercam a existência. Sem eles não conquistaríamos o tesouro das virtudes, que está relacionado diretamente ao próximo, porque é só o próximo que nos força à paciência, à tolerância, à caridade, à compreensão, fazendo-nos sentir que, fora desses preceitos benevolentes uns para com os outros, não seremos felizes tão cedo!…

E não só com uns e outros é que devemos gratidão, mas também e principalmente com os nossos inimigos e com os criminosos e com os maus de toda espécie: “se os sãos não precisam de médico”, eles são os merecedores mais diretos do nosso reconhecimento, porquanto nos dão a conhecer de que nos poderá ocasionar os erros, através de suas consequências; porque nos mostram os seus drásticos sofrimentos, como se estivessem a nos dizer: não faze o que eu fiz — “ou grande será atua ruína”!

Devemos gratidão também e principalmente para com eles porque são, na realidade, os moldadores de nossas almas, requisitando-nos paciência, tolerância e virtudes em geral, para vencê-los sem feri-los, e para sermos, finalmente, felizes, como são felizes todos os justos.

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