Salvem as livrarias ou pelo fim da superficialidade | por Marcos Vieira

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Até outro dia tinha uma livraria no Brasil Park Shopping. Fechou. Já faz um tempo que um sebo de livros bacana, que ficava em frente à Praça Santana, também encerrou as atividades. Anápolis, com quase 400 mil habitantes, se limita a duas livrarias, tradicionais: a Cultural e a Opção Cultural, na Rua Barão do Rio Branco, no quarteirão entre a Rua 14 de Julho e a Rua General Joaquim Inácio. Ambas não vendem somente livros novos – pelo contrário, tem muita coisa usada e boa nas prateleiras. Também é possível encontrar camisetas de banda de rock e vinis usados. É preciso diversificar para sobreviver.

Sei que existem livrarias gospel na região central. Conheço também um estabelecimento que vende basicamente livros técnicos para operadores do Direito no Fórum. Mas livraria mesmo, daquelas com todos os tipos de literatura, com poltronas e café, vendedores que conhecem um pouco do que estão vendendo e até dão sugestões, Anápolis não tem.

Livraria é negócio e não filantropia. Ninguém vai abrir um comércio para vender livros em um local que ninguém quer comprar. Grandes empresas estudam o mercado local antes de pensar em abrir uma franquia. O que vemos por aqui é muito fast food e farmácia de grandes redes, mas quase nada diferente disso. Isso revela um pouco o que somos?

Outro dia um seguidor do Instagram do JE disse que ninguém clicaria em um link que levava para o portal do jornal, para ler uma reportagem completa. Segundo ele, o ideal é que se colocasse o ‘resumo’ da notícia lá mesmo, na rede social, porque “site é tenso”. Lógico, ele não queria ler um texto com mais de um parágrafo. Fiquei pensando: tenso mesmo é um livro de 400 páginas, sem figuras, saca?

Não é o caso de criticarmos apenas a geração atual, porque em nenhum momento da história o brasileiro foi adepto dos livros, mas a tendência agora é que a coisa piore. As redes sociais não criaram apenas abreviaturas, mas acabaram por fazer os mais jovens mergulharem em uma linguagem telegráfica, irritante e superficial. Grupos de Whatsapp de notícias são tão econômicos, por falta de informações e de vocabulário mesmo, que chegam a ser frios. “Morreu criança. Filostro. Atropelado”.

Há uma cruzada desde sempre, nas salas de aula, dos professores cobrando maior frequência na biblioteca, e nos jornais, dos bons profissionais que entendem que a notícia precisa ser completa e interessante, que deve agregar à vida da pessoa, a medida que lhe capacita para discutir cada vez mais assuntos, com mais argumentos. Superficialidade é irritante e não consegue enganar o tempo todo. Salvem as livrarias.

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