O Boi, o carrapato e a Carne Fraca | por Randerson Aguiar

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Para falarmos da importância do Boi na economia goiana e brasileira, iniciemos pelos dados do setor. Segundo o nosso presidente da Faeg, José Mário Schreiner, “o setor agropecuário, que produz a carne consumida pela população, é o mais seguro e sustentável do mundo”. Ainda segundo Schreiner, “os pecuaristas goianos cumprem com responsabilidade e orgulho todos os protocolos sanitários necessários para garantir a saúde dos rebanhos e a qualidade da carne produzida, em cumprimento às mais exigentes legislações de saúde animal e segurança alimentar”.

Goiás é referência na pecuária brasileira, tem um total de 115 unidades industriais de processamento das carnes bovina, suína e de aves, 29 sob inspeção federal e 86 sob inspeção estadual. Do total de plantas industriais, apenas uma está sob investigação. O rebanho goiano é de 363 milhões de cabeças bovinas, suínas e de aves (6% do total nacional). Goiás produziu, em 2016, mais de 1,7 milhão de toneladas de carne, sendo exportadas 443 mil toneladas, representando R$ 10 bilhões de receita bruta, empregando direta e indiretamente perto de 40% da força de trabalho rural do estado.

Diante da grandeza dos números, é possível observar a importância do setor na economia, que nos últimos anos só está viva graças ao agronegócio. Porém, mesmo sendo a tábua de salvação econômica da combalida economia brasileira, foi alvo de uma desastrosa atitude de órgãos federais na operação Carne Fraca. Empresas e funcionários corruptos foram presos e afastados e neste aspecto foi positivo, projetando mais segurança ao consumidor em relação à carne goiana, brasileira e não deixou incerteza ou insegurança aos milhões de consumidores de carne, no Brasil ou no exterior.

Mas a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, detectou a mais nefasta faceta da maquinaria pública: a falta de análise. Praticou-se o absurdo, condenando toda cadeia produtiva baseado no senso comum, ignorando de forma intransigente o interesse nacional. Aí entra o Boi e o carrapato: para matar o carrapato, para eliminar os parasitas (funcionários públicos e empresários corruptos que sugam o país) mataram também o Boi, nosso setor primário de exportação que durante anos lutou para acessar mercados como China, Itália, Coreia do Sul e outros. Numa falta de nacionalismo extrema fizeram da maior operação já vista um show desnecessário de exposição midiática, a condenação e execução sumária da reputação do Boi (carnes brasileiras) no mercado internacional.

No caso da Operação Carne Fraca, as consequências desse exagero midiático não seria necessário, bastasse uma exposição menor e um rigor cáustico para o desmonte da quadrilha, prendendo os culpados, mas não expondo e tornando vulnerável toda a carne exportada do país. Os anos de investimento para livrar o país da aftosa foram simplesmente ignorados, a conquista de novos mercados, os links para as exportações ficaram comprometidos pelo exibicionismo irresponsável.

O jornalista Luís Nassif, em seu artigo ‘A Carne Fraca e o Reino dos Imbecis’, fez uma crítica louvável à operação. “Veja bem, não se está falando de capacidade analítica de entender os jogos internacionais de poder, a geopolítica, o interesse nacional, as sutilezas dos sistemas de apoio às empresas nacionais. A questão em jogo é muito mais simples: é saber discernir entre uma operação discreta e outra que afeta a imagem do Brasil no comércio mundial e os impactos dessas ações nos chamados interesses nacionais”, escreveu o profissional.

Neste processo de “combate” à praga, o carrapato (corrupção), também sacrificaram o Boi, na sede de se “fazer” justiça, não levaram em conta que ao gritar para todo mundo que a fiscalização brasileira junto com empresários, um grupelho sem escrúpulos, que estavam realizando uma jogatina corrupta para colocar carne alterada no mercado, fora dos padrões de fiscalização estavam empurrando o Boi no precipício, colocaram na vala comum toda a produção de proteína animal que é um patrimônio brasileiro conquistado com muito suor e sacrifício de produtores e empreendedores que não são reconhecidos por muito setor da sociedade brasileira.

Randerson Aguiar é diretor do Sindicato Rural de Anápolis e produtor rural

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