Piancó, Anicuns e Capivari que vão garantir água por 30 anos para Anápolis

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FERNANDA MORAIS

Três anos: esse é o prazo dado pela Saneago para resolver o problema da falta de água em Anápolis. Com as obras projetadas, explica a gerente da empresa em Anápolis, Tânia Valeriano, o abastecimento estaria garantido pelos próximos 30 anos. As intervenções vão custar R$ 118 milhões e a profissional informa que R$ 50 milhões vão vir de um empréstimo feito pela Prefeitura de Anápolis. Nesta entrevista, Tânia diz que a reordenação do uso da água da bacia do Piancó deve garantir um período de estiagem menos complicado em 2017, mas só as intervenções resolvem o problema definitivamente. De maneira emergencial, a Saneago vai buscar água no Capivari – no futuro, essa captação será definitiva. A gerente falou ainda sobre o projeto de preservação de nascentes do Piancó e o trabalho para conter perdas na rede, que em Anápolis já chegou a 52% da água tratada. Leia a entrevista.

O que tem sido feito para preservar as fontes de água em Anápolis?
Nós temos em andamento o projeto “Ser Natureza”. A coordenação é do Ministério Público e os parceiros são Saneago, Secima, Emater e produtores rurais. O trabalho é feito em duas vertentes dentro da bacia hidrográfica. A primeira é a recuperação ambiental e a segunda trata da ordenação do uso da água. Na recuperação já começamos o reflorestamento de algumas áreas e o cercamento de nascentes. Assim que acabar esse período de chuva, vamos iniciar o trabalho de conservação de solo. Os recursos são da Saneago, que inicialmente vai disponibilizar R$ 720 mil, mas há outros parceiros.

Qual a expectativa desse projeto?
A expectativa é recuperar todas as nascentes da bacia no prazo de três anos. São 85 no total. Observamos que algumas delas estavam secas e não brotavam água nem no período chuvoso. Depois que elas foram cercadas, a água voltou a aflorar normalmente. A ordenação do uso do benefício também é fundamental. A Saneago e a Emater contribuíram com o cadastramento das propriedades rurais e repassou as informações para a Secima. O órgão agora vai emitir a outorga coletiva de uso no sentido de informar cada produtor a vazão máxima que eles podem extrair. Dessa forma eu acredito que vamos ter condições de que os produtores continuem produzindo de forma ordenada sem prejudicar o abastecimento da cidade.

Teremos um período de estiagem menos preocupante esse ano?
Existe essa expectativa. A gente fez algumas obras e temos outras ainda previstas. Considero como principal motivo para que tenhamos um período de estiagem mais tranquilo essas questões de atuação dentro da bacia – a recuperação ambiental e a ordenação do uso. As obras que estão em andamento são as melhorias nas captações existentes. No dia 23 de março, inclusive, o prefeito Roberto Naves esteve na presidência da Saneago, em Goiânia, fazendo os últimos acertos para a questão dos recursos previstos a serem investidos na cidade. Serão R$ 118 milhões para o sistema de água. Esse valor será dividido em obras emergenciais a serem executadas em um ano e meio, e as outras obras definitivas para três anos. São R$ 100 milhões para as obras definitivas e R$ 18 milhões para as obras emergenciais.

A Prefeitura de Anápolis pegará empréstimo para compor esse valor?
A prefeitura vai pegar empréstimo no valor de R$ 50 milhões para que Saneago faça o pagamento; R$ 18 milhões são recursos diretos da Saneago e os outros R$ 50 milhões do tesouro do Estado. Boa parte dessas obras deverá se iniciar ainda em 2017, só que são obras de médio e grande porte, que dependem de processo de licitação e provavelmente começam no segundo semestre. Portanto, não devem surtir efeitos ao longo desta estiagem e sim para o próximo ano. Temos a expectativa de construir uma captação provisória no Capivari. Isso já estava acertado, nós iríamos fazer no ano passado, mas devido a uma questão com o Dnit – o órgão licitou a construção de uma terceira faixa no trecho da rodovia por onde passaria a tubulação – então tivemos que alterar o projeto e isso acabou retardando o seu início. São obras razoavelmente rápidas e temos a esperança de concluí-las até setembro. As demais obras, que são a ampliação da estação de tratamento, ampliação da própria captação no Piancó I e a construção da captação definitiva do Capivari, que vai ficar a 30 quilômetros da cidade, e que são as obras definitivas, essas têm previsão de conclusão em 36 meses após serem iniciadas.

Essas obras acabariam definitivamente com a falta de água?
Sim, pelo menos para manter o abastecimento por 30 anos. Teríamos por exemplo uma estação de tratamento que na sua vazão máxima produziria para uma população que ainda vai surgir daqui a 30 anos. Com base nos estudos que já existem, para nós termos a maior disponibilidade de água é preciso esse conjunto, Piancó, Anicuns e Capivari. A soma dos três é o que vai garantir o abastecimento da cidade. Já está em andamento a contratação de um novo estudo de concepção. Isso é um ganho muito grande e foi uma cobrança feita pelo atual prefeito, que foi atendida. O estudo é para não deixar o futuro chegar para só assim fazer algo. Teremos condições de trabalhar de forma planejada para não chegar ao que passamos nos últimos anos. Tínhamos obras em andamento, mas que chegaram atrasadas causando problemas de desabastecimento. Concluímos a primeira etapa de ampliação em 2014, nossa capacidade de produção passou a atender a demanda, mas aí esbarramos no problema do manancial. Com essas obras, com mais uma captação, no Capivari, teremos condições de continuar abastecendo sem riscos.

É necessária a construção de um novo reservatório?
Esse novo estudo de concepção vai levantar essa possibilidade. Não só a possibilidade, mas a viabilidade. De início vai ser estudada a possibilidade de utilizar a água do Corumbá, do João Leite ou a construção do represamento.

O índice de perda de água tratada ainda é grande? O que tem sido feito para melhorar?
Temos um trabalho intenso desde 2011 que foi intensificado de lá para cá. De 2011 a 2014 nós nos dedicamos muito a diagnósticos. Perdas em sistema de abastecimento são peculiaridades das localidades. Não se tem receita pronta para evitar, ou uma tecnologia, ou até mesmo metodologia de trabalho que tenha dado certo em um município que dê certo nos demais. Cada localidade tem essas perdas concentradas em alguma área. Fizemos todo um levantamento, muito bem detalhado, e até 2011 a gente tinha muito problema com cadastros, medição das áreas para comparar o que estava sendo faturado com o que estava sendo produzido. E aí a partir de 2014 nós tivemos um avanço muito grande no combate às perdas através de ações como a implantação de válvulas de controle de pressão. Hoje já temos mais de 100 válvulas de controle de pressão instaladas em toda a cidade.

Como funcionam essas válvulas?
Com a pressão da água controlada temos menos vazamentos. E mesmo quando ocorrem os vazamentos, a perda é menor. Aqui em Anápolis temos um relevo muito acidentado e isso faz toda a diferença. Se a gente comparar com uma cidade grande, próxima à nossa, que é Goiânia, eles tem menos de 50 válvulas redutoras de pressão instalada em toda a cidade por conta dessa questão de relevo. Aqui em Anápolis nós tínhamos situações em que a pressão na rede passava de 90 metros de coluna d’água, quando o máximo, ideal, é de 40. Então a gente estava acima do dobro. Na região da Fabril, a gente tinha pressão elevadíssima e isso aumenta muito a incidência de vazamentos.

Existe outro trabalho sendo feito para evitar essa perda?
Sim. Temos feito o trabalho de pesquisa de vazamentos. Temos feito uma pesquisa mensal em 10 mil imóveis, através de vistoria para verificação de vazamentos ocultos nos ramais. Do ano passado para cá, em 12 meses, foram retirados 1,8 mil vazamentos não visíveis. Essa água some, não aflora no asfalto ou calçada, por exemplo, e resulta na perda constante do benefício. Outra atividade que foi intensificada em 2016 foi a substituição de redes antigas.

E o índice de perda?
Com essas ações, nós saímos de um índice de perda altíssimo de 52%, em 2008, para 50% em 2011. Hoje estamos com 40% numa tendência decrescente contínua. O importante é em um trabalho de perda, avaliar realmente se o planejamento está dando certo para dar continuidade no projeto. A expectativa é que nos próximos dois anos possamos estar abaixo da média de perda nacional que é de 37%. A meta da Saneago é chegar a índice de perda de 28% em até três anos.

Como está a cobertura de esgoto na cidade?
Temos 68% de cobertura do serviço na cidade com obras em andamento. As obras foram paralisadas no período de chuva, mas tem previsão de retorno para o mês de abril com três frentes de serviço. Assim, a meta para os próximos três anos é alcançarmos a cobertura de 90%. Com certeza, com esse índice, vamos estar bem à frente da média nacional. Temos 99% de atendimento com água tratada e com esses 90% de cobertura esgoto atingiremos a meta de países de primeiro mundo.

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