“O acesso à saúde é o que dá dignidade para as pessoas”

Luiz Cláudio=Ismael Vieira 05,04,17 (1)

Médico Luiz Cláudio Resende fala sobre a abertura em Anápolis de um dos maiores hospitais privados de Goiás

MARCOS VIEIRA

Em funcionamento desde o final de março, o Ânima Centro Hospitalar, no alto da Avenida Brasil Norte, surge como uma das principais unidades de saúde da rede privada em Goiás. São mais de 70 médicos de diversas especialidades, prontos-socorros adulto e infantil, três UTIs, enfermarias, centro cirúrgico, laboratório e centro de imagem completo. O hospital possui 13,5 mil m² de áreas construída, onde estão mais de 100 leitos de internação, além de 200 vagas de estacionamento. O idealizador do Ânima e seu diretor, médico urologista Luiz Cláudio Resende, recebeu o JE na quarta-feira (5) para falar do projeto. Segundo ele, o objetivo é cuidar do paciente em sua integridade. A proposta, inclusive, passa pela escolha do nome. Ânima em latim significa alma. Leia a seguir a entrevista.

Como surgiu a proposta de criação de um hospital deste porte aqui em Anápolis?
Primeiro surgiu da necessidade, visível, sobretudo nas últimas décadas, pois muitos hospitais foram fechados na cidade. Isso nos motivou a pensar em uma unidade um pouco maior, porque o hospital, quanto menor é, maior a dificuldade de manutenção dele. E outra coisa, a necessidade também de conseguirmos montar uma estrutura que fornecesse ao paciente a otimização em toda a sua área de atendimento. Aqui você tem um hospital onde se faz tudo no mesmo lugar. Você tem uma facilidade de estacionamento, você tem uma facilidade de logística em relação ao norte do Estado – pois Anápolis é uma referência para a região centro-norte de Goiás – e temos aqui um centro ambulatorial com todas as especialidades, um centro de diagnóstico com todos os exames que se faz hoje, um pronto-atendimento infantil, adulto e ortopédico, centro cirúrgico e laboratório. Quer dizer, o indivíduo chega aqui e resolve todos os seus problemas dentro da unidade. Essa era nossa pretensão, de fazer algo que facilitasse a vida do anapolino e da população de toda região.

É um hospital com atendimento somente particular?
Ele não atende SUS, mas atende planos de saúde e atende pacientes privados.

O senhor acredita que a criação dessa unidade contribui para o sistema de saúde como um todo?
Existe uma demanda reprimida grande em Anápolis, que inclusive vai para Goiânia. Existe uma população que procura Goiânia, por atendimento.

Como não transformar a medicina em meramente um negócio?
Mas a medicina não é meramente um negócio. Quando você faz a medicina privada, toda a estrutura precisa subsistir. A medicina pública tem o recurso público e a privada tem o recurso que vem das pessoas que são os usuários, ou os planos de saúde, ou do próprio paciente que paga pelo seu procedimento. Nosso princípio aqui e nosso valor é tratar humanos. O fato de você pagar por um procedimento não significa que ele está sendo indicado de forma inadequada, não significa que há algum tipo de desumanização. O nome desse hospital, por sinal, eu escolhi visando a valorização do ser humano como um todo. Ânima significa alma em latim. Falo isso muito para os funcionários: lembre-se sempre que você está lidando com pacientes, que têm sentimentos. Então o fato de o paciente pagar, ou ter condições de ter um plano de saúde que pague pela sua atenção à saúde, não significa que seja menos digno, ou que essa medicina seja menos digna. Isso é muito claro.

E o senhor foi buscar que tipos de especialistas?
Hoje temos aqui todas as áreas de especialidades. Só médicos novos que chegaram a Anápolis para trabalhar neste hospital são mais de 40. E temos os médicos da cidade que nos prestigiam e vão trabalhar aqui.

Historicamente Anápolis é pioneira na medicina, sobretudo quando se fala em grandes centros médicos em uma cidade do interior. O Ânima se enquadra nessa tradição?
É muito interessante. Hoje não existe no Estado um hospital privado com essa estrutura. Temos hoje uma construção que é muito sólida, que foi feita baseada no que as normas exigem, estamos bem equipados. Esse início não é simples, mas estamos inovando muito. É um hospital privado que tem prontuário totalmente eletrônico. Anápolis foi pioneira no passado com o Hospital Evangélico Goiano e passa a ser pioneira novamente, com o Ânima. Anápolis tem de fato essa vocação, porque a situação da saúde foi ficando tão complexa, com um só hospital, praticamente, porque os outros foram fechando, que se criam oportunidades. Por que não fazer um hospital desses em Goiânia? Porque lá são muitos hospitais, mais de cem. Aqui não, aqui você tem uma unidade que você sabe que se fizer o trabalho, existe demanda sem o menor problema. Só temos que organizar para que a coisa funcione de forma adequada.

O senhor traz a experiência do Huana para esse novo projeto?
A experiência de tentar fazer o melhor. Eu fui diretor do Hospital de Urgências por dez anos, era diretor técnico, são situações muito diferentes. O recurso público é bem maior, mas você tem alguns entraves também no sistema. O que eu penso como filosofia de vida? Eu, Luiz Cláudio, acho que consegui contribuir para fomentar uma ideia, com a ajuda da irmã Rita [Cecília, presidente da Fasa, mantenedora do Huana] e das pessoas que nos motivaram, que o hospital público tem que funcionar bem. Acredito muito nisso, que um hospital público tem que funcionar bem para o trauma, para o acidente grave. Eu e minha família já fomos atendidos no Hospital de Urgências como muitas pessoas da cidade. Então isso me faz achar que valeu muito a pena, mas sempre nesse princípio de honestidade, de ética, do bom atendimento. O que eu percebi na minha vida no Hospital de Urgências? Que eu podia fazer mais, que Anápolis merecia mais. A gente poderia ficar só lá, que já seria uma realização, mas eu falei “gente, se a gente fizer um serviço público que funcione bem, e um serviço privado que funcione bem, a gente atua nas duas frentes”. Com isso, a gente desonera o Estado um pouco e tem uma questão muito interessante, quando você atende plano de saúde, fomenta a atividade de planos de saúde empresariais, você dá mais dignidade para as pessoas. O acesso à saúde dá muita dignidade à população. A ideia é essa. Com o mesmo carinho e tenacidade que trabalhei no Hospital de Urgências, eu estou trabalhando aqui, agora. Repito: é mais difícil, estou achando, porque na verdade quem pagava a conta lá era o governo. E aqui a gente tem que dar um jeito, conseguir empréstimo ou financiamento, e o Brasil é um país difícil para empreender, mas é a mesma filosofia. Eu entendo que o público tem que funcionar bem, e o privado tem que funcionar bem. A pessoa que tem a capacidade por esforço próprio de pagar um plano de saúde, de ter conseguido algo que lhe dê uma maior estabilidade, ela tem o direito. O ideal é que fosse tudo público, mas não é nossa realidade. O País não aguenta isso, não temos uma Nação economicamente viável. E essa nova frente de batalha. Vamos ver como estarei daqui a dez anos (risos).

O senhor não deixará o consultório?
Todo mundo está dizendo que eu teria que largar, que não tem jeito, mas eu não sei, vou tentar não abandonar meu consultório. Porque eu sou um indivíduo que tenho uma felicidade muito grande, eu sou um médico vocacionado. Eu exerço minha profissão com muita alegria. Às vezes penso que não vou conseguir, que é trabalho demais, mas se for necessário no futuro, seria um preço muito alto a pagar. Realmente eu não estou disposto a pagar esse preço. Claro que é uma estrutura enorme, mas conto com pessoas que podem nos ajudar, vamos encontrar pessoas capacitadas, mas não está nos meus planos abandonar meus pacientes. Só em Anápolis eu tenho quase 30 mil pacientes. Então eu tenho um ego muito grande em relação a eles. Não é minha pretensão, quero continuar atendendo. Esse hospital foi feito para a população, mas o prazer do consultório, esse é meu, é minha satisfação pessoal.

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