Crise reduz mercado e empurra trabalhador para informalidade

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Anapolinos enfrentam os desafios de sobreviver durante época de recessão de diferentes maneiras. Afinal, o 1º de maio merece comemorações por parte da classe trabalhadora brasileira?

ANA CLARA ITAGIBA

A economia mudou e consequentemente o mercado de trabalho também. Com a crise financeira que assombra o país nos últimos anos, houve um recorde de 14,2 milhões de pessoas desempregadas em todo o País, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso fez com que milhares de pessoas precisassem se reinventar para conquistar espaço novamente e sustentar as suas famílias.

É o caso da Dalila Daiane Gomes, que há dois anos faz cocada com o esposo para vender no cruzamento da Avenida Brasil Sul com a Rua Amazílio Lino, no Centro. Dalila explica que no começo era melhor, mas devido à crise as vendas caíram aproximadamente 70%. Apesar disso, a vendedora prefere trabalhar sem a carteira assinada, pois consegue fazer os seus horários. “Eu trabalhava como fotógrafa em uma loja, mas agora se eu precisar levar meus filhos para algum lugar, eu levo”, afirma.

Não é diferente com Carlos Augusto da Silva que também trabalha como vendedor. Ele vende frutas há seis meses no cruzamento da Avenida Mato Grosso com a Avenida Ana Jacinta, no Jundiaí. “Depois que eu cai nessa de ser vendedor eu não quero mais trabalhar de carteira assinada. A gente ganha melhor aqui. Antes eu era operador de máquinas industriais, pedreiro, pintor, colorista e garçom. Aqui a gente consegue uma diária que cobre essas coisas. Não dá para viver hoje com um salário mínimo. Tem gente que dá conta, mas isso é cruel”, conta Carlos, que tem quatro filhos.

Carlos fica de segunda a sábado, das 9h às 18h30 neste ponto e diz que apesar do cansaço, gosta muito do que faz. “Antes eu ficava no ponto da Rua Barão [do Rio Branco], um cara me deu esse ponto para eu vender. Eu gostei desse pelo fluxo de carros e pelo pessoal mais educado que passa aqui”, explica o vendedor que diz sofrer muito preconceito. “Muita gente discrimina a gente aqui, mandam a gente procurar serviço, mas eu acho que isso que eu faço é um serviço digno para qualquer um”, conclui.

SALDO
Dalila e Carlos buscaram novas formas de garantir o dinheiro no final do mês, enquanto isso, no ano passado o saldo de geração de empregos em Anápolis ficou negativo. A reportagem do JE conversou com a secretária municipal de Desenvolvimento, Trabalho, Emprego e Renda, Nair de Moura Vieira, para saber como está o índice deste ano.

“Esse primeiro trimestre de 2017 foi uma grande vitória. Nós estamos com um saldo positivo em geração de postos de trabalho em Anápolis”, afirma. O balanço dos três primeiros meses de 2017 aponta para um saldo positivo de 192 vagas, sendo que foram 8.807 admissões e 8.615 demissões no município. O setor que mais contratou foi o de serviços com 370 vagas, seguido pelo setor de indústrias com 241. O que mais demitiu foi o setor de comércio, contabilizando um saldo negativo de menos 285 postos de trabalho.

Segundo os dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Trabalho, Emprego e Renda, dos 3.072 trabalhadores admitidos, 260 foram para o primeiro emprego e 2.695 foram reempregados. Este ano realmente começou melhor se comparado ao mesmo período em 2016. No primeiro trimestre do ano passado foram 8.762 contratações, 9.728 demissões e um saldo negativo de menos 966 vagas de trabalho.

A secretária acredita que isso gera uma expectativa boa por parte dos trabalhadores e dos empresários. “É esperado que nesses primeiros meses do ano em todo país que haja uma retração de vagas em todos os setores e nós conseguimos fechar bem. Uma expectativa boa por parte dos empresários pode fazer com que eles façam novos investimentos e assim nós esperamos cada vez mais postos de trabalho”, afirma Nair.

O objetivo é aumentar mais a oferta de emprego ao longo do ano. Algumas empresas estão dispostas a investir no município, como é o caso da BioScie, que há uma expectativa de geração 500 empregos diretos e a Farmtrac, que também deverá trazer novos postos de trabalho para Anápolis. “Quando alguma empresa se instala no município, há uma geração de empregos indiretos no setor de construção civil. Isso gera um efeito multiplicador na economia da cidade. Se há a geração de novas vagas as pessoas começam a receber os salários, consequentemente há consumo maior e isso incentiva o setor do comércio a gerar novos postos de trabalho”, explica a secretária municipal.

Nair diz que isso não acontece do dia para a noite, porque primeiro deve-se começar a fazer os investimentos, além disso, é preciso um tempo para que a planta industrial seja instalada. “Mas há uma expectativa para que ao longo desses primeiros anos, além dessas outras empresas que já estão anunciando, já temos uma que já está sendo instalada”, conta. É o caso da Caracal, empresa de armamentos, que deve entrar em operação em aproximadamente um ano e que vai gerar cerca de 600 empregos diretos.

PREPARAÇÃO
“As pessoas precisam se preparar para inserir nesse mercado buscando não somente as qualificações oferecidas nos cursos técnicos, mas também é preciso desenvolver habilidades que o mercado de trabalho tem exigido”, diz Nair de Moura.

A secretária, que foi professora de Economia por 23 anos na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), listou algumas habilidades que as pessoas podem desenvolver para se sobressair na hora de uma contratação. É preciso desenvolver espírito de liderança, aprender a falar outras línguas, que ser multifuncional para entender o mecanismo de funcionamento da empresa, ter oratória, boa escrita e ser interdisciplinar.

Depois de uma contratação, o trabalhador deve pensar em seu comportamento dentro e fora da empresa. Ele deve saber conversar, falar na hora certa e se vestir da forma correta de acordo com o ambiente. Saber trabalhar em equipe também é fundamental, pois hoje não existem mais aqueles cargos individualistas. “Com essas habilidades e competências, eu acredito sim que sempre haverá uma vaga no mercado de trabalho”, conclui.

Anápolis tem ato em dia de greve geral

Anápolis também teve manifestação nesta sexta-feira (28) dentro da greve geral proposta por sindicatos e entidades de todo o Brasil, contra as reformas trabalhistas e da Previdência Social e em protesto à aprovação da lei da terceirização – todas são propostas do presidente Michel Temer (PMDB).

A movimentação teve início às 5 horas da manhã na Praça Americano do Brasil com a presença de presidentes e dirigentes dos sindicatos que compõem a Ustra (União Sindical dos Trabalhadores Anapolinos). Em seguida, mais sindicatos incorporaram-se ao ato aumentando o número de manifestantes.

Com a utilização de carros de som, instrumentos musicais e discursos contra as medidas governamentais aprovadas no Congresso Nacional, o movimento recebeu a adesão de populares e outros trabalhadores. O Sintego, o Sinpror e o Sintect, entidades sindicais anapolinas se uniram aos dez sindicatos que compõem a Ustra e percorreram as principais ruas do centro da cidade.

No período da manhã, alunos da Universidade Estadual de Goiás (UEG) fecharam trecho da BR-060 em frente ao Campus Henrique Santillo, em apoio à causa dos trabalhadores e para reivindicar melhores condições das unidades da UEG em Anápolis.

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