Coronel diz que dependência de Goiânia trava a segurança pública em Anápolis

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Constatação foi feita pelo comandante do 3º CRPM, coronel Valente, que pediu ajuda da Acia para buscar melhorias para a cidade

MARCOS VIEIRA

O comandante do 3º CRPM, coronel Giovanni Valente Bonfim Júnior, pediu apoio da Associação Comercial e Industrial de Anápolis (Acia) para que a área de segurança pública local deixe de ser dependente de Goiânia. Convidado da entidade na última quarta-feira (10), o oficial alertou que sem investimentos, a tendência é que Anápolis deixe o segundo lugar e passe a ocupar, em pouco tempo, a segunda posição no ranking da violência em Goiás, ultrapassando Aparecida de Goiânia.

Valente explicou que Anápolis sofre impacto maior por estar entre duas capitais, Brasília e Goiânia. Qualquer ação contra o crime nessas duas cidades faz com que os bandidos busquem refúgio em solo anapolino. A proximidade com o Entorno do Distrito Federal, região conhecida nacionalmente pela insegurança – e que por isso tem atenção especial das autoridades – acaba também fazendo com que criminosos migrem para Anápolis.

O comandante afirmou que seu efetivo é insuficiente para cobrir Anápolis. Não há, por exemplo, policiais que poderiam patrulhar a região central da cidade a pé, em dupla, o que daria efeito positivo para reduzir crimes como furto e roubo a pessoas e a estabelecimentos comerciais. Também faltam viaturas para o combate ao crime organizado – a Companhia de Policiamento Especializado (CPE) possui somente dois veículos para o trabalho ostensivo.

A falta de viaturas para o patrulhamento diário é um dos principais entraves da segurança pública em Anápolis. Segundo o coronel Giovanni Valente, são apenas 37 para uma cidade de mais de 350 mil habitantes e centenas de bairros. Com a transferência de quase 600 presos de Aparecida de Goiânia para Anápolis, no final de fevereiro, e o uso de parte das viaturas para a segurança do novo presídio, a situação ficou ainda mais grave, contribuindo para o aumento de alguns crimes durante o período.

Anápolis é uma das poucas cidades goianas cuja curva de ocorrências registradas pela Secretaria de Segurança Pública é ascendente. O comandante do 3º CRPM apresentou quadro comparativo entre abril de 2017 e o mesmo mês do ano passado. Os homicídios cresceram 81,82% – de 11 para 20 mortes. O roubo a residência teve avanço de 212,5%, pulando de oito para 25 casos.

Para o coronel Giovanni Valente, é possível reverter esses números e ele já tem um planejamento elaborado para o 3º CRPM, mas sem investimentos em efetivo e equipamentos, nada poderá ser feito. “É necessário interesse político. Anápolis tem que ser tratada no mínimo igual Aparecida”, comentou o oficial, pedindo à Acia que interceda a favor da cidade. Segundo ele, durante muitos anos a entidade batalhou para ter um representante na área de indústria e comércio no governo. “É hora de pensar na importância de lutar por alguém na segurança pública”, comentou.

Ações
O oficial apresentou, em linhas gerais, algumas ações urgentes para a segurança pública anapolina. Uma delas é transformar a CPE em Batalhão de Operações Especiais, passando de 60 para 150 integrantes. Esses 90 novos homens seriam distribuídos da seguinte forma: 40 para o Choque, pois Anápolis não tem esse tipo de policial, 20 para o Giro, que é o policiamento especializado em moto, e 30 para compor a já existente CPE.

Valente disse aos empresários que pretende de maneira mais imediata, transferir o quartel da CPE da Cidade Jardim para o Conjunto Filostro Machado. Ao levar a tropa especializada da Polícia Militar para o bairro mais violento de Anápolis, o comandante pretende gerar um impacto positivo na região. Questionado se a CPE na Cidade Jardim não está mais bem localizada estrategicamente, possibilitando alcançar qualquer ponto da cidade mais rapidamente, Giovanni Valente disse que o local da sede não tem importância, já que as viaturas não ficam no quartel, mas sim nas ruas, em ronda, 24 horas por dia.

O comandante do 3º CRPM também disse que é preciso batalhar junto à cúpula da segurança pública estadual para que Anápolis receba mais efetivo. São precisos pelo menos 90 homens para o patrulhamento a pé em áreas de grande concentração de comércio. A cidade também tem grande déficit de viaturas para o policiamento diário e já deveria ter um helicóptero próprio para o policiamento aéreo.

Tropa, viatura e, lógico, armamentos, são componentes básicos para qualquer planejamento de segurança pública. “A viatura parada em pontos estratégicos, com o giroflex ligado, inibe o crime, inclusive o homicídio”, explicou o coronel Giovanni Valente. Outra necessidade de Anápolis, que está nos planos do comandante, é criar um serviço de denúncias específico para quem recebe ameaça de morte. O número seria o mesmo, 190, mas haveria policiais para atender esse tipo de ocorrência.

Levantamentos da PM e da Polícia Civil já mostraram que pelo menos 90% dos assassinatos em Anápolis são execuções. As vítimas geralmente já são do mundo do crime e possuem passagem pela polícia – elas acabam morrendo por disputa de poder ou mesmo dívida de drogas. A PM entende que qualquer homicídio é maléfico para a cidade, portanto espera com a linha telefônica especial, ver mães, esposas ou filhas desses homens ameaçados informando o risco que eles correm. Para os parentes, é preferível vê-los pagando o crime à Justiça do que como vítima de um homicídio.

O coronel Giovanni Valente revelou que em Anápolis são 350 mandados de prisão em aberto. A PM já iniciou um trabalho para captura dessas pessoas, embora não há espaço nos presídios. “Tornozeleira? Entendo que não funciona”, comentou o comandante do 3º CRPM.

A crise penitenciária também foi tema da reunião, pois causa impacto direto na segurança local. O comandante do 3º CRPM defendeu que políticos e entidades não deixem de pressionar o governo para retorno dos presos para a Penitenciária Odenir Guimarães (POG). Líderes do crime organizado também precisam ir para presídios federais, de segurança máxima. Sobre o presídio antigo, Valente afirmou que não há nada a ser feito, a não ser derrubá-lo.

Prevenção
O assessor especial de Segurança Pública da Prefeitura de Anápolis, delegado Glayson Reis, disse na reunião da Acia que entende que o combate à criminalidade não passa somente pelo aumento de um efetivo, mas sim por ações que busquem a prevenção. “Falamos aqui de tragédias acontecidas. Receber mil homens para a tropa não vai acabar com os crimes, pois é preciso atacar a origem do problema”.

Glayson falou que tem trabalhado a implantação de um projeto chamado “Vizinhança Solidária”, com participação das associações de moradores. A proposta é envolver o bairro em ações de prevenção ao crime. Qualquer anormalidade em uma praça ou mesmo em uma casa, todos os vizinhos estariam orientados para acionar as forças de segurança.

Cobrança
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Anápolis (Acia), Anastacios Apostolos Dagios, frisou que a segurança pública é uma das grandes preocupações da entidade, pois afeta as pessoas e também os negócios. A Acia hoje está à frente da reforma do 28º BPM e, no passado, foi a responsável pela obra do 4º BPM.

Anastacios mostrou um gráfico que revela que Anápolis tem hoje uma taxa de 63 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes, um índice que ultrapassa o país mais violento do mundo, Honduras, que segundo a ONU tem tacha de 60 mortes violentas para cada grupo de 100 mil. “Ao ver os números do Estado, a gente tem a percepção que enquanto em outras cidades a violência está caindo, aqui estamos enfrentando índices de guerra civil”, frisou o presidente da Acia.

Diante da explanação do coronel Giovanni Valente, de que Anápolis precisa pressionar o governo estadual para deixar de ser dependente de Goiânia, Anastacios afirmou que a Acia vai agir, construindo uma “Carta por Anápolis” específica para a área da segurança. O documento será entregue ao governador Marconi Perillo (PSDB), que a partir disso receberá cobrança constante para cumprimento das demandas.

Presenças
A reunião na Acia também teve as presenças do juiz Carlos Limongi, da Vara da Infância e Juventude; do delegado geral Fábio Vilela; do presidente do Conselho da Comunidade na Execução Penal, Gilmar Alves; do presidente da OAB Anápolis, Ronivan Peixoto de Morais Júnior; do procurador-geral do Município, Antônio Heli de Oliveira; e do subcomandante do 3º CRPM, tenente-coronel Paulo Roberto.

Governo
Ao coordenar na quinta-feira (11), uma reunião da força-tarefa do Programa Goiás Mais Competitivo e Inovador (GMCI), o governador Marconi Perillo afirmou que, ainda neste ano, mais 4,4 mil operadores de Segurança Pública estarão nas ruas. Eles foram aprovados no último concurso da Polícia, e serão convocados a partir de agosto. São 2,5 mil policiais militares, 500 policiais civis, 300 bombeiros e 1,1 mil agentes prisionais.

Na reunião, o governador, o secretário de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, e o secretário de Gestão e Planejamento, Joaquim Mesquita, reiteraram esforços para que em setembro seja lançado o edital do novo concurso público para contratação de 2 mil policiais militares. Somados o contingente dos que serão convocados e o que advirá do novo concurso, até o próximo ano serão mais 6,4 mil operadores de Segurança Pública em ação no Estado de Goiás.

Marconi e os secretários também discutiram o andamento de outras demandas da área, como a redução da taxa de homicídios, reestruturação do Sistema Penitenciário, e obras em curso do Sistema Prisional em algumas cidades, como Águas Lindas de Goiás, Anápolis, Formosa, Novo Gama, Planaltina e Jataí. O governador informou que acatou recomendação do Ministério Público para criação de uma Secretaria de Administração Penitenciária, e já encaminhou para a Casa Civil determinação das medidas necessárias.

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