P(r)esos e medidas | por João Aquino Batista

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Uma das características da militância política é a irracionalidade, pois, as paixões falam muito mais alto do que qualquer evidência. A criminalização da atividade política gerou casos curiosos de amor e ódio para com a política e, sobretudo, para com os políticos, visto que eles são os seres concretos que a praticam. Respeitados e até idolatrados em alguns momentos da história brasileira, atualmente, o que pode render alguns votos é exatamente a negação de que se é político, mesmo que para se candidatar seja obrigatório se estar filiado a algum partido… político. Então, esse oportunismo é sinal de desonestidade para com o cidadão, tanto quanto qualquer outra desonestidade.

Depois da divagação, vamos ao que interessa. A operação Lava Jato já foi comparada com a operação deflagrada na Itália, inicialmente com o nome de Caso Tangentopoli (aproximadamente, em português: cidade da propina), que depois recebeu seu nome mais conhecido: Mãos Limpas (mani pulite, em italiano). Os trabalhos de investigação, na Itália, duraram de 1992 a 1996.

A reminiscência fica por aí, pois, o que importa é outra questão de fundo, que também começa a dar sinais na operação Lava Jato: o envolvimento da sociedade italiana era tão profundo e arraigado, que se chegou a um ponto em que não interessava mais a nenhum setor da sociedade que as investigações continuassem. Por quê?

Assim como na sociedade italiana ou talvez em qualquer sociedade humana, a corrupção no Brasil não é privilégio dos políticos e de líderes da sociedade civil. Se as caixas-pretas do Executivo, do Judiciário e do Legislativo; das entidades empresariais e de trabalhadores; de igrejas; dos médicos, dos advogados e até dos picolezeiros, forem abertas, descobriremos que talvez a relação entre presos e libertos no Brasil possa mudar tão radicalmente, que o melhor seria manter os honestos num isolamento asséptico e deixar solta a fedentina social a continuar sua trajetória de hipocrisia e falta de pudor para com as necessidades básicas do ser humano.

Não vai aqui nenhum vapor moralista ou puritano. Tanto quanto você, seu amigo ou parente, eu também preciso sobreviver numa sociedade capitalista, que valoriza muito o ter em detrimento do ser. Por isso, tenho que fazer algo, trabalhar em algum lugar e para alguém que, nem sempre, poderia ser apontado como um modelo de honestidade. Isso não é resignação, é fato, é a realidade.

Ocorre que, voltando à operação Lava Jato, quando alguém das minhas relações pessoais ou políticas é citado em alguma delação premiada, então é tudo mentira e ilações maldosas, pois, suas doações de campanha foram feitas todas dentro da legislação vigente, de forma legal e aprovadas pelos órgãos de controle e fiscalização e quejandos. Você já deve ter ouvido isso tantas vezes que sabe repetir cada palavra do discurso que um político ou partido, citado numa delação premiada ou em depoimentos de operadores, irá fazer nessa situação.

Por outro lado, quando um desafeto, inimigo, opositor, adversário, ou seja lá o que for, é citado, então nem precisa de provas: é tudo verdade. Ele é corrupto, ladrão, vagabundo e merece ser cassado (se fosse o caso) e preso imediatamente, sem direito a fiança, nem prisão domiciliar ou e muito menos tornozeleira. Se houvesse pena de morte no Brasil, então seria caso de fuzilamento ou injeção letal.

O que eu quero dizer com isso? Que a operação Lava Jato tem que acabar e que todos se locupletem? Não. Quero dizer que deixemos de mentir para nós mesmos e olhemos em nossa volta para vermos a podridão com a qual compactuamos todos os dias. Essa atitude passiva, tola, desinformada, desinteressada e indiferente para com a vida política do nosso município, do nosso estado e do nosso Brasil, gera a situação caótica de pesos e medidas diferentes para as pequenas e grandes corrupções, como se, no fundo, elas não fossem iguais e provocassem os mesmos males.

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