Silêncio (in)cômodo | por Marcos Vieira

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Não há nada mais democrático no Brasil do que a corrupção. Os grandes partidos do país estão envolvidos até o pescoço em denúncias de propina pagas por empreiteiras, que por sua vez são recompensadas com contratos públicos milionários. As siglas nanicas também chafurdam na lama e algumas foram criadas especialmente para isso, serem quadrilhas e garantir poder ao presidente e seu grupinho.

Em meio a tanta denúncia e promessas de que as coisas vão mudar e que o Brasil será passado a limpo, é hora dos políticos locais, aqueles que são os primeiros a nos pedir o voto em qualquer eleição, tomarem uma atitude mais enérgica em relação aos graúdos de Brasília que sujam o nome de toda a classe. As bases precisam começar a gritar, sob pena de ser colocada no mesmo balaio dos foras da lei.

Deveria ser inaceitável para um presidente de um diretório municipal ter no partido um deputado federal que foi flagrado na rua, com uma mala de dinheiro fruto de propina. Por que gente honesta da cidade, que milita na vida pública, não se revolta contra os grandes ladrões que são seus “colegas” de agremiação partidária? Por que não escrevem uma carta, publicam uma mensagem no Facebook ou, de maneira mais efetiva, não abrem um processo pedindo a expulsão do político famoso que saqueia os cofres públicos?

Coisa estranha é a política. Na época da campanha o candidato corre para gravar vídeos de apoio das estrelas do partido, mesmo que o sujeito esteja do outro lado do Brasil. Depois, se o cara apronta alguma, não se fala mais nisso. E o povo fica sem saber se o representante da cidade é a favor ou contra o que é mostrado na imprensa. Em uma época em que as pessoas se posicionam sobre tudo, falta aos políticos honestos a coragem de se negarem a dividir a mesma sigla com quem rouba e causa prejuízos ao País.

O representante político mais próximo do povo, o vereador, é o que mais sente os efeitos da má vontade da população com a política. Deveria então ser o primeiro a se levantar contra os corruptos de seu partido que estão em Brasília, em cargos nacionais. Independentemente de sigla, basta procurar que o vereador vai encontrar um “colega nacional” que merece ser repudiado pelo bem da ética e transparência na vida pública.

Porque é hipócrita o sujeito achar que não é com ele, simplesmente porque os ladrões estão em uma alçada acima. Seja vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador ou presidente da República, se escolheu se candidatar, e foi eleito, é preciso demonstrar publicamente em todos os momentos que não tolera bandidagem.

Como a Justiça é lenta, o expurgo de parte dos maus políticos vai ocorrer através do voto, no próximo ano. Seria uma boa se o vereador apoiasse e fosse ao bairro pedir voto apenas para os candidatos honestos. Seria o melhor dos mundos se ele orientasse o seu eleitor a não votar em corruptos que estão concorrendo com o salvo conduto de uma condenação de primeira instância, mesmo que ele seja do seu partido. Quem sabe…

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