Número de transplantes de órgãos é baixo em Anápolis
Em 2016, durante todo o ano, o Huana só conseguiu três doadores. A cada 200 mortes, apenas uma família autoriza retirada de órgãos
ANA CLARA ITAGIBA
A campanha Setembro Verde foi criada com o objetivo de mostrar para a população a importância do transplante de órgãos, pois infelizmente, o índice de doações é muito baixo, se for considerado grande número de potenciais doadores. O Hospital de Urgência de Anápolis Dr. Henrique Santillo (Huana) está em primeiro lugar no ranking dos hospitais que mais doam córneas em Goiás. Em contrapartida, no ano passado, a cada 200 mortes da unidade, aconteceu somente uma doação. Em 2016, a média foi de 50 óbitos por mês, mas só três famílias de pacientes permitiram a doação durante o ano todo.
O tema é bastante delicado, tendo em vista que existe uma série de fatores que podem impedir uma doação. A supervisora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (Cidot) do Huana, Vanessa Siqueira Lopes, diz que uma das principais dificuldades é o preconceito ou falta de informação de muitas famílias, que muitas vezes acreditam no tráfico de órgãos. “Eles não conseguem entender que não existe isso, que é um procedimento seguro. A equipe do hospital, juntamente com o Cidot, informa todo o trâmite para a família”. Outra questão que dificulta é a liberação do corpo, que pode demorar de 12 a 18 horas, depois que a família autoriza a doação.
Segundo Vanessa, o índice de protocolos negados é altíssimo. “Nós abrimos três protocolos, mas todos são negados e acaba que não temos ninguém. É mais ou menos 100% por mês, por isso nós temos que conscientizar e trabalhar muito para as pessoas entenderem como isso pode mudar uma vida”, conta.
E de fato muda. Quando constata a morte encefálica, o indivíduo pode ajudar até sete pessoas a ter uma nova chance. Já os pacientes que vieram a óbito por conta de uma parada respiratória podem fazer a doação de córnea para uma pessoa. Mas, de acordo com Vanessa, apesar de serem mais comuns que a doação de órgão, a doação de córnea pode ser mais frequente do que é atualmente.
Treinamento
O Cidot é uma equipe responsável pela abertura e fechamento de protocolos de morte encefálica no Huana. Eles contam com o apoio de uma equipe de Goiânia, para dar a notícia para a família e acompanhar todo o processo.
Para chegar ao diagnóstico preciso de morte encefálica, é necessário passar por dois exames clínicos e um de imagem para constatar que não há mais fluxo de sangue no cérebro. Quando todos dão positivo, o protocolo é fechado. “Existe um período de seis em seis horas para realizar esses exames. Quando vai acontecer a abertura desses protocolos, o médico e a psicologia informam a família da abertura do processo, falando tudo que vai acontecer com o paciente. A partir de então, notificamos a Central de Transplante em Goiânia e a equipe vem para Anápolis para estar acompanhando essa abertura e o fechamento do protocolo”, explica.
Até o momento, só a equipe de Goiânia pode acompanhar esse procedimento junto com a família porque a equipe de Anápolis ainda não tem o curso que é exigido. Mas, para facilitar e evitar o deslocamento da capital para Anápolis, as pessoas que trabalham no Cidot do Huana estarão recebendo todo o treinamento para lidar com o processo e com as famílias já nas próximas semanas.
Desmistificação
No passado as famílias precisavam arcar com o transporte, mas hoje a doação de órgãos é totalmente gratuita. Além disso, os protolocos que são abertos assim que se é constato óbito, garante aos parentes que todo o procedimento será feito com total segurança.
“Assim que recebemos a autorização da família, os órgãos são levados para a Central de Transplante de Goiânia ou de São Paulo, já com o doador definido. É tudo bem burocrático e transparente para a família. Por isso temos que cumprir vários itens para dar certo. Se algum item for desviado, o protocolo é fechado e devemos começar tudo de novo. Então é tudo muito seguro”, garante a supervisora do Cidot, Vanessa Siqueira Lopes.
SAIBA MAIS
O que é doação de órgãos?
A doação de órgãos ou de tecidos é um ato pelo qual manifestamos a vontade de doar uma ou mais partes do nosso corpo para ajudar no tratamento de outras pessoas.
A doação pode ser de órgãos (rim, fígado, coração, pâncreas e pulmão) ou de tecidos (córnea, pele, ossos, válvulas cardíacas, cartilagem, medula óssea e sangue de cordão umbilical). A doação de órgãos como o rim, parte do fígado e da medula óssea pode ser feita em vida.
A doação de órgãos de pessoas falecidas somente acontecerá após a confirmação do diagnóstico de morte encefálica. Geralmente, são pessoas que sofreram um acidente que provocou traumatismo craniano (acidente com carro, moto, quedas etc.) ou sofreram acidente vascular cerebral (derrame) e evoluíram para morte encefálica.
Por que doar?
Doar órgãos é um ato de amor e solidariedade. O transplante pode salvar vidas, no caso de órgãos vitais como o coração, ou devolver a qualidade de vida, quando o órgão transplantado não é vital, como os rins. Além disso, estrutura a saúde física e psicológica de toda a família envolvida com o paciente transplantado.
Quem não pode ser um doador?
Não existe restrição absoluta à doação de órgãos, mas a doação pressupõe alguns critérios mínimos como causa da morte, doenças infecciosas ativas, dentre outros. Também não poderão ser doadoras as pessoas que não possuem documentação, ou menores de 18 anos sem a autorização dos responsáveis.
Quero ser doador. A minha religião permite?
Todas as religiões deixam a critério dos seus seguidores a decisão de serem ou não doadores.
Têm em comum os princípios da solidariedade e do amor ao próximo que caracterizam o ato de doar. Elas deixam a critério dos seus seguidores a decisão de serem ou não doadores.
Para quem vão os órgãos doados?
Os órgãos doados vãos para pacientes que necessitam de um transplante e já estão aguardando em uma lista de espera única. A compatibilidade entre doador e receptores é determinada por exames laboratoriais e a posição em lista é determinada com base em critérios como tempo de espera e urgência do procedimento.
O que é o Sistema de Lista Única?
O Sistema de Lista Única é constituído pelo conjunto de potenciais receptores brasileiros, natos ou naturalizados, ou estrangeiros residentes no país inscritos para o recebimento de cada tipo de órgão, tecido, célula ou parte do corpo. É regulado por um conjunto de critérios específicos para a distribuição destas partes aos potenciais receptores, assim constituindo o Cadastro Técnico Único (CTU).
Fonte: Ministério da Saúde