Embates no plenário entre os vereadores de Anápolis antecipam eleição 2018
Nas sessões ordinárias desta semana ficou evidente que eleições já começam a influenciar no posicionamento dos parlamentares
FERNANDA MORAIS
A um ano da eleição, os embates políticos e os temas que estarão em evidência na campanha de 2018 já começam a aflorar nas sessões da Câmara Municipal. Nesta última semana, os vereadores da base do prefeito Roberto Naves (PTB) usaram um tom mais ácido e foram bem diretos ao pedir que colegas sejam coerentes em seus pronunciamentos, principalmente aqueles que em lançamento de obras e outros eventos acabam capitalizando como membros da base.
O ápice foi na sessão de quarta-feira (4), quando o vereador Pastor Elias Ferreira (PSDB) criticou a demora na conclusão das obras de reforma e ampliação da unidade de saúde do Bairro de Lourdes. Mesmo sem atribuir responsabilidades ao Executivo municipal, o tucano disse que o serviço no local começou no dia 11 de março com previsão de entrega para 9 de julho. O investimento para melhorias no prédio, de acordo com o vereador, é de R$ 106.640,07.
“Já fiz quatro visitas no local e confirmei as reclamações dos usuários. O piso está mal feito e o telhado da nova sala precisará ser refeito. Os consultórios estão funcionando em um prédio ao lado, onde antes estava o Peti [Programa de Erradicação do Trabalho Infantil]. Por isso a Vigilância Sanitária proibiu a distribuição de medicamentos no local improvisado, porque é preciso seguir algumas normas para a entrega de remédios”, comentou.
Continuando seu discurso, Pastor Elias reforçou: “não quero culpar a Secretaria Municipal de Saúde, mas precisamos fiscalizar para evitar desperdício de dinheiro público”. E completou: “Quem quiser comprovar o que estou dizendo, pode ir lá para ver”.
Ao finalizar seu pronunciamento, Pastor Elias foi duramente criticado por sua postura como presidente do PSDB municipal, partido que atualmente está na base de sustentação do prefeito Roberto. O primeiro vereador a questioná-lo foi o vereador Domingos Paula (PV).
“Moro praticamente em frente a unidade de saúde do Bairro de Lourdes. A obra está acontecendo. O vereador está certo, tem que fiscalizar mesmo”, afirmou Domingos, que continuou: “o que me deixa triste é a forma de fiscalização do famoso fogo amigo”. Para Domingos, ajudar a resolver os problemas da cidade não é procurar defeitos para filmar e postar nas redes sociais, tão pouco vir para tribuna do plenário e partir para o ataque a administração.
Ainda de acordo com Domingos Paula, é preciso ficar bem claro quem está na base aliada da gestão municipal e quem não está. “Porque tem vereador que se diz da base, mas ataca mais do que oposição”, enfatizou o vereador do PV.
Do mesmo partido do prefeito Roberto Naves, o vereador Leandro Ribeiro também criticou o discurso de Elias. “Esse atraso não vai prejudicar a conclusão das obras. Mas cadê o centro de convenções, o aeroporto de cargas, o anel viário, a Plataforma Logística Multimodal que o governo estadual prometeu para Anápolis há mais de 20 anos? Muitas dessas promessas viraram elefante branco na cidade”, afirmou o petebista, também fazendo alusão ao fato de Pastor Elias ser do mesmo partido que o governador Marconi Perillo.
“Tem vereador aqui que não foi, não é e nunca será da base aliada e a administração precisa ver isso”, colocou o petebista Jean Carlos, que evidenciou ainda que o governo do estado tem demandas reprimidas na cidade citando a situação do novo presídio que, segundo o parlamentar, foi ocupado e destruído por presos de outra comarca antes mesmo de ficar pronto, em mais uma referência a decisões administrativas do PSDB de Marconi Perillo.
Por fim foi a vez do líder do prefeito Roberto Naves na Câmara Municipal, Jakson Charles (PSB), defender seu posicionamento sobre o pronunciamento de Pastor Elias. “Agradeço ao vereador por apontar os equívocos, de forma especial, os pontos falhos da saúde municipal, mas quando usamos a tribuna temos que ser macho para falar dos dois lados. Hoje o IML caiu o telhado, o prédio está em situação precária e a responsabilidade é do governo estadual”, relatou.
Jakson Charles também citou as fugas de presos que aconteceram ao longo da semana no Centro de Inserção Social de Anápolis (CIS), e o caso de uma criança que aguarda na Santa Casa de Misericórdia uma vaga de UTI para ser transferida para Goiânia. “Cria vergonha, vai visitar o presídio. Falta competência e passa a inoperância do governo de Goiás que é do PSDB que o vereador é presidente em Anápolis”, esbravejou Charles.
O vereador disse ainda que já vê o PSDB, às vésperas das eleições, perder o apoio do PTB. “Não vejo a hora de isso acontecer. Do PSB já perdeu por falta de companheirismo. O governador tinha que cuidar das suas bases nos municípios, e olha que historicamente o PTB sempre esteve ao seu lado como aliado, e se isso acontecer, vai ser muito bom para oposição”, pontuou o líder do prefeito.
Mauro Severiano ainda tentou apaziguar a situação. Segundo ele, como líder do PSDB na Câmara Municipal, é o único que está autorizado a falar pelo partido na Casa. O tucano afirmou que respeita o posicionamento e a liberdade que Pastor Elias tem ao utilizar a tribuna do plenário, porém, Mauro Severiano deixou claro que “o PSDB ocupa duas secretarias na gestão de Roberto Naves e tem um pacto de ajudar o prefeito a administrar a cidade”. “Falo isso em meu nome e em nome do colega Américo. Não tem racha no PSDB, falo em nome do partido e repito que nós apoiamos o Roberto”, concluiu.
Após ver a repercussão que seu pronunciamento provocou na base do prefeito na Casa, o vereador Pastor Elias disse em entrevista coletiva que apesar do PSDB estar ao lado de Roberto Naves, não significa que ele não pode cumprir com sua função de agente fiscalizador.