Presídio-problema | por Marcos Vieira
Já falei sobre isso há alguns anos: a cadeia de Anápolis é palco de fugas de desenho animado. Pular o muro para ganhar a liberdade é coisa que deveria acontecer só no Pica Pau, enquanto é vigiado pelo Zeca Urubu.
Porque pular o muro é muito óbvio, portanto deveria ser o lugar mais vigiado em um presídio. É aí que reside o problema por aqui: não há gente para fazer essa vigilância. Temos a Polícia Militar colaborando em um trabalho que não consta entre suas atribuições e alguns poucos agentes prisionais que atuam arriscando a própria vida, pois são geralmente sete profissionais ante cerca de 700 detentos. Em dia de visita, o contingente chega a mais de 2 mil pessoas. Como manter o controle?
Parece óbvio até mesmo para os mais leigos que qualquer plano de segurança pública deveria começar com presídios seguros e em condições de ressocializar condenados ou, levando em conta outra vertente, permitir que ele pague pelo crime que cometeu absolutamente como manda a lei. Quando chegasse nesta fase, de o sujeito que transgrediu as normas aqui fora ir para uma cadeia, a sociedade deveria se sentir aliviada pelo menos em relação àquela pessoa específica.
No Brasil parece que alguns criminosos são mais perigosos dentro de suas celas do que nas ruas, pois de lá eles conseguem comandar facções inteiras, tráfico de drogas e ainda manter um clima de terror no presídio.
Essa novela do novo presídio em Anápolis envergonha a todos porque nunca tem um desfecho e cada vez mais há a sensação de que os responsáveis não ligam mesmo para as vidas dos cidadãos anapolinos.
A obra começou em 2013. A promessa é que seria concluída em 15 meses. Quando parecia que daria certo, houve aquela emergência na Penitenciária Odenir Guimarães (POG) e Anápolis acabou abrigando por longos meses algumas centenas de presos que vieram de Aparecida de Goiânia.
E como tudo é no improviso mesmo, os presos da POG conseguiram destruir o novo presídio, o que possibilitou uma nova desculpa para que o estabelecimento não começasse a ser usado em favor da segurança pública local: é preciso arrumar verba para consertar o que nem havia sido inaugurado ainda. É um ciclo sem fim.
Como uma obra pode dar tanta dor de cabeça? Ela nunca ajudou a cidade. Pelo contrário, trouxe uma série de problemas com a transferência de presos de Aparecida. Agora, detonada, precisa de dinheiro para ser concluída de fato e, para piorar, ainda exige que dois agentes que deveriam atuar na antiga cadeia tenham que ficar por lá, vigiando o prédio, em um claro desvio de função. Até quando esperar? Até 2018, em ano eleitoral, quando algo realmente acontece?