Tarefa de bombeiro | por Iron Junqueira

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O Dr. Antônio Filomeno era um FENÔMENO.

Trabalhava num bairro de Brasília na condição de médico residente quando, alta hora da noite, a enfermeira foi acordá-lo:

–– Doutor, acorde! Acorde!

O médico assenta-se na cama, esfrega os olhos, calça os sapatos, pega a valise e é convidado a entrar numa ambulância que o leva até a um edifício de 10 andares; no sexto, uma mulher, aflita, tentava o suicídio, pretendendo saltar de lá.

–– Não é tarefa pra bombeiro? Indagou o Dr. Filomeno, olhando pra cima.

–– Bombeiro apaga fogo, Dr. Não nervosismo de mulher…

–– É… –– e foi até lá, rompendo a longa escadaria espiral, e o fazia com a sua calma habitual, passos firmes e valise na mão.

Chegou ao sexto andar e adentrou o apartamento. À direita, um senhor de meia idade sentado numa poltrona e, na janela, a mulher de pé no peitoril, ameaçando o salto:

–– Eu quero morrer! Ninguém tente me salvar! Vou me atirar daqui! Adeus munnnndo!

O Dr. Antônio Filomeno foi incisivo com ela, tudo fazendo a fim de evitar o pior:

–– Minha senhora, por favor, tenha calma! Vamos conversar.

–– Não, não e não!!! Vá pra lá! –– e o empurrava com o pé.

–– Desça daí. Insistia o Dr. Filó –– A senhora pode cair e se machucar muito!…

–– Não! Berrava a pobre mulher –– Eu quero é morrer! Morrer entendeu? Apagar mesmo! Escafeder-me sacou? Vamos, retire-se daqui!

Confuso agora, meio assustado, o Dr. Filomeno resolveu pedir ajuda ao homem que estava sentado na poltrona, ali mesmo, naquela sala:

–– Êi, distinto? Por favor, distinto? Cutucou o homem pelo ombro e notou que o distinto estava extinto.

–– Uái! Exclamou o médico –– o homem está morto! E correu até à janela a fim de dar a notícia à mulher:

–– Dona! Dona! Escute aqui, ó: o homem ali está morto!

–– E eu num sei? É meu marido! Por isso que tou querendo suicidar…
Voltou as costas para o médico e continuou, do peitoril da janela, com suas cenas de histerismo:

–– Eu vou saltar! Vou! Quero morrer!

O Dr. Filó olhou pra ela, olhou pra ele, coçou a cabeça, pensou e decidiu: pegou a valise e desceu a escadaria, resmungando:

–– Isso é tarefa pra bombeiro…

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