Ser médico, um desafio compensador | por Luiz Cláudio Resende Gonçalves
Sempre brinco que não escolhi a medicina, ela me escolheu. Desde a infância, mesmo inconscientemente eu tinha um desejo de cuidar das pessoas, isso era muito natural, então todos os caminhos me levaram a essa profissão.
Passados 22 anos de atuação, eu reflito sobre o papel do médico na sociedade atual. A medicina mudou muito. Quando iniciei, o contato humano era muito maior, talvez hoje o maior desafio seja na prática médica.
Na saúde pública, lidamos com as dificuldades operacionais do próprio serviço, que muitas vezes é limitado por questões como a infraestrutura. Já no serviço privado, a dificuldade é lidar com as exigências dos planos de saúde e seguradoras. Seja no serviço público ou privado, sempre existirá um intermediário entre o médico e o paciente, provocando limitações e dificuldades na execução do trabalho.
O relacionamento médico paciente também tem sido um grande desafio. Tenho observado nos últimos tempos que o nível de stress tanto do médico, como do paciente tem aumentado muito. Lidamos hoje com pessoas que não têm só doenças objetivas, e sim uma gama enorme de doenças subjetivas, que associadas a um excesso de trabalho e carga horária dos profissionais geram muitos desgastes nesse relacionamento tão delicado e precioso.
Temos uma incidência muito alta de médicos com síndrome de Burnout (que é o estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes) e depressão.
Isso é muito complicado, portanto, o nosso maior desafio é enfrentar sem adoecer, as mazelas humanas, muitas vezes subjetivas. É preciso que haja uma qualificação profissional, mas também emocional, sentimental, psicológica para ter forças e estrutura mental suficiente para aguentar o dia a dia que é muito estressante.
Embora existam todos esses desafios, o médico tem um papel muito importante: de ser agente de transformação social. É muito bonito dentro da profissão escolhida poder assistir, curar e diminuir a dor das pessoas. Por si só essa função gera uma sociedade melhor e mais saudável. Também podemos atuar em posturas básicas, junto a órgãos municipais e instituições visando uma política de saúde para a população como um todo.
O exercício vocacionado da medicina, ao mesmo tempo em que é extremamente cansativo, é muito recompensador. A quem escolheu por vocação a medicina, eu não garanto uma sensação de descanso, de fato, essa pessoa será muito cansada no dia a dia, pelo trabalho exaustivo, mas posso assegurar a vivência de momentos muito intensos de recompensa pessoal, apesar de todas as dificuldades inerentes ao exercício da medicina.
Feliz Dia do Médico.
Luiz Cláudio Resende Gonçalves é médico formado pela Universidade Federal de Goiás, com residência em urologia pelo Hospital do Servidor Público Estadual Francisco Morato, em São Paulo. Atuou como diretor Clínico do Hospital de Urgências de Anápolis por 11 anos e atualmente é diretor do Ânima Centro Hospitalar.