Jardim Esperança em Anápolis quer deixar de ser ‘terra de ninguém’

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Audiência pública evidencia problema levantado por setor de Anápolis que ainda precisa ser regularizado

MARCOS VIEIRA

O dia e o horário – segunda-feira, às 9h – não ajudaram para que um público maior comparecesse à audiência pública proposta pelo vereador Pastor Elias Ferreira (PSDB), mas aqueles que falaram no microfone naquela manhã levantaram uma série de problemas enfrentados por pelo menos 14 mil habitantes (números não oficiais) do Jardim Esperança, um setor esquecido de Anápolis.

O Esperança fica às margens da GO-330, depois da montadora Hyundai, uma das jóias do Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia). Tem asfalto, energia elétrica, muitas e muitas casas e diversos estabelecimentos comerciais, mas falta posto de saúde e escola, para ficar apenas no binômio básico daquilo que a Constituição Federal assegura a todo brasileiro.

É ainda mais impressionante, do ponto de vista negativo, a situação do Daiana, setor que fica depois do Jardim Esperança e que enfrenta o impasse de não saber se pertence a Anápolis ou Gameleira de Goiás.

O deputado estadual Daniel Messac (PSDB) foi preciso no seu comentário na audiência pública. Disse que se existisse uma grande empresa na região, as prefeituras estariam disputando o território, mas como só há moradores, vive-se essa situação de “terra de ninguém”.

Messac prometeu por fim ao conflito através de um projeto de lei que definiria os limites dos municípios. O deputado discursou que estava ali para transformar em proposta concreta o desejo da população.

Embora as autoridades presentes não tenham tocado no assunto, há uma lei do deputado Carlos Antonio (PSDB) parada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa desde 2011, que trata justamente das divisas de Anápolis.

O projeto de lei nº 1.270/11 altera a lei estadual nº 13.135 que, por sua vez, dispõe sobre a criação do município de Gameleira de Goiás. A proposta se baseia na resolução nº 007/2008, da Câmara Municipal de Anápolis, e na resolução nº 003/2007, da Câmara Municipal de Gameleira de Goiás, que versam sobre a demarcação territorial dos dois municípios.

Segundo informou o parlamentar na época, o objetivo seria solucionar os conflitos existentes entre os municípios de Gameleira de Goiás, Anápolis, Silvânia e Leopoldo de Bulhões, no que se refere à demarcação irregular de seus limites. Se a proposta for aprovada, a medição das fronteiras entre esses municípios deverá ser feito com o auxílio de um GPS, aparelho de posicionamento global de alta precisão.

Para se tornar lei, a matéria precisa do aval das comissões da Assembleia Legislativa, ser votada e aprovada em dois turnos em plenário e, posteriormente, receber a sanção do governador.

Segurança
Voltando para a audiência no Jardim Esperança, o comerciante Tiago Santos, dono de uma farmácia no setor, disse que a população local está cansada de ser tratada como curral eleitoral. Ele reclamou da falta de limpeza pública, de sinalização de trânsito nas ruas e da violência.

Sobre a insegurança, o pastor Gelton Gomes Santana, da Igreja Assembleia de Deus Madureira, que emprestou seu espaço para a audiência pública, fez uma fala contundente sobre o dia a dia do Jardim Esperança. Ele frisou que o tráfico de drogas acontece à luz do dia, bem como assaltos e homicídios.

Representante do comando do 4º BPM, o tenente Wender Tas Chagas informou que a região no qual o Jardim Esperança faz parte é atendida por duas viaturas, mas há a possibilidade de que esse contingente seja possivelmente dobrado nos próximos meses, quando os 185 soldados alunos que estão em Anápolis comecem suas atividades nas ruas.

O policial confirmou que a raiz do problema, assim como em toda a cidade, é o tráfico de drogas, que acaba impulsionando o número de homicídios. “Mas estamos trabalhando e conseguimos reduzir em 40% os roubos na região sul”, destacou. O tenente frisou ainda que mesmo com o conflito de divisa, especificamente do Residencial Daiana, a PM não deixará de atender as ocorrências da população.

Saúde
O presidente da Associação de Moradores do Jardim Esperança, Carlos Antônio, reclamou especificamente da falta de assistência à saúde. Segundo ele, há apenas a unidade do Munir Calixto, criada para atender apenas aquele bairro, e que hoje recebe gente de uma grande região. “Não há vaga, não há atendimento para todo mundo. As mulheres chegam de madrugada para marcar uma consulta, correndo risco de serem assaltadas ou de estupradas”, denunciou.

Carlos Antônio relacionou uma série de bairros da região que precisam de assistência à saúde: Jardim Esperança, Nova Aliança, Cidade Industrial, Nova Esperança, com 300 casas, mais 600 residências que serão inauguradas no Girassol. “Estamos sendo esquecidos. Agora que o Pastor Elias pegou essa bandeira, esperamos que os problemas sejam resolvidos”.

A representante da Secretaria Municipal de Saúde, Virginia Alves Silva, que é coordenadora de Atenção Básica, explicou aos moradores o papel das unidades na região, ressaltou que Anápolis atende pacientes do Residencial Daiana, mesmo existindo o conflito de divisa, e disse que há um trabalho sendo feito pela administração municipal para ampliar a cobertura. Também esteve na audiência e prestou esclarecimentos à população, o diretor de Regulação da Secretaria Municipal de Saúde, Edilson Marçal de Souza.

Objetivos
O propositor da audiência, vereador Pastor Elias Ferreira (PSDB) realizou o evento após uma visita ao Residencial Daiana, que sofre ainda mais com o conflito da divisa, e de conversas com moradores do Jardim Esperança, que também são prejudicados com a situação. “É o chamado ‘nem’: não estão nem de lá, nem de cá”, frisou.

O vereador de Silvânia Cleber França disse que estava na audiência para ouvir a população e cumprir seu papel como agente público, de resolver a situação. Prometeu apresentar a demanda na sua cidade e, caso preciso, realizar uma audiência pública.

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