Transparência é primordial em campanhas de caridade, afirmam colaboradores
Suspeita de desonestidade de casal em Joinville (SC) atrapalha quem se dedica a ajudar o próximo
ANA CLARA ITAGIBA
Um caso de desonestidade em uma campanha de arrecadação de dinheiro para o tratamento de um bebê que possui uma doença degenerativa rara em Joinville (SC), virou polêmica em todo o país após ser alvo de investigação do Ministério Público. A suspeita foi levantada após doadores da campanha “AME Jonatas”, verem que os pais da criança ostentavam viagens e artigos de luxo, como um carro de R$ 140 mil, nas mídias sociais. Renato e Aline Openkoski, pais do menino, tiveram suas contas bloqueadas na última semana pela Justiça de Santa Catarina, até que as investigações sejam concluídas.
Infelizmente, histórias como essas fazem com muitas pessoas desacreditem nesse tipo de trabalho. Uma das criadoras do grupo Corrente do Bem, a advogada Carolina Piloni, afirma que infelizmente, casos assim não são tão raros como se imagina. O projeto que ela participa promove ações para arrecadar dinheiro e doações para pessoas que precisam de algum tipo de amparo, e ao longo dos quatro anos de existência, várias denúncias foram feitas de pessoas desonestas que queriam tirar vantagem de alguma forma em cima sensibilidade do próximo. “Isso atrapalha sobremaneira as campanhas que dignamos a fazer. No entanto isso não nos deixa desanimados para continuar”, afirma.
Para tentar driblar esses inconvenientes a advogada conta que o grupo se preocupa em dar um feedback para as pessoas que doaram o seu tempo, bem como bens materiais. “Essa questão de dar satisfação, para nós da Corrente, é de extrema importância, pois acreditamos que com essa transparência adquirimos mais credibilidade em nossas ações”, garantiu.
Karine Martins é mãe do pequeno Davi, que nasceu com uma cardiopatia congênita rara. Ela promove ações para bancar o tratamento do filho há três anos e concorda que a transparência é a melhor forma de garantir a integridade de uma campanha beneficente. “Aquilo foi desprezível. É realmente um crime. Por isso eu acho que as pessoas devem conhecer, ver a família, ver do que realmente estão precisando e o que está acontecendo. Devemos ser literalmente um livro aberto. Eu sempre me coloco a disposição das pessoas que quiserem me ajudar. Já recebi muitas visitas em minha casa e recebo quem quiser conhecer a nossa realidade”, afirmou.
Além da transparência, o grupo Corrente do Bem busca seguir alguns critérios antes de ajudar alguém. Ao receberem o pedido realizam uma visita, atestam a veracidade da necessidade do próximo e se reúnem para ajudar no que for preciso. Quando o caso é grave e há a necessidade de doações mais volumosas, realizam campanhas maiores a fim de atingir um número maior de pessoas. “Se for um problema social, providenciamos tudo que a família necessita e com isso orientamos a inscrever nos programas sociais e até a conseguir emprego”, explicou a integrante da Corrente do Bem.
Apesar da divulgação de casos de desonestidades em campanha de arrecadação, Caroline e Karine afirmam que as pessoas precisam continuar acreditando em ações que promovem o bem do próximo, já que muitos dependem de auxílio da comunidade para vencer grandes obstáculos na vida. “Acho que como tudo na vida, fazer uma campanha é um desfio muito grande. Eu demorei a entender e aceitar que eu precisava pedir ajuda, talvez por medo do que as pessoas iam pensar. Mas é o que tem ajudado a custear o tratamento do meu filho e esse apoio é fundamental”, assegurou Karine Martins, mãe do Davi.
Corrente do bem
A Corrente do Bem surgiu em 2015, quando 15 amigas se uniram no intuito de promover uma ação solidária mensal destinada a ajudar instituições e pessoas necessitadas. O principal objetivo das ações é atingir o maior número de pessoas possível e assim, conseguir o máximo de doações.
“Já fizemos várias campanhas, entre elas, bazares, ações na época da páscoa, no Natal, para arrecadar materiais escolares, cestas básicas, fraldas geriátricas. Além disso, já proporcionamos lanches em creches e instituições de longa permanência. As pessoas podem nos ajudar com doações. Podemos nos procurar pelas redes sociais”, contou.
Campanha do Davi
Quando Davi Martins tinha apenas sete meses, foi diagnosticado com síndrome de cimitarra, que é uma malformação rara que se caracteriza pela anomalia da drenagem venosa do pulmão direito para a veia cava inferior. Os sintomas envolvem pele roxa em decorrência da ausência de oxigênio, dor no peito, falta de ar, fadiga, tontura, catarro com sangue, pneumonia e insuficiência cardíaca.
“Gastamos o que tínhamos e o que não tínhamos até que o problema fosse descoberto. Desde o primeiro de vida ele tem pneumonia de repetição. Já foram 24 pneumonias”, contou Karine.
Os pais de Davi o levaram para consultar com um pneumologista em Goiânia, que passou vários exames, que eram muito caros, o Sistema Único de Saúde (SUS) não cobria ou se cobria, demorava demais para conseguir. “Era uma corrida contra o tempo, porque a pneumonia era muito forte, ele já tinha passado pela UTI e o médico já não dava chances de vida para ele”, lembra a mãe.
Foi assim que a família começou a promover ações, sempre vendendo algo. Karine já organizou rifas, feijoadas e galinhas beneficentes para bancar os gastos que só cresceram com o decorrer do tempo. Com o diagnostico, os pais de Davi descobriram que precisariam fazer o tratamento em São Paulo, pois não o fazem em Goiás.
“Vamos para São Paulo de três em três meses, mas isso depende muito do diagnóstico. Já fiquei três meses indo todo o mês e voltando. Já tivemos que ficar um pouco mais de quatro meses direto, como foi da última vez. Agora vamos voltar no dia 1º de março e ficaremos um mês porque ele precisa passar por dois exames e duas consultas, para poder avaliar uma possível cirurgia”, explicou.
Ele já passou por três cirurgias no coração, sendo que duas foram cateterismos e por meio de um desses procedimentos, foi colocado um grampo no pulmão direito. O problema é que agora ele está com paralisia diafragmática do lado direito, e por isso há a necessidade de avaliação para realizar outra cirurgia.
Quem quiser contribuir com o tratamento do Davi pode entrar em contato pelo telefone: (62) 9313-4289.