Fake news e o emburrecimento nacional | por Marcos Vieira

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Denunciar uma fake news quando se depara com uma deveria ser uma das obrigações profissionais do jornalista. Nada é mais ultrajante para quem ganha a vida com comunicação social do que essa praga da era moderna, primogênita das redes sociais.

É difícil vencer o ritmo frenético com que mentiras travestidas de notícias são postadas por aí. Bate um desânimo quando você faz parte de um grupo de Whatsapp e vê duas pessoas diferentes repassando as mesmas informações inventadas, às vezes na sequência, mesmo que da primeira vez alguém já tenha informado se tratar de uma fake news.

Nas redes sociais, assim como na vida, ninguém quer ouvir. Todo mundo só pensa em falar, por isso que uma frase sensata se perde em meio a tantas besteiras publicadas em ritmo alucinante. É o emburrecimento nacional a olhos vistos.

A fake news só prospera porque reproduz exatamente o que seu propagador (“repassando”) pensa, mesmo que isso não seja real. Aquele texto que diz que Suzane Von Richthofen vai se filiar ao PT e se candidatar a deputada é de uma maluquice completa, mas muita gente acredita e repassa porque odeia o partido.

É outro mal da atualidade. O completo desinteresse na leitura. A maioria só lê o título da fake news, porque se passasse o olho que seja no texto, conseguiria ao menos desconfiar daquela informação. Mas como vivemos em um país que muitos acreditam que é preciso ampliar as fotos e encurtar os textos porque o povão não lê, ficaremos nessa durante muito tempo.

O pensamento binário do brasileiro ajuda na proliferação de fake news. Porque quando se denuncia uma notícia falsa, o lado “prejudicado” sempre acredita que se trata de uma estratégia dos inimigos para desmerecer o seu candidato, ideologia, time ou padrão de vida preferido.

Estudos mostram que existe uma estrutura bem profissional agindo na internet a favor do presidenciável Jair Bolsonaro. São diversos robôs e perfis falsos ativos para espalhar notícias positivas para ele, proliferar fake news dos adversários e exaltar padrões de pensamento que vão ao encontro da direita radical. Mas quando se questiona isso, ou aponta a fraude, a pessoa é acusada de comunista.

É interessante que as fake news são usadas em grandes causas, como a eleição presidencial, como em disputas locais por uma fatia do mercado. Em Goiânia, uma grande empresa de cursos profissionalizantes não hesitou em colocar perfis inventados proliferando notícias falsas de uma escola pequena, de bairro, para eliminá-la do mercado. Em um dia, com um trabalho bem nocivo em fóruns de debate, o microempreendimento foi tragado pelas fake news.

De todos os propagadores de fake news, o que mais irrita é aquele que mesmo depois de ser informado que aquilo é falso, acha que se trata de algo interessante porque bem que “poderia ser verdade”. O nome disso é má fé.

Não se engane achando que são neófitos que trabalham na criação dessas pragas. Tratam-se de profissionais da comunicação com profundo conhecimento da realidade que pretendem atingir. O que na década passada era chamado de contra-marketing hoje virou mentira pura e simples.

As grandes empresas de comunicação lançaram campanhas interessantes contra as fake news, mas é preciso educar o povo para que ele deixe de postar o que é duvidoso e que aceite a checagem de agências com credibilidade.

E que o jornalismo profissional seja a base quando se busca notícia. O sujeito procura médicos quando está doente, contrata um arquiteto para desenhar a planta da sua casa, mas na hora de consumir informação – um dos bens mais valiosos da atualidade – acredita no grupo do pessoal do futebol ou do boteco. É algo deplorável.

Na esteira dessa caça às fake news, é preciso também difundir a importância da informação aprofundada – que ouve especialistas e diferentes fontes – e que compara dados históricos, deixando o leitor realmente embasado para fazer seu juízo do fato e propagar sua opinião diante do seu círculo de convivência. E que tudo isso resulte em escolhas melhores, desde os políticos que vão nos governar nos próximos quatro anos até a marca do sabão em pó que não agride o meio ambiente.

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