Anápolis se torna base forte na greve dos caminhoneiros
Um dos principais entroncamentos rodoviários do Brasil, Anápolis teve ao longo da semana alta concentração de caminhoneiros em seu perímetro urbano, na BR-153, devido à paralisação geral promovida pela categoria
MARCOS VIEIRA E ANNA FLÁVIA LOPES
Um dos principais entroncamentos rodoviários do Brasil, Anápolis teve alta concentração de caminhoneiros na paralisação geral promovida pela categoria nesta semana. Assim como em outras localidades, o movimento foi ganhando corpo e chamando a atenção da população de um modo geral a partir das consequências no dia a dia com a greve dos motoristas dos veículos de carga.
Anapolinos correram para os postos de combustíveis e o que se viu foram grandes filas em diversos estabelecimentos, que aproveitaram para aumentar os preços. Para evitar qualquer tipo de abuso, o Procon municipal enviou fiscais para conferir in loco os valores nas bombas.
Os protestos dos caminhoneiros em todo o País acontecem em razão do aumento do preço do diesel nas refinarias. Em Goiás, os atos prejudicaram a distribuição de gás, reduziram a frota de ônibus do transporte público em algumas cidades e cancelou voos em Goiânia. Supermercados também sofreram redução de mercadorias nas prateleiras, sobretudo de verduras e frutas.
Em Anápolis, motoristas estacionaram seus caminhões no perímetro urbano da BR-153, no trecho que liga a cidade ao distrito de Interlândia, próximo ao Auto Posto Brasil. Ao longo da semana, a categoria recebeu a ajuda da população, que atendeu o chamado e enviou água e comida para os profissionais acampados.
Ainda na quinta-feira (24.mai), antes de o governo federal anunciar um acordo com a categoria – que acabou não vingando por completo – a reportagem conversou por telefone com o presidente Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Município de Anápolis (Sittra), Adair Rodrigues. Ele confirmou uma adesão grande ao movimento grevista devido à revolta com o alto preço dos combustíveis.
Adair informou que o Sittra participava dos protestos ao lado do Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários de Anápolis e do Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários de Goiânia (Sindicam).
Na manhã de sexta-feira (26.mai) pós anúncio dos ministros do presidente Michel Temer (MDB), de um acordo com os caminhoneiros, pouca coisa havia mudado em Goiás. Havia 54 pontos com veículos parado em rodovias: 23 federais, de acordo com a PRF, e 31 estaduais, conforme dados da Polícia Rodoviária Estadual.
Na tentativa de estancar a crise, o governo federal se comprometeu, entre outros pontos, a zerar a alíquota da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) em 2018 sobre o óleo diesel, reduzir em 10% o valor nas refinarias nos próximos 30 dias e garantir a periodicidade mínima de 30 dias para eventuais reajustes no preço do combustível nas refinarias.
Presente no 20º Fórum de Governadores Brasil Central, em Cuiabá, o governador de Goiás, José Eliton (PSDB), falou sobre o debate em torno da redução da Cide pelo governo federal, como forma de dar resposta à greve dos caminhoneiros. Segundo ele, não se pode “cobrir um santo e descobrir outro”, uma vez que os estados usam a receita da Cide para dar resposta às demandas sociais nas área de educação, saúde e segurança pública, entre outras.
Força
Diante da continuidade dos protestos, o presidente Temer mandou as forças de segurança retirar os bloqueios nas rodovias. Na noite de sexta-feira (25.mai), o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse que 45% das interdições haviam sido desfeitas em rodovias do Brasil – uma queda de 933 para 519 – o que representava uma adesão de parte da categoria ao acordo proposto pelo governo.
Em contrapartida, o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, rechaçou o pronunciamento do presidente Michel Temer e disse que a entidade não se comprometeu a desmobilizar o movimento. A CNTA é a maior entidade que assinou na quinta-feira (24.mai), o acordo entre a categoria e o governo federal.
Ainda de acordo com o governo federal, as Forças Armadas serão usadas em ações de reforço à atuação de forças policiais federais e estaduais para desobstrução de vias durante a paralisação dos caminhoneiros. Entre suas tarefas estarão garantir o acesso de caminhões tanque a refinarias e escoltar comboios.
Militares do Exército, da Marinha e Aeronáutica também atuarão na distribuição de combustível em pontos críticos (como em aeroportos e para órgãos que prestam serviços essenciais), retirada de grevistas de bases de distribuição de combustíveis e proteção de estruturas e edificações relacionadas ao sistema de abastecimento.
Ações
Até a noite de sexta-feira (25.mai), a Advocacia-Geral da União (AGU) havia conseguido 28 decisões judiciais favoráveis à desobstrução de rodovias federais em 14 estados e no Distrito Federal. Os estados eram Acre, Ceará, Sergipe, São Paulo, Paraná, Pará, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Goiás, Santa Catarina, Pernambuco, Paraíba, Rondônia e Rio Grande do Sul.
Mais 12 ações foram ajuizadas e aguardavam uma definição no Maranhão, Amazonas, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso, Tocantins, Mato Grosso Sul, Goiás e São Paulo.
Nas ações, o governo solicita reintegração de posse de rodovias federais que estejam ocupadas e também interditos proibitórios (procedimento processual utilizado para impedir agressões iminentes que ameaçam alguém).
Segundo o governo, as forças de segurança federais para liberar as estradas juntamente com as Forças Armadas são para garantir o abastecimento da população. Para isso, será editada uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), válida até o dia 4 de junho.